A integridade é um valor, ou um conjunto de valores, que pode definir o comportamento de um ser humano e servir de exemplo para os demais. Deveria estar presente, ser visível, recordada, lida ou interpretada no maior de número de urbes do mundo, onde vivam, trabalhem e passem pessoas, em aldeias, vilas ou cidades. Sonhei esta noite (3 de Março de 2025) quão interessante seria dar nome de Rua da Integridade a um local onde num paredão tipo cenário se expressasse artisticamente um contínuo de fachadas de casas com portas e janelas transparentes, pois a transparência está intrinsecamente associada à integridade. 24 portas, de 24 casas em sentido figurado, sendo que a integridade é algo que deve estar imanente ao ser humano 24 horas por dia, sem interrupções nem desfalecimentos.
A Rua da Integridade pode ser um muro de suporte de terras, porque ela [a integridade] é também um suporte e uma característica basilar do carácter do ser humano. Pode ser no muro exterior de um jardim, de um parque infantil, pode ser onde o autarca quiser e a população apoiar. Em cada porta [dessa rua], pode figurar cada traço que distingue a integridade, nome de casa [Villa Transparente], ou um pequeno poema em forma de quadra ou não [sobre a honestidade, a rectidão, por exemplo]. No início e no final deveriam ser fixadas placas toponímicas com o nome da Rua da Integridade, no meio, quiçá, uma peça escultórica. Aqui deixo esta ideia, aberta a outros contributos, para quem tenha talento e a saiba expressar artisticamente no papel, na tela, na pedra, dando-lhe forma de projecto, disponibilizado para todas as autarquias que o queiram aproveitar. É um trabalho que convoca arquitectos, desenhadores, designers, e outros criativos e pensadores em geral que se queiram associar pro bono na concretização desta idéia, nascida de um sonho numa madrugada qualquer.
Como ele, houve e há outros, cada vez mais raros. Vale a pena lutar para que não se extingam
A integridade é um conceito multifacetado que envolve a coerência entre valores, ações e crenças. Diz respeito à capacidade de uma pessoa agir de acordo com princípios éticos e morais. Uma pessoa íntegra é aquela que se mantém firme nas suas convicções, não se deixando corromper por interesses pessoais, influências externas ou modas ocasionais. A integridade também se reflete na responsabilidade que cada um assume pelas suas ações, reconhecendo os seus erros e buscando repará-los quando necessário. Serve como uma bússola, orientando escolhas e fortalecendo a identidade e, dessa forma, é um pilar fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa e harmoniosa, onde as relações são baseadas na confiança e no respeito mútuo.
Num mundo onde as pressões sociais e as tentações externas e materiais podem levar à conformidade, à cedência e ao desvio, manter a integridade é um ato de coragem e autenticidade. Poder-se-ia invocar personalidades mundiais que foram exemplos de integridade. Como Mahatma Gandhi, pregador da não-violência e da verdade, que viveu de acordo com os seus princípios e inspirou milhões a lutar por justiça de maneira pacífica. Ou Nelson Mandela, que passou 27 anos na prisão, mantendo as suas convicções e, após a sua libertação, promoveu a reconciliação nacional. Ou invocar Malala Yousafzsai, activista paquistanesa pelos direitos das meninas à educação, sofrendo todo o tipo de ataques pelas suas convicções. Nesta galeria tem lugar Martin Luther King Jr., símbolo de luta pela dignidade humana e pela igualdade racial. Ou Madre Teresa, essa trabalhadora humanitária que dedicou a vida aos mais pobres e doentes sem buscar reconhecimento pessoal. Mas para quê buscar faróis de integridade noutras paragens, quando tive a felicidade de nascer filho de um pai que foi o maior exemplo que poderia ter de um ser humano com princípios e valores éticos.
Verdade, sinceridade, honestidade, responsabilidade, transparência, compaixão, humildade, solidariedade, amizade, probidade, cumpridor, justiça, confiança, sentido de serviço comunitário. É longa a lista de adjectivos que se lhe poderiam atribuir. Quem? José! José Viegas Bota. Nome da rua onde moro. Como ele, houve e há outros, cada vez mais raros. Vale a pena lutar para que não se extingam.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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