André visita todos os dias o pai, que está internado numa unidade de reabilitação porque teve há pouco tempo um AVC (acidente vascular cerebral). As visitas de familiares são importantes para a recuperação do pai, por isso, além de André (que prefere não dar o seu apelido), vai também a mãe. O problema é que cada um só tem direito a quatro testes à covid-19 comparticipados pelo Estado por mês. Contas feitas, “esgotando os quatro que são gratuitos, temos de fazer 12 testes cada um para podermos fazer as visitas durante o mês”. Cada teste rápido de antigénio custa em média 25 euros: isto significa que, além dos custos de reabilitação e de internamento, a família de André vai ter “um gasto de 600 euros com testes por mês”.
“Quem desenhou esta medida não pensou nas necessidades nem dos pacientes nem das famílias”. André refere-se a uma das regras que entram em vigor a partir desta quarta-feira, dia em que Portugal entra em estado de calamidade. Os testes à covid voltam a ser obrigatórios — mesmo para os vacinados — no acesso a alguns espaços. É o caso das visitas a lares e a pacientes internados em hospitais ou noutros estabelecimentos de saúde, dos grandes eventos sem lugares marcados ou recintos improvisados e recintos desportivos, das discotecas e dos bares.
Uma boa notícia é que o Governo voltou a comparticipar a 100% os testes rápidos de antigénio. Em todo o país, há 663 farmácias e 171 laboratórios onde é possível fazê-los gratuitamente, segundo a lista atualizada até esta terça-feira pelo Infarmed. Mas há um limite de testes por pessoa: quatro por mês. Assim, os restantes têm de ser suportados a título individual.
Testes, testes, testes: a vacina já não chega para a vida “normal”. Especialistas pedem cuidado para não se minar confiança na vacinação
PREÇOS DOS TESTES VARIAM ENTRE €20 E 100€
O Expresso contactou as principais redes de laboratórios nacionais para sondar os preços dos testes e variam entre os €20 e os €30, no caso dos rápidos de antigénio, e os €80 e 100€, no caso dos PCR. Estes últimos são mais caros e o resultado demora mais tempo: cerca de 24 horas. São considerados mais fiáveis do que os testes rápidos porque pesquisam o material genético do vírus e têm uma maior sensibilidade em detetar a infeção.
Em Portugal, quem pratica os preços mais baratos a particulares é a Cruz Vermelha: os de antigénio custam €20 e os PCR €60. Já nas redes de laboratórios, os valores andam à volta do mesmo. Por exemplo, o teste rápido de antigénio custa 25 euros na Unilabs, também no centro de medicina laboratorial Germano de Sousa, nas Análises Clínicas Beatriz Godinho e nos Laboratórios Affidea. Há quem faça preços mais baixos — €20 no caso dos Laboratórios Fernanda Galo — e mais altos — €30 na Synlab.
Os PCR são os mais caros. A título de exemplo, custam €80 na Unilabs (o preço baixou, antes era €100), nas Análises Clínicas Beatriz Godinho e também nos Laboratórios Fernanda Galo. Os mesmos testes ficam por €90 nos Laboratórios Affidea e na Synlab e €100 nos laboratórios do médico Germano de Sousa.
CUSTO DOS TESTES EQUIVALE A “UMA RENDA DE €600”
A nova medida de testagem obrigatória representa uma despesa enorme ao final do mês, sobretudo para quem visita familiares que estão num hospital ou num lar numa base quase diária. Aqui, os quatro testes comparticipados não são de todo suficientes. Além deste limite de exames por mês, o teste à covid é também comparticipado se a pessoa apresentar sintomas. Não há nenhuma prescrição gratuita a pessoas que se encontram na situação de André — a regra implementada pelo Governo não tem alcance para prever estes cenários.
Nem André nem a sua mãe questionam a legitimidade de terem de ser testados — percebem que é importante, apesar de já estarem vacinados. O problema não é o incómodo de fazer 16 testes por mês, é o dinheiro que têm de desembolsar. Por isso, André pede que seja passada uma prescrição a quem se encontra nesta situação para não ter de suportar “uma renda de €600, que é um ordenado mínimo [€665]”.
Esplanadas, missas, eventos, viagens, lares: 12 detalhes que ainda não sabíamos sobre as novas restrições de 1 de dezembro
André já colocou esta questão ao médico de família, que também segue o pai. “Só nos deixam fazer o teste de forma comparticipada se tivermos sintomas. Não vamos mentir ao médico de família e até seria esquisito ele prescrever 12 testes num mês.”
Se forem excedidos os quatro testes, os portugueses podem contar com uma nova despesa. Por exemplo, uma saída à noite que fique por €25 pode duplicar de preço se for feito um teste rápido de antigénio — que custa em média €25. E pode quadruplicar de preço se for feito um PCR, que custa normalmente €100.
O mesmo vale para ir a um concerto (sem lugares marcados) ou a um jogo de futebol: terá sempre de se contar com uma despesa extra, a que já não estávamos habituados, se os quatro testes comparticipados já tiverem sido usados no mesmo mês. Aplica-se o mesmo a uma ida ao restaurante, a um hotel, a um evento com lugares marcados ou até mesmo a um ginásio — para as pessoas que não se vacinaram e que não recuperaram da doença há pouco tempo.
QUE TESTES VALEM? AUTOTESTES PODEM SER USADOS?
Em todos estes casos, quer para os vacinados quer para os não vacinados, são exigidos os testes rápidos de antigénio (válidos até 48 horas) ou os PCR (até 72 horas). O Governo não mencionou a possibilidade de, em alternativa, serem admitidos os autotestes para aceder aos espaços, ao contrário do que aconteceu durante o verão.
Como se lê neste artigo, o Expresso enviou ao gabinete do primeiro-ministro várias dúvidas sobre a aplicação das novas medidas de contenção, deixadas em aberto na intervenção de António Costa. O esclarecimento é que o despiste nas situações obrigatórias requer um teste PCR ou um teste rápido de antigénio, como os que se realizam nas farmácias.
A ministra da Saúde, Marta Temido, também clarificou na última sexta-feira que só valem os PCR ou os rápidos de antigénio nas visitas aos lares e aos hospitais. O autoteste é “mais caseiro, de utilização individual e simples, deteta como a pessoa está naquele momento, é uma informação”, justificou. Assim, os autotestes não serão válidos — pelo menos para já.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL