Chegou a hora. A paciência do Algarve esgotou-se, como os poços secos nas serras no verão. A nossa tolerância evaporou-se sob o calor abrasador, que Lisboa, de lá das suas frescas avenidas sombreadas, nunca entenderá.
Este é o Manifesto dos 101 Algarvios, mas podia ser dos 10 mil, dos 100 mil, ou de todos nós. Porque já estamos fartos. Fartos de ver a nossa terra reduzida a um postal bonito, a um destino de férias onde os lisboetas vêm largar as suas frustrações entre um mergulho e outro. Fartos de ver o Algarve tratado como um capricho sazonal. Algarvios, somos os esquecidos.
De inverno, tornamo-nos invisíveis. Somos a sombra longa e preguiçosa do sul, sempre a correr atrás das migalhas que caem da mesa da capital. Lisboa fica com o bolo todo – o orçamento, os investimentos, os empregos bem pagos – e nós ficamos com as contas por pagar. E se tentamos levantar a cabeça, lá vem a velha lenga-lenga:
“O Algarve já tem o turismo, para que quer mais?” Como se o turismo fosse uma esmola que devêssemos agradecer de joelhos, como se fosse a nossa sina ser apenas uma terra de sol e praias.
"Este manifesto não é apenas um grito de revolta. É uma declaração de amor à nossa terra. Um amor que Lisboa nunca entenderá"
O centralismo de Lisboa é como uma dessas algas tóxicas que aparecem de repente no verão, invadindo as nossas águas. Não pedimos nada de extraordinário. Só queremos o que é nosso por direito: hospitais que funcionem, escolas que ensinem, estradas que não sejam remendos. Queremos oportunidades para os nossos jovens, que não tenham de fugir para Lisboa ou para o estrangeiro para procurar um futuro. Queremos poder decidir o que é melhor para nós, porque ninguém conhece o Algarve melhor do que os algarvios.
Chega de sermos governados por quem nos vê como um destino de fim de semana. Queremos uma voz. Queremos uma autonomia que nos permita gerir os nossos recursos, definir as nossas prioridades, cuidar das nossas gentes. Lisboa pode ficar com os miradouros e as festas no Terreiro do Paço. Nós ficamos com o mar, as serras, o campo e a nossa dignidade.
Este manifesto não é apenas um grito de revolta. É uma declaração de amor à nossa terra. Um amor que Lisboa nunca entenderá. Porque o Algarve não é apenas um lugar no mapa. O Algarve é um estado de alma. E essa alma, meus amigos, não se vende nem se rende.
Assinado,
Os 101 Algarvios (e todos os outros)
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