As entidades responsáveis pela protecção civil não podem continuar a ignorar a importância dos hotéis e dos empreendimentos turísticos no acompanhamento, ajuda e complemento das acções de prevenção, protecção e combate de catástrofes e desastres ambientais ou outros.
Daí que seja necessário e desejável que a rede de protecção civil passe a incorporar os hotéis e os empreendimentos turísticos, enquanto equipamentos estratégicos e fundamentais nas acções de protecção civil em caso de catástrofes graves que, mais tarde ou mais cedo, sempre irão ocorrer, só não sabemos quando.
Os hotéis e os empreendimentos turísticos podem funcionar como equipamentos de retaguarda, atendendo à sua dimensão e capacidade para acolherem e acomodarem grandes quantidades de pessoas, incluindo a prestação de serviços de alimentação e alojamento, entre outros.
Permitia-me, pois, recomendar às entidades competentes a inclusão dos hotéis e dos empreendimentos turísticos nas políticas de protecção civil, desenvolvendo parcerias facilitadoras de cooperação e colaboração conjuntas em caso de necessidade, não se compreendendo porque é que tal ainda não acontece.
“Os hotéis e os seus clientes, entendidos como grupos vulneráveis, carecem de mais entendimento, colaboração e articulação com as entidades de protecção civil”
Os clientes dos hotéis, na sua maioria estrangeiros, são em casos de catástrofe o elo mais fraco desta equação, apesar dos estabelecimentos hoteleiros disporem todos eles de planos de contingência, embora mais centrados e focalizados em incidentes/acidentes internos.
Nas emergências, teremos de ser capazes de suprir as necessidades básicas dos turistas, muitos deles crianças, afastados da sua residência habitual e do seu país, falando idiomas diferentes e, portanto, muito fragilizados por estas circunstâncias.
Assim sendo, o potencial dos hotéis e dos empreendimentos turísticos em caso de catástrofes encontra-se, na nossa perspectiva, subavaliado e, segundo julgo saber, totalmente inexplorado e não previsto nos Planos de Intervenção das várias autoridades que superintendem e actuam nestas áreas específicas.
Por estes motivos, defendemos a necessidade de articular a informação e a comunicação entre as entidades responsáveis pela protecção e prevenção de riscos climáticos ou outros, como sismos e tsunamis, por exemplo, incorporando os hotéis e os empreendimentos turísticos numa estratégia de colaboração e cooperação que beneficie as duas partes e, sobretudo, os clientes/turistas das unidades hoteleiras e, por essa via, os superiores interesses da economia regional e nacional.
Importa, pois, repensar as práticas de prevenção, mas também de preparação e resposta em situações de catástrofes, sendo os hotéis uma componente primordial para o cumprimento desta estratégia, quer de comunicação, quer na actuação e envolvimento directo nas soluções.
Dispor de informação actualizada e correcta é fundamental para tomar decisões acertadas, imprimindo confiança nas pessoas, confrontadas com incertezas, inseguranças e preocupações, face ao desconhecimento da realidade e dimensão das catástrofes.
O objectivo só pode ser um: implementar uma boa governança porque só assim poderemos antecipar, resistir, minimizar e recuperar de acidentes e/ou catástrofes que afectem o nosso território e, cujas causas, designadamente de ordem meteorológica, infelizmente, não controlamos nem dominamos.
Penso que nesta matéria, Portugal e o Algarve ainda enfrentam uma fase muito experimental que importa explorar mais no futuro.
Os hotéis e os seus clientes, entendidos como grupos vulneráveis, carecem de mais entendimento, colaboração e articulação com as entidades de protecção civil, através da criação de linhas de comunicação transmitidas em tempo útil e que permitam tomar as medidas preventivas ou outras necessárias para assegurar a segurança de pessoas e bens.
Trata-se, no fundo, de esbater as fragilidades actualmente existentes nesta matéria, decorrentes da tendência instalada em esconder informação, o que só contribui para agravar as situações e provocar desconfianças, agravando a natural instabilidade emocional e psicológica das pessoas e, neste caso concreto, dos turistas do Algarve.
A falta de uma estratégia de comunicação devidamente estruturada amplia os problemas e gera uma má imagem do país que convém evitar no futuro. A apetência dos responsáveis pelo mediatismo, à margem de uma política de comunicação estruturada e profissionalizada, resulta normalmente mal, diria muito mal.
As organizações de protecção civil ao seu mais alto nível carecem de uma cura de aprendizagem técnica, deixando o cariz político que esteve na base da sua criação, nomeadamente ao nível da nomeação dos seus dirigentes, demasiadamente comprometidos com interesses políticos e partidários. Em nome do interesse público, por favor façam isso, o país agradece.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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