Já devíamos estar a beneficiar do planeamento e programação do aproveitamento das águas no consumo doméstico e na agricultura, mas a incompetência instalada, ou outra coisa qualquer, conduziu-nos a esta situação de incerteza de fazer ou não investimentos na agricultura.
Não quero acreditar que vão deixar secar muitos milhares de pomares no valor de biliões de euros no Algarve. Enquanto os responsáveis discutem as diferentes opções e estratégias, o tempo passa e a água vai secando, depois vamos pagar as obras necessárias ao dobro do preço para serem feitas num curto espaço de tempo, talvez seja essa a principal estratégia.
O hábito de empurrar os problemas para a frente com a barriga só tem piorado a situação. Se não chover abundantemente no próximo inverno vamos perder na agricultura e no turismo, sim, porque esta atividade precisa de muita água, se não houver água as pessoas não vêm para o Algarve.
Segundo os dados estatísticos disponibilizados, 2021, pela Tavira Verde e pela ABPRSA, o volume de água necessária para abastecimento público e para a rega, no concelho de Tavira, são os constantes na tabela. Chamo a atenção para o facto de o perímetro de rega não coincidir exactamente com os limites do concelho de Tavira, aquele perímetro vai da Conceição até à Fuzeta.
É notório que a água necessária para abastecimento público no concelho de Tavira é uma pequena parte da utilizada na agricultura, 6,8%.
A área agrícola aqui considerada fornece centenas de milhar de toneladas de fruta e de produtos hortículas, dos quais subsistem centenas de pequenos agricultores. Quase todos os dias surgem novos investimentos na plantação de pequenos pomares que necessitam de rega, como não há água subterrânea suficiente e tem custos elevadíssimos os agricultores recorrem à água da barragem onde é possível.
Segundo os estudos científicos publicados frequentemente, a tendência é para chover cada vez menos, com verões mais quentes e secos, pelo que se impõe a tomada de decisões estratégicas para o futuro, decisões que devem ser tomadas já.
Creio que para além da reutilização de águas residuais tratadas e de estações de dessalinização da água do mar, também se deve construir a barragem da ribeira da Foupana e pequenos açudes em outras ribeiras para aproveitar a água que escorre livremente para o mar, assim como a ligação do Alqueva a Odeleite, e proibir desde já a plantação de quaisquer árvores que necessitem de rega frequente e, por outro lado, promover a plantação de pomares de árvores adaptadas ao clima algarvio como sejam os medronheiros, alfarrobeiras, amendoeiras, oliveiras, Azinheiras, sobreiros e figueiras. Não faz sentido nós termos este clima propício para estas árvores, e andarmos a plantar espécies estranhas à região e ao mesmo tempo andarmos a comprar toneladas de figos secos e miolo de amêndoa a outros países.
Há uma certa polémica em redor da dessalinização da água do mar, mas na realidade a ilha de Porto Santo só tem essa água há quarenta anos e o arquipélago de Cabo Verde tem esse sistema em várias ilhas há mais tempo, ambas estão bem e recomenda-se.
De todas as opiniões que tenho lido a este respeito acredito nos técnicos qualificados que estudam e debatem estes problemas, mas não acredito nos políticos.