
Um grupo de cidadãos criou um movimento para defender a preservação do Centro de Experimentação Agrária de Tavira e promete “utilizar todos os meios legais ao seu alcance para travar construção de estrada”.
No seguimento dos “inúmeros atropelos e violações sistemáticas do património paisagístico, arquitectónico, arqueológico e imaterial do Algarve ao longo dos últimos tempos, com particular destaque para a notícia recente do desmembramento do Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira”, um grupo de cidadãos activos desta e de outras cidades do Algarve decidiu unir-se com “o intuito de defender a preservação do património da sua região”.
Este movimento de cidadãos pela Defesa do CEA Tavira, pretende “alertar, informar, formar opinião crítica e combater, por todos os meios legais ao seu alcance, o futuro projecto da construção de uma estrada de 20 metros de largura e 625 metros de comprimento ao longo do terreno do CEA Tavira, inserido no projecto de electrificação da linha férrea do Algarve”.
O mesmo projecto, que contempla ainda “a inclusão de dois cruzamentos perpendiculares abrindo precedente à edificação de uma futura malha urbana, foi decidido à porta fechada, por entidades públicas e decisores políticos regionais e da administração central, sem que tivesse havido uma consulta transparente e a devida discussão pública”.

Assim sendo, e a partir de hoje, esta e outras decisões que lesem “o Património Algarvio e a vontade dos seus cidadãos, vão contar com oposição cerrada, havendo já uma manifestação agendada para o próximo dia 13 de março, às 17 horas, frente ao terreno do CEA Tavira, inserida na Marcha Climática Global”, avança o movimento em comunicado enviado às redações.
“Tavira, com o patrocínio e a complacência do poder local, poderá em breve sofrer as consequências de um projecto desastroso para uma parte do seu território e da sua identidade, nomeadamente, da Dieta Mediterrânica, com a agravante de ser ela uma das Comunidades Representativas, a nível mundial, deste património imaterial da UNESCO, e de ter o dever de o potenciar e preservar”, pode ler-se.
“Está em causa a desintegração de um campo agrário de experimentação científica, com uma colecção de fruteiras que o próprio Estudo de Impacto Ambiental (EIA) classifica como “únicas”, bem como a destruição dos seus cinco laboratórios. Está em causa a expropriação parcial de terrenos, que hoje pertencem ao CEA Tavira, e a consequente fragmentação desta propriedade”, considera.
Estão postos em causa o funcionamento prático e a viabilidade científica deste centro
“Em suma, estão postos em causa o funcionamento prático e a viabilidade científica deste centro que, futuramente, se vê sujeito aos mais variados tipos de poluição e especulação”, defende.
A importância deste centro “é incomensurável, pois para além de constituir-se como um reservatório de biodiversidade frutícola regional, leva a cabo estudos que, como o próprio EIA indica, estão relacionados com a Dieta Mediterrânica. Falamos de um espaço que desenvolveu pesquisas pioneiras e únicas no país no âmbito da agricultura biológica, e que acolheu durante décadas uma escola agrária”, destaca o movimento.
Para além disso, “não nos podemos esquecer da sua contribuição para o desenvolvimento experimental de práticas agrícolas que visam mitigar os impactos do aquecimento global, através de soluções ecológicas no âmbito do Plano Intermunicipal de Adpatação às Alterações Climáticas, numa altura em que este tema está na ordem do dia, das agendas mundiais”.
Esta electrificação da linha do Algarve, no troço Faro – Vila Real de Santo António, há muito aguardada e que consideramos positiva e necessária, “acaba assim por tornar-se particularmente dramática, pelas implicações que terá”.
Por isso, o movimento questiona: “será que nada do que aqui é exposto fará com que as autoridades equacionem alternativas à destruição do CEA Tavira?”
“Se este projecto avançar como está previsto, veremos certamente, e em breve, estes espaços serem urbanizados, assistiremos ao nascimento de um Hotel, de um terminal de transportes e, cereja no topo do bolo, a ironia de um centro da Dieta Mediterrânica, tudo, certamente, em prol do ‘desenvolvimento’”, remata o grupo de cidadãos.
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