Sem Destino, de Imre Kertész, o primeiro e mais lido romance deste autor húngaro laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 2002, publicado por cá originalmente em 2003, foi agora reeditado. A tradução do húngaro é de Ernesto Rodrigues.
Georg Koves tem 15 anos, e vive em Budapeste entre a casa da mãe e do pai divorciados. O jovem começa por nos narrar o dia em que se prepara uma festa (?) de despedida para o pai, que foi convocado para um campo de trabalho, e parte no dia seguinte. Esse momento representa, afinal, a despedida da sua juventude, associada à perda definitiva da inocência. Embora já haja cautela nos mais pequenos gestos, num momento em que os judeus devem sempre fazer-se identificar deixando a estrela amarela bem visível (sucede mesmo haver uma súbita falta de tecido amarelo, dada a procura), pois este jovem tem nítida a noção de que há que ter cuidado até com a forma como o vento pode voltar a lapela do sobretudo e tapar esse distintivo, Georg está prestes a tornar-se definitivamente um adulto – “Há certas coisas em que tenho de começar a pensar já pela minha cabeça.” (p. 8) – e a ser empurrado para um novo mundo de horrores. De facto, poucos meses depois da partida do pai, também ele deixa o liceu – que encerra para férias de Verão em plena Primavera -, e é chamado para trabalhar numa refinaria, com cerca de uma vintena de outros jovens da sua idade. Tudo isto é apenas o prenúncio do drama maior que se avizinha, quando se vê a ser posto num comboio para Auschwitz…

Doutorado em Literatura na UAlg
e Investigador do Centro de Investigação em Artes e Comunicação (CIAC)
Esta é também a história do próprio autor, prisioneiro em Auschwitz em 1944 e, mais tarde, em Buchenwald e Zeitz, até ser libertado em 1945
A história do destino de Georg é a história comum de um rapaz judeu no meio de judeus, em pleno Holocausto. Esta é também, afinal, a história do próprio autor, prisioneiro em Auschwitz em 1944 e, mais tarde, em Buchenwald e Zeitz, até ser libertado em 1945.
Nascido em 1929, em Budapeste, numa família judia, Imre Kertész foi prisioneiro em Auschwitz em 1944 e, mais tarde, em Buchenwald e Zeitz, tendo sido libertado em 1945.

Depois do final da Segunda Guerra Mundial, foi repatriado, e a breve carreira de jornalista em que se lançou terminaria rapidamente. Sem Destino, o seu primeiro romance, tomar-lhe-ia uma década de escrita, iniciada em 1961, e o livro só veria a luz do dia em 1975. Nessa época, dedica-se também à tradução de autores como Nietzsche, Freud e Wittgenstein. Já emigrado em Berlim, na Alemanha, continuou a escrever, a publicar e a traduzir.
É já nos anos 1990 que a sua obra começa a ganhar expressão mundial e a receber prémios e distinções, culminando na atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em 2002. O autor morreria em 2016, na sua cidade natal, Budapeste.
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