O R(t) (valor da transmissibilidade da covid-19) tem vindo a aumentar. Nos últimos dados, divulgados pela Direção-Geral da Saúde (DGS), o R(t) era de 1,04. Apesar dos valores ainda não “espelharem o impacto da segunda fase do desconfinamento”, o ritmo a que tem evoluído é “significativo e preocupante”. O alerta é dado ao “Diário de Notícias” pelo professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCL), Carlos Antunes.
“Não é o valor em si que é preocupante, mas o ritmo da sua evolução”, explica Carlos Antunes, alertando que “o R(t) está a subir desde meados de fevereiro e sempre ao mesmo ritmo, uma centésima por dia, e nós estamos a potenciar ainda mais essa subida com o desconfinamento. Portanto, quem vai ter de decidir nos próximos dias, já deveria estar preocupado”, esclarece.
“Os dados que hoje [terça-feira] vão ser apresentados ainda não espelham o impacto da segunda fase do desconfinamento, o impacto da abertura das escolas dos 2.º e 3.º ciclos e das esplanadas. Este só vamos ficar a saber nesta semana e só serão confirmados pelos indicadores na próxima semana”, atenta o professor.
Esta terça-feira os políticos e os especialistas reúnem-se no Infarmed para analisar a evolução da doença no país, tendo por base os dados da DGS e do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA).
O especialista acredita que a terceira fase de desconfinamento a 19 de abril poderá potencializar, ainda mais, o aumento do valor da transmissibilidade da covid-19. “Quando digo que evolui a um ritmo preocupante é precisamente porque não há perspetivas de que possa começar a desacelerar. O valor de 1,04 ainda não é preocupante, só o é para quem tem de tomar decisões e tem de pensar para daqui a uma ou duas semanas. Quem tem de decidir tem de pensar como quer que a situação evolua: se no sentido de desanuviar ou no sentido de aumentar a pressão”.
”O R(t) está a subir diariamente. O valor reportado ontem [segunda-feira] pela DGS já está desatualizado, é de 5 de abril, portanto de há sete dias, já que a análise do INSA tem um atraso. Nesta segunda-feira já deve estar em 1,11, mas este valor só deve ser reportado pelo INSA no próximo relatório, no dia 17. Ou seja, e mais uma vez, quando chegarmos à próxima segunda-feira, dia 19, e se for tomada a decisão de se manter o calendário de desconfinamento, que prevê a reabertura dos ensinos secundário e universitário e dos restaurantes já teremos um R(t) muito superior (1,18)”, sustenta o professor da FCL.
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