Um militante exemplar é aquele que entende que subscrever na íntegra as propostas do partido que milita, embora seja romântico, não é nada democrático.
A preparar a minha visita às urnas – infelizmente uma rotina que quase posso chamar anual – fui consultar o programa eleitoral da AD para a legislatura 2025-2029. Uma das medidas que a coligação PSD-CDS apresenta, inclusive considerando-a “emblemática”, é a proibição dos telemóveis nas escolas até ao 6º ano, bem como a regulação do consumo de redes sociais pelas crianças até aos 12 anos.
A leveza com que se colocou em cima da mesa a possibilidade de o governo controlar ou não o que os mais novos levam para a escola, substituindo-se aos pais, é algo perturbador. Sem deixar de reconhecer o problema que os meios eletrónicos, sobretudo através das redes sociais, têm consubstanciado junto da franja mais jovem da população, parece-me que uma Proibição devia ser considerada uma medida de última ratio.
A sugestão deste penso rápido para uma ferida que nem sequer foi tentada sarar – através da formação, por exemplo, que alertasse os jovens para estes perigos, e os munisse de anticorpos, as estratégias para o uso saudável dos telemóveis – é pouco estratégico.
Não esgotar a aplicação de outras medidas antes de optar pela concretização (aí sim, subsidiária) de uma efetiva proibição é algo que me faz torcer o nariz. A minha sugestão seria até torná-lo um tema para a disciplina de cidadania.
Não basta celebrar o 25 de Abril anualmente, é preciso pensá-lo na construção de políticas públicas, especialmente as relacionadas com a educação. Temos de transmitir aos nossos futuros adultos os alicerces democráticos, ao invés de ensinar a existência de uma proibição para cada correspondente problema.
Normalizar a aplicação de restrições às nossas liberdades, sempre que nos aparecer uma questão social que urja a atuação governamental, faz doer o coração constitucional. Será que devemos banalizá-las mesmo que (desta vez) só se apliquem aos mais novos?
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