O sucesso do reconhecimento das Festas do Povo de Campo Maior pela UNESCO “não poderá ser extensivo ao Ministério da Cultura”, afirmou esta quarta-feira o presidente da Associação Portuguesa para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial (PCI).
Numa nota enviada à agência Lusa, Luís Marques saudou a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura por inscrever a festa das flores de papel na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, mas deixou duras críticas à atuação do ministério de Graça Fonseca.
“Infelizmente, este sucesso a nível oficial não poderá ser extensivo ao ministério da Cultura, dado que este continua bastante desenquadrado ou alheado da importância deste património, resumindo-se a sua ação, há largos anos, ao mero formalismo burocrático, sem dar mostras de querer inverter tão nefasta atuação”, criticou o presidente da PCI.
Antes, Luís Marques endereçou os parabéns à “população de Campo Maior e, especialmente, à Entidade Regional de Turismo do Alentejo”, bem como “à Associação das Festas do Povo” e ao “Município” por verem aprovada a candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Segundo dos seus estatutos, a PCI é uma associação que desenvolve a sua atividade “em consonância com os conteúdos e metodologias consagrados na Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial aprovada pela UNESCO em 2003”.
As Festas do Povo de Campo Maior foram hoje classificadas, ao início da tarde, como Património Cultural Imaterial da Humanidade, durante a 16.ª reunião do Comité Intergovernamental da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, que está a decorrer em Paris (França), até sábado.
Pouco depois, a ministra da Cultura congratulou-se com a classificação das Festas do Povo de Campo Maior, no Alentejo, por parte da UNESCO, o que “muito honra” Portugal e contribui para “valorizar e salvaguardar” aquele bem patrimonial.
Com a distinção atribuída hoje, as Festas do Povo de Campo Maior integram a “importante lista” de bens classificados como Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO, da qual já fazem parte o fado, o cante alentejano, a louça de Bisalhães, os chocalhos de Alcáçovas, os Bonecos de Estremoz e os Caretos de Podence, sublinhou Graça Fonseca.
Tradição secular e realizadas pela última vez em 2015, as Festas do Povo de Campo Maior são conhecidas por apresentarem dezenas de ruas, sobretudo no centro histórico, ‘engalanadas’ com milhares de flores de papel, feitas pela população de forma voluntária.
Promovidos pela AFPCM, os festejos na vila alentejana eram já reconhecidos internacionalmente pela sua originalidade e cariz popular, com os habitantes a prepararem a ornamentação das ruas durante meses a fio.
Esta tradição, identitária de Campo Maior, tem vindo a ser transmitida de geração em geração, oralmente e de forma informal, com os mais velhos a ensinarem aos mais novos os ‘segredos’ da elaboração das flores que ornamentam os espaços públicos da vila.