Gastar “a mais” nos primeiros anos da reforma é um erro comum, e pode sair caro, por isso muitos especialistas recomendam uma regra simples: retirar 4% do total de poupanças no primeiro ano e, depois, ir ajustando esse valor à inflação para manter o poder de compra. A orientação é frequentemente apresentada como um ponto de partida para planear uma reforma com menos sobressaltos.
A lógica é ajudar a evitar que o dinheiro acumulado ao longo de décadas se esgote demasiado cedo, sobretudo quando a pensão não chega para manter o mesmo nível de vida. A regra tem também uma vantagem prática: facilita a criação de um orçamento anual previsível.
De acordo com o portal espanhol de economia Business Insider, a fórmula é direta. Quem tiver, por exemplo, 100.000 euros poupados, teria como referência 4.000 euros de levantamentos no primeiro ano (4% do total), com atualizações nos anos seguintes de acordo com a inflação, para procurar preservar a capacidade de compra.
O que é a regra dos 4% (e porque se fala em 30 anos)
Segundo a explicação habitual, a regra aponta para um horizonte de cerca de 30 anos de reforma, um período usado como referência em muitos cenários de planeamento. A ideia é que, com uma retirada moderada e ajustada à inflação, as poupanças possam durar décadas, em vez de “desaparecerem” nos primeiros anos.
Ainda assim, os próprios especialistas sublinham que não se trata de uma lei rígida. A percentagem pode ser alta demais para algumas pessoas e insuficiente para outras, dependendo de despesas, idade de reforma, rendimentos, património e imprevistos.
Há também variáveis que não cabem num cálculo automático: custos de saúde, apoio a familiares, obras inesperadas em casa, ou mudanças no mercado que afetem rendimentos de investimentos.
Quando pode precisar de baixar para 3% ou 3,5%
De forma geral, a regra dos 4% tende a encaixar melhor em quem tem despesas estáveis, não carrega dívidas relevantes e tem poupanças diversificadas, conseguindo retirar um valor anual sem criar pressão excessiva no orçamento.
Já quem enfrenta despesas muito variáveis na reforma, prestações elevadas, ou risco de ter de gastar muito no curto prazo pode ter de reduzir a retirada anual. É aqui que surgem ajustes comuns para 3% ou 3,5%, e, em casos mais delicados, até menos.
A idade também pesa. Se a reforma começar mais cedo, o dinheiro precisa de durar mais tempo; se começar mais tarde, o horizonte pode reduzir-se. Por isso, a mesma percentagem pode ser prudente numa situação e arriscada noutra.
Esperança de vida e adaptação ao caso de cada pessoa
Na prática, a regra dos 4% funciona melhor como “bússola” do que como “calculadora”. Segundo o Business Insider, serve para orientar decisões, mas deve ser ajustada aos rendimentos mensais (pensão e outros), ao património total e às prioridades pessoais, como viajar, ajudar filhos ou manter uma reserva maior para saúde.
Para muitos reformados, o mais seguro é rever o plano todos os anos: comparar despesas reais com o previsto, confirmar se a inflação está a ser tida em conta e avaliar se a percentagem retirada continua ajustada, evitando cortes bruscos mais tarde.
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