Equipa da Universidade de Coimbra apresenta nova abordagem médica personalizada no tratamento da dor pós-cesariana.
Um estudo piloto realizado em amostras de ADN de 55 parturientes adultas caucasianas portuguesas submetidas a cesariana programada, seguidas na maternidade do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), mostrou uma associação positiva entre as variantes genéticas da enzima CYP2D6 e a dor.
Realizado, ao longo de dois anos, por uma equipa multidisciplinar de cientistas e médicos coordenada por Manuela Grazina, docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), o estudo revelou que «as variantes genéticas que resultam na ausência ou redução da função enzimática da CYP2D6 estão associadas a mais dor. Este efeito está possivelmente relacionado com uma diminuição da síntese da dopamina pela atividade da enzima CYP2D6 no cérebro.»
«Este é um estudo pioneiro que traz novas perspetivas sobre a abordagem médica personalizada no tratamento da dor pós-cesariana», sublinha Manuela Grazina.
A enzima CYP2D6, além de metabolizar um elevado número de fármacos no fígado, «apresenta atividade no cérebro e, em condições fisiológicas normais, constitui uma via alternativa para síntese de cerca de 12% de dopamina, um neurotransmissor essencial para o bem-estar, incluindo na resposta analgésica do organismo à dor. A presença de variantes genéticas que se traduzem em atividade enzimática reduzida ou nula levará a menor produção cerebral de dopamina e, portanto, uma pontuação de dor mais elevada», clarifica a cientista da UC.
Considerando que a «dor pós-parto aguda afeta um número considerável de mulheres e 10-15% desenvolvem dor persistente crónica após a cesariana, um estudo que permita um tratamento médico personalizado, de acordo com as caraterísticas genéticas individuais, irá trazer grandes benefícios, permitindo ajustar as doses de analgésico para um tratamento mais eficaz», frisa a também responsável pelo Laboratório de Bioquímica Genética do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC).
Os resultados desta investigação, publicados na revista científica Pain Medicine, são, por isso, um contributo importante «para uma melhor compreensão de como a variabilidade genética da CYP2D6 afeta o resultado da dor. A análise genética do gene CYP2D6 constitui uma ferramenta promissora, rápida, acessível e credível, com uma contribuição muito significativa para a estimativa das necessidades analgésicas no tratamento da dor pós-cesariana», conclui Manuela Grazina.
A dor é considerada um processo dinâmico e complexo que envolve ações em múltiplos locais, incluindo o genoma das células do sistema nervoso central. De acordo com a International Association for the Study of Pain, “dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável associada com danos reais ou potenciais em tecidos, ou assim percecionada como dano” e “continua a ser uma das grandes preocupações da Humanidade”.
Cristina Pinto (Assessoria de Imprensa – Universidade de Coimbra)
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva