Com a chegada do verão, cresce a procura por espaços alternativos às praias costeiras mais concorridas. Há quem procure natureza em estado quase selvagem, outros preferem zonas com infraestrutura e segurança. Mas existe uma opção menos conhecida que parece reunir os dois mundos: uma praia fluvial em pleno interior, onde a água fria convive com fama termal e onde a lenda se mistura com a ciência.
Localizada num vale encaixado do Rio Nabão, a cerca de vinte quilómetros de Tomar, esta zona balnear tem ganho notoriedade sem nunca perder a sua identidade discreta. Quem visita pela primeira vez surpreende-se com o cenário: uma piscina natural de água límpida, margens verdes e uma nascente de caudal constante, mesmo nos meses mais secos.
Água fria com fama de termal
De acordo com o Museu Municipal de Ourém, a nascente que alimenta a Praia Fluvial do Agroal é referida em registos desde a Pré-História como tendo propriedade curativa e termal. Uma das lendas mais divulgadas refere que o lendário rei Gárgoris teria sido curado de uma doença de pele após se banhar nestas águas.
A temperatura mantém-se constante ao longo do ano, rondando os 15 graus Celsius. Ainda assim, análises realizadas em 1917 revelaram uma composição mineral rica em bicarbonatos, magnésio e sílica. Segundo a mesma fonte, estas características explicam a crença popular nos seus efeitos terapêuticos.
Benefícios apontados para pele e digestão
O portal VisitPortugal indica que a procura mais comum se centra em problemas dermatológicos e pequenas afeções gastrointestinais. Embora o local não disponha de instalações termais formais, a piscina natural é amplamente usada para sessões de imersão prolongada.
Vários banhistas regressam anualmente para repetir a experiência, baseando-se em relatos pessoais de alívio de sintomas. A reputação, embora não sustentada por ensaios clínicos, mantém-se viva graças à tradição oral e à continuidade de uso do espaço.
Selo de qualidade ambiental
Segundo a Câmara Municipal de Ourém, a praia possui Bandeira Azul desde 2020 e o selo “Praia com Qualidade Ouro”, atribuído pela Quercus. Estas distinções refletem não apenas a qualidade da água, mas também o esforço na conservação ambiental e na gestão responsável do espaço.
Escreve o site Turismo Ourém que o Agroal beneficia de uma monitorização microbiológica regular, essencial para garantir a segurança dos banhistas e o controlo da capacidade de carga em períodos de maior afluência.
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Percurso interpretativo e biodiversidade
As margens do Agroal integram o Maciço Calcário de Sicó-Alvaiázere e fazem parte de uma área protegida. O percurso pedestre “Agroal Selvagem” revela grutas, flora endémica e espécies de avifauna como o guarda-rios e o bufo-real, explica o município.
O traçado circular permite uma leitura geológica e ecológica da zona, articulando a paisagem com informação interpretativa distribuída ao longo do caminho.
Infraestruturas e acessos
O acesso principal é feito a partir de Tomar, seguindo pela EN 349-3 até à localidade de Formigais. O complexo balnear inclui piscina vigiada, parque de merendas, balneários, esplanada e estacionamento gratuito. O funcionamento decorre entre as 9h e as 19h, com vigilância assegurada durante toda a época balnear.
Apesar da tranquilidade geral, recomenda-se cautela. O Turismo de Portugal adverte que a ingestão da água não é aconselhável, sendo os efeitos benéficos associados apenas à utilização externa.
O lado menos conhecido da nascente
Segundo o estudo “O Renascer do Agroal”, desenvolvido por investigadores da Universidade de Lisboa, o valor mineral da água é incomum em sistemas cársicos de baixa temperatura. O trabalho, disponível no repositório da universidade, aponta a ausência de estudos clínicos como uma limitação para validar as alegadas propriedades terapêuticas.
Ainda assim, o interesse científico mantém-se, especialmente pela composição química e constância da nascente, que justificam a continuidade da sua monitorização.
Destino alternativo ao turismo de massas
Para quem pretende evitar as praias sobrelotadas, o Agroal oferece uma experiência distinta: águas frias e transparentes, lendas antigas, percurso pedestre, qualidade ambiental certificada e um cenário moldado pelo calcário e pelo tempo.
Não se trata de um centro termal nem de um destino turístico tradicional, mas antes de uma praia fluvial para quem valoriza a natureza, a história local e a tranquilidade. A promessa de um banho que “faz bem” pode não vir com bula, mas continua a atrair quem acredita que um mergulho certo vale por muito.