Estamos a viver uma vaga de calor e é de prever que continue por algumas semanas, ou intermitentemente. Os perigos são muitos, a saúde humana corre riscos. É preciso entendê-los. Nos períodos de calor intenso, a evaporação do suor intensifica-se porque é o único meio que temos para eliminar o calor produzido pelo nosso metabolismo. O primeiro risco é a desidratação. E, por tabela, não podemos esquecer o impacto do calor sobre o corpo humano é agravado pelo efeito conjugado do envelhecimento fisiológico e pela existência de certas patologias. Isto não é conversa fiada: o envelhecimento pode reduzir a sensação de calor, sobretudo nos casos dos que sofrem de uma doença neurodegenerativa (caso da doença de Parkinson) e em certas demências.
Sendo a perda excessiva de água um fenómeno que pode levar à falência do organismo, é indispensável reduzir os efeitos da desidratação bebendo água sem restrição, procurar refrescar-se com regularidade, impedir o calor de invadir a habitação, fugir aos passeios nas horas de calor intenso, saber aproveitar as sombras.
A desidratação, vale a pena insistir, pode afectar as pessoas mais frágeis e dependentes, os seniores com pouca mobilidade, os mais novos. Deve beber-se de preferência água, fugir à água gelada, a água muito fria tem muitos inconvenientes. Os sumos de frutas e as bebidas açucaradas são desaconselhadas, mascaram a necessidade de hidratação. Para quem tem relutância em beber uns bons copázios de água, pode resolver-se o problema com sumo de fruta diluído na água, há diferentes soluções como adicionar um pouco de café com limão e uma pitada de açúcar. Atenção, o chá e o café em doses aceitáveis podem contribuir para a hidratação. O álcool é de evitar.
Temos fontes de hidratação em certos alimentos: melão, tomate, morangos, curgetes, pepino e iogurtes. Há recursos alimentares que fazem parte da gastronomia, é o caso do gaspacho.
Temos depois o enfrentamento do calor sem o ar condicionado. É uma técnica em que há séculos os alentejanos e os algarvios dão cartas. No início do dia, abrem-se as janelas para um breve arejamento, é quando a temperatura está mais amena, a seguir fecha-se tudo para evitar que o sol inunde as divisões da casa. Há vários expedientes como seja o recurso a películas que evitam a reflexão solar nas janelas. E abrir as janelas durante a madrugada é um outro expediente que qualquer povo mediterrânico pratica.
Ajuda a suportar o calor refrescar o rosto, os braços, o pescoço e as pernas, deixa-se secar sem usar as toalhas. O duche frio ou a baixa temperatura é outro elemento de ajuda. As nossas avós utilizavam um recurso que hoje está um tanto fora de moda, o leque, na verdade é um lenitivo que devia ser recuperado.
Sempre que possível evitar ligar o forno e reduzir a iluminação com lâmpadas halogéneo, são fontes de aquecimento que devemos procurar controlar.
Fazer as compras de manhã e andar pela sombra é um recurso, como o recurso é o uso do chapéu e dos óculos de sol. Temos depois os banhos em piscina, em praia fluvial ou no mar, aqui também se impõem precauções: o uso de chapéu, um protector solar adequado e fugir das horas com maior risco, principalmente entre o meio-dia e as quatro da tarde.
Temos finalmente o ar condicionado. É muito má-ideia ligá-lo e pôr temperaturas muito baixas. Para uma boa hidratação e conforto (e até conforto para a bolsa) o desejável é manter uma climatização com uma diferença entre 5 a 7 graus do exterior. Vai ver que um procedimento como este lhe evita contrariedades como andar com o nariz a pingar e com tosse.
* Assessor do Instituto de Defesa do Consumidor e consultor do POSTAL