Boris Johnson mantém o desconfinamento no Reino Unido em junho, apesar dos surtos da variante indiana de covid-19. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou esta sexta-feira, numa conferência de imprensa, que o plano de desconfinamento no Reino Unido se vai manter para junho, apesar do aumento de surtos no país com a estirpe indiana. “Estamos preocupados com essa variante e pode causar alguma interrupção nas nossas tentativas de continuar o plano [do desconfinamento]”.
Boris Johnson adiantou que, apesar dos surtos da estirpe indiana, “não muda a avaliação da etapa três e os números gerais em todo o país permanecem baixos e bastante estáveis”. A mensagem do primeiro-ministro britânico é a de que os cidadãos “têm de estar conscientes dessa variante”.
Questionado, durante a conferência de imprensa, sobre a possibilidade de ter de adiar o plano de suavização das restrições a 21 de junho, Boris Johnson respondeu aos jornalistas que “nesta fase ainda não podemos especular sobre isso” e que dentro de algumas semanas haverá mais notícias sobre o assunto.
Boris Johnson reconheceu que esta conferência de imprensa era “um pouco desapontante”, devido aos recentes aumentos de casos da nova variante indiana, deixando claro que pode ser um risco para os planos de desconfinamento previstos para os britânicos.
O primeiro-ministro britânico não foi conclusivo sobre manter ou não o plano de desconfinamento, alegando que “ainda há coisas que não conhecemos sobre essa variante [indiana]”, e referiu que “também é possível que continuemos a estar no caminho certo”.
Mas Boris Johnson clarificou na conferência de imprensa desta sexta-feira que o calendário para o Reino Unido avançar o plano de desconfinamento se mantém em vigor, deixando claro que tudo dependerá do evoluir de contágios com a variante indiana, “pode tornar mais difícil passar em junho para a etapa 4″.
MANTÉM-SE A REABERTURA DOS NEGÓCIOS A 17 DE MAIO NO REINO UNIDO. “MAS CADA UM TEM DE FAZER A SUA PARTE”, AVISOU BORIS JOHNSON
Enfatizando a prioridade dos cidadãos britânicos em “serem muito cautelosos, porque as escolhas que faremos nos próximos dias terão um efeito real”, Boris Johnson frisou que “não vamos impedir os negócios de reabrir na segunda-feira (17 de maio), mas cada um é chamado a fazer a sua parte” – o que inclui vacinação prioritária de pessoas sempre que for elegível, o acesso a testes gratuitos ou o isolamento dos trabalhadores, sempre que for pedido.
Bolton, no noroeste de Inglaterra, é a cidade britânica mais afetada pela variante indiana, a B.1.617.2., tendo casos de covid-19 sete vezes superiores à média nacional no Reino Unido. Outra das cidades inglesas mais afetadas pela estirpe indiana é Blackbur.
Os militares serão chamados a ajudar a vacinação nas áreas mais críticas do Reino Unido no que toca à variante indiana – as cidades de Bolton e Blackburn com Darwen – segundo anunciou Boris Johnson, exortando os residentes dessas áreas a “pensarem duas vezes” antes de aproveitarem as liberdades permitidas novamente a partir de segunda-feira.
Foi também anunciado por Boris Johnson disse que o tempo de intervalo entre as duas doses de vacina contra a covid-19 vai ser reduzida no país de 12 para oito semanas no caso de pessoas com mais de 50 anos ou os clinicamente vulneráveis.
O Ministério da Saúde britânico tinha dito na noite de terça-feira que enviou uma equipa especial de rastreamento para a zona de Bolton, com 100 enfermeiros e técnicos de saúde para fazer testes à população em operações porta a porta. Foi também feito um reforço de testagem e rastreamento em 15 outras áreas do país para poder ser feita uma sequenciação dos casos positivos que permita avaliar a prevalência da variante B1.617.2, considerada preocupante pelas autoridades britânicas.
Dados publicados na quinta-feira davam conta de uma duplicação do número de casos, de 520 para 1.310, numa semana, a maioria dos quais no noroeste de Inglaterra, mas também na região de Londres. Estas áreas são também aquelas com um índice de transmissibilidade (Rt) mais elevado, o que fez o valor médio nacional em Inglaterra subir ligeiramente para entre 0,8 e 1,1 (0,8-1 na semana passada). Quando o indicador está acima de 1, a pandemia pode crescer exponencialmente, mas quando está abaixo de 1, significa que está a diminuir.
“Estamos a acompanhar a situação com muito cuidado e não hesitaremos em tomar outras medidas, se for necessário”, disse na altura o ministro da Saúde, Matt Hancock. Embora ainda não existam provas firmes para mostrar que esta variante tem maior impacto na gravidade da doença ou se contorna a vacina, a velocidade com que o número de casos estão a aumentar está a preocupar o Governo.
Alguns autarcas de zonas afetadas apelaram a um reforço da vacinação e o alargamento aos jovens, já que até agora o programa só está aberto a maiores de 38 anos. “Estou furioso. Não consigo entender por que o JCVI ou o Ministério da Saúde estão a impedir os diretores locais de saúde pública de tomarem as medidas que sabem que vão travar o aumento da variante”, disse à BBC o diretor de Saúde Pública em Blackburn e Darwen, Dominic Harrison.
O Comité Conjunto de Vacinação e Imunização [Joint Committee on Vaccination and Immunisation, JCVI] é o organismo que aconselha o Governo sobre a implementação do programa de vacinação, nomeadamente os grupos prioritários. “Se tivermos um aumento da transmissão em grandes números, mesmo se não tivermos hospitalizações, será muito prejudicial para as escolas e locais de trabalho” porque as pessoas terão de ficar em isolamento, vincou Harrison.
Reagindo á conferência de imprensa desta sexta-feira, o secretário de Saúde da oposição, Jonathan Ashworth, acusou Boris Johnson de “falha imprudente e na proteção das nossas fronteiras”, já que a variante indiana ameaça interromper o progresso para acabar com as restrições em junho, segundo o “The Guardian”. O parlamentar trabalhista frisou que “as pessoas em todo o país estarão profundamente preocupadas” e sublinhou o fracasso imprudente de Boris Johnson nas fronteiras britânicas. “Tendo chegado tão longe, não queremos ser atrasados agora”, sublinhou.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso