A secretária de Estado dos Transportes de Espanha e o presidente da empresa pública de comboios Renfe demitiram-se esta segunda-feira na sequência de uma encomenda de comboios maiores do que os túneis onde deveriam circular.
As demissões foram confirmadas pelo Ministério dos Transportes e são o culminar de semanas de polémica por causa deste caso, que remonta a 2020, quando 31 comboios foram encomendados a uma empresa também espanhola, do País Basco, com o objetivo de fazerem ligações suburbanas e de curta distância em regiões do norte do país.
Soube-se no final de janeiro deste ano que a entrega dos primeiros comboios já não aconteceria em 2024, como inicialmente anunciado, mas em 2026, por causa de um erro na encomenda, detetado pela empresa que ia construir as composições. Não se chegaram a construir comboios e o Governo espanhol garante que não houve gastos extraordinários, porque o erro foi detetado antes do início da fabricação.
A polémica das últimas semanas deveu-se, essencialmente, por o erro e o atraso consequente ter sido alegadamente ocultado durante quase dois anos pelos responsáveis das empresas públicas de comboios Renfe e de infraestruturas Adif, sendo que a então presidente desta última era a atual secretária de Estado dos Transportes, que hoje se demitiu.
A ministra dos Transportes, Raquel Sánchez, assegurou que ela própria só soube do problema ao mesmo tempo que a opinião pública, quando surgiram na imprensa regional as primeiras notícias do atraso na entrega da encomenda.
O erro deveu-se, aparentemente, à bitola (largura das vias) que constava da encomenda, que não correspondia às vias, antigas, das regiões da Cantábria e das Astúrias onde circulariam os comboios, fazendo com que as composições pedidas fossem maiores dos que os túneis por onde teriam de passar.
O Governo espanhol anunciou um inquérito para apurar responsabilidades, mas o presidente da Renfe, Isaías Taboas, e a secretária de Estado Isabel Pardo de Vera deixaram hoje os respetivos cargos, antes de haver resultados dessa investigação e no meio de críticas dos governos regionais da Cantábria e das Astúrias.
O presidente do governo regional da Cantábria, Miguel Ángel Revilla (Partido Regionalista da Cantábria), criticou uma encomenda feita “sem medir os comboios nem os túneis” e que “durante dois anos e pico se soubesse e não se tenha dito nada”.
Já o presidente do governo das Astúrias, o socialista Adrián Barbón, considerou o caso “um escândalo que só pode ser qualificado como um embaraço e uma vergonha”. Tanto Revilla como Barbón tinham pedido para se apurarem todas as responsabilidades neste caso.