São cerca de 260 milhões de falantes nativos de português no mundo, correspondente a 3,7% da população mundial. Estes números tornam a língua portuguesa a quarta língua materna mais falada do planeta.
Uma língua falada em variados sotaques, com vários jeitos de pronunciar as mesmas palavras. Algumas palavras apenas existem no português de um determinado país, o que torna esta uma das línguas mais dinâmicas do mundo e em constante crescimento e desenvolvimento do seu conteúdo.
A língua da saudade e do obrigado em vários pontos do globo.
Apesar destes factos informados pelo Instituto Camões, a 5 de maio de 2022, serem bastante positivos, foi através das minhas visitas frequentes a países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ou no contacto regular com pessoas nacionais de países em que o português é considerado um idioma oficial, que tomei plena consciência da forte ligação humana, social e política que coexiste neste espaço comunitário unido pelo fator linguístico.
A CPLP foi estabelecida a 17 de julho de 1996, sendo atualmente constituída por vários Estados-membros como Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Portugal, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. Corresponde a uma comunidade localizada em quatro continentes, em uma área territorial de 7,2% da terra do planeta.
Apesar de constituída, a sua sobrevivência não é garantida pela sua existência. Depende sempre de um esforço e cuidado de todos os Estado-membros em manterem a CPLP saudável e próspera nas suas atividades destinadas a preservar a amizade mútua e da cooperação entre os seus membros.
A cooperação emerge da língua, mas estende-se a vários domínios, nomeadamente educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social.
Perante as mudanças atuais no plano geopolítico do mundo, há receios que o espaço da lusofonia possa ser afetado pelas políticas individuais de cada país.
Na verdade, a CPLP, e de forma adequada e correta, garante os princípios da “igualdade soberana dos Estados-membros e; não-ingerência nos assuntos internos de cada estado”, mas em comunhão com o princípio “promoção da cooperação mutuamente vantajosa”. Surge como uma necessidade de equilíbrio entre a proteção das soberanias de cada Estado-membro e a necessidade da comunidade estar unida nos domínios em que todos cooperam pelo desenvolvimento.
Assim, importa manter a CPLP como uma prioridade na agenda de cada um dos Estados-membros para garantir o seu fortalecimento. Importa, igualmente, dar a conhecer a CPLP aos jovens nas escolas dos países da comunidade para que haja uma consciência direta relativamente à existência deste laço linguístico que cada um de nós partilha com mais 260 milhões de pessoas. Ensinar apenas que a língua portuguesa é falada nos quatro cantos do mundo não é suficiente para salvaguardar o futuro. É preciso que seja incutido um sentimento de pertença à comunidade.
A ideia, no seu todo, vive se as pessoas que a constituem a mantiverem viva, através da existência de um sentimento de orgulho e pertença, que não deve ser imposta, mas genuinamente sentida pelas palavras, na língua que todos partilham como sua, mas que na verdade é uma língua de vários, de todos, como uma só comunidade.
Que a saudade, palavra de existência apenas na língua portuguesa, se mantenha a ser usada nos diferentes pontos do globo, onde 260 milhões se unem, apesar de, na maioria dos casos, distantes entre si.
Turbulências VI escrito por João Fernandes Moreira, advogado
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