Cientistas da Universidade do Algarve e da associação Oceana encontraram “uma grande quantidade” de lixo no fundo do mar, perto do Cabo de S. Vicente, no sudoeste da costa algarvia, e estimam que deverá aumentar no futuro.
O estudo científico, publicado no Marine Pollution Bulletin (boletim sobre poluição marinha) e agora divulgado, “assinala o aumento de lixo nas profundidades marinhas do sudoeste de Portugal” e, em apenas três imersões do ROV (um robô submarino) no canhão de São Vicente, foram descobertos 115 resíduos, alguns a mais de 500 metros de profundidade, a maioria relacionada com a actividade de pesca.
Este tipo de resíduos degrada-se lentamente em zonas profundas, “sendo previsível” que o seu número tenda a aumentar, referem os cientistas da Universidade e da associação internacional Oceana, dedicada à conservação dos oceanos.
“Praticamente nove em cada dez resíduos encontrados no canhão de São Vicente são cabos e redes abandonadas, o que é muito preocupante, uma vez que são feitos com materiais sintéticos resistentes” e os seus processos de degradação são muito lentos nas zonas profundas, segundo o director de investigação da Oceana na Europa, Ricardo Aguilar, citado na informação.
Por isso, “ou são adoptadas medidas para evitar a perda de matérias de pesca ou a quantidade de resíduos irá aumentar continuamente nos próximos anos”, concluiu.
Mais de 80% das descobertas ocorreram em zonas rochosas
Cerca de um terço dos resíduos documentados cobria parte do fundo oceânico ou afectavam directamente a fauna e os investigadores apontam “inúmeros casos” de corais, gorgónias, ouriços-do-mar e crinoides emaranhados nos materiais de pesca perdidos.
Salientam ainda que mais de 80% das descobertas ocorreram em zonas rochosas, onde é mais fácil os resíduos ficarem agarrados.
Naquela região do Algarve, no concelho de Vila do Bispo, acrescentam, a pesca é uma actividade “bastante importante” do ponto de vista socioeconómico e o que foi observado no canhão de São Vicente é semelhante ao descrito para outras zonas do globo, onde aquele sector é dominante.
“Infelizmente, os métodos de controlo e minimização da perda de artes de pesca são actualmente ineficazes. Os efeitos a longo prazo e a forma como as artes perdidas e outras formas de lixo marinho afectam as comunidades bentónicas ainda são pouco conhecidos, particularmente nas zonas mais profundas do oceano”, alertou o investigador do Centro de Ciências do Mar (CCMAR), da Universidade do Algarve, Frederico Oliveira.
Os habitats marinhos profundos, muitos deles ainda pouco estudados, integram espécies de crescimento lento que podem ser “bastante vulneráveis” a perturbações como a presença de materiais estranhos, ou poluentes, explicou o cientista, igualmente citado pela Oceana.
O canhão de São Vicente situa-se a 12 quilómetros da costa portuguesa, ao largo de Sagres, e mede 120 quilómetros de comprimento.
O estudo publicado no Marine Pollution Bulletin baseou-se em três imersões do ROV a 93 e 553 metros de profundidade e, no total, os cientistas analisaram mais de nove horas de gravações.
(Agência Lusa)