
A mulher representada por José Almada Negreiros é o tema de uma exposição temporária com 55 obras do artista plástico e escritor português que vai abrir ao público, em Tavira, no próximo sábado, 7 de Julho, disse a curadora.
A exposição pode ser vista no Museu Municipal de Tavira/Palácio da Galeria até 14 de Outubro e reúne “desenhos e pinturas, a larga maioria pertencentes ao acervo da Colecção Moderna do Museu Calouste Gulbenkian, assim como excertos da sua obra literária e textos publicados nos jornais e revistas da época”, revelou a Fundação Calouste Gulbenkian.
A curadora da exposição, Mariana Pinto dos Santos, disse à Agência Lusa que a mostra permite ver “como é que a representação da mulher vai marcando a obra de Almada Negreiros”, que abordou um tema geral da história da arte, como é a figura feminina, com um “olhar moderno”, muitas vezes “mal visto em sociedades conservadoras”.
“O olhar sobre a mulher ao longo da história de arte ocidental é um olhar masculino e aqui também não fugimos a essa regra. Estamos a falar de um homem que olha a mulher, que a retrata e que a torna objecto da sua pintura, do seu desenho ou da sua obra literária”, afirmou Mariana Pinto dos Santos, sublinhando que a exposição tem também “vários textos na parede, que vão acompanhando e têm a mesma importância que as obras plásticas expostas”.
Almada Negreiros foi um artista que abraçou a modernidade
A curadora destacou, no entanto, as particularidades da obra do autor, que foi “um artista que abraçou a modernidade, que quis ser moderno acima de tudo e quis criar a modernidade” e que exemplifica como “o facto de se poder representar uma mulher emancipada [ter passado] a ser sinal de modernidade”.
“As mulheres já não são só objectos de contemplação ou representadas como passivas, na obra dele vamos sistematicamente encontrar mulheres activas, mulheres desportistas – sobre as quais aliás ele escreve também -, mulheres bailarinas, mulheres cantoras, e que não estão em nenhuma posição necessariamente subalterna, pelo menos não são mostradas dessa forma e isso, mostrá-las de maneira diferente, era também sinal de modernidade”, argumentou.
Mariana Pinto dos Santos recordou que Almada Negreiros (1893-1970) viveu as primeiras décadas do século XX – período a que pertencem as obras expostas – e é “alguém que vem dos anos 1920, nos quais a emancipação da mulher, associada a uma certa libertação de costumes e uma vida boémia dos chamados ‘loucos anos 20’, realmente ocorreu”.
“E o Almada foi testemunho disso, viveu e conviveu com muitas mulheres que não eram propriamente bem vistas numa sociedade conservadora, porque eram mulheres que iam ao café, fumavam, etc.”, acrescentou.
A curadora da exposição disse ainda que a exposição vai ser feita em parceria entre a Fundação Calouste Goulbenkian e o Museu Municipal de Tavira, que mostrou interesse em receber a exposição, no âmbito “política de descentralização que a Gulbenkian tem vindo e quer continuar a promover”.
Esta exposição surge depois de duas outras mostras da obra de José Almada Negreiros promovidas pela Gulbenkian, uma que se realizou em Lisboa (“José Almada Negreiros: uma maneira de ser moderno”, no museu da Fundação), e outra no Porto (“José de Almada Negreiros: desenho em movimento”, realizada no Museu Nacional de Soares dos Reis), referiu ainda a curadora.