A expectativa sobre o futuro das ligações aéreas aos Açores ganhou novo destaque após o anúncio de que a Ryanair poderá abandonar a operação na região a partir de março de 2026. De acordo com a agência de notícias Lusa, a companhia justificou a decisão com taxas aeroportuárias elevadas e com a alegada falta de ação do Governo, abrindo caminho a um debate que envolve estratégia negocial, impacto económico e a resposta do mercado.
Luís Capdeville Botelho, presidente da Visit Azores, afirmou à mesma fonte que a decisão deve ser lida no contexto do estilo habitual da transportadora.
“É a forma como fazem a sua pressão negocial dentro das conversações que vão fazendo nas regiões onde atuam”, declarou, sublinhando que o processo “não está completamente fechado” e que o diálogo entre as partes continua.
Um anúncio que encaixa num padrão conhecido
O responsável recordou que a própria Ryanair comunicou em setembro a intenção de reabrir a base em Ponta Delgada, o que demonstra que este tipo de posicionamento faz parte das dinâmicas internas de negociação. Acrescenta a publicação que Capdeville Botelho afirmou ter voltado a contactar a companhia no próprio dia do anúncio.
O dirigente esclareceu que o comunicado está ligado à discussão das taxas aeroportuárias e às regras impostas a nível europeu. “É apenas uma forma e uma ferramenta que utilizam na negociação”, referiu, apontando que a posição da transportadora não deve ser vista como definitiva. O presidente da Visit Azores considera que este momento do ano favorece a estratégia de pressão.
Mercado já mostrou capacidade de resposta
Para ilustrar essa capacidade de adaptação, Capdeville Botelho recordou o inverno de 2023, período em que a transportadora reduziu 65% da operação na região. Ainda assim, o arquipélago registou crescimento de hóspedes e dormidas. “Não é motivo, neste momento, de real preocupação”, afirmou, reforçando que o mercado tem mostrado resiliência mesmo perante cortes significativos de oferta.
Conforme a mesma fonte, o dirigente insistiu que o anúncio não deve ser interpretado como um sinal de rutura inevitável, mas sim como mais um episódio frequente na relação entre operadores e entidades de gestão.
A crítica da transportadora ao modelo aeroportuário
A Ryanair justificou a intenção de abandonar os Açores com críticas à ANA. Explica a agência noticiosa que a companhia acusou o operador de não apresentar “qualquer plano para aumentar a conectividade de baixo custo com os Açores”, associando esse cenário ao que descreve como lucros monopolistas.
Na perspetiva da empresa, o Governo deveria intervir para garantir que a gestão aeroportuária “beneficia o povo português e não um monopólio aeroportuário francês”. Na mesma comunicação, a transportadora sublinhou que aeroportos concorrentes na Europa têm vindo a reduzir taxas para estimular o crescimento.
Uma saída ainda por confirmar
A Visit Azores reforça que o processo continua em andamento e que a possibilidade de saída da companhia permanece dependente de negociações. Segundo a Lusa, apesar das declarações públicas da transportadora, a associação mantém contactos e não considera a situação encerrada.
O impacto final na mobilidade da região dependerá das soluções encontradas e da capacidade de ajustamento da oferta. Para já, o cenário mantém-se em aberto, marcado por posições públicas, conversações e leituras distintas sobre a margem de manobra existente.
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