São minúsculas, silenciosas e parecem surgir do nada, mas têm um alvo claro: a fruta madura. As moscas-da-fruta, conhecidas cientificamente por Drosophila melanogaster, instalam-se nas cozinhas quando encontram alimentos em fermentação. A fruta mais comum nas fruteiras portuguesas é também uma das mais tentadoras.
O que realmente as atrai
O segredo está no aroma. Frutas e legumes que passam do ponto libertam compostos voláteis da fermentação, como etanol e ácido acético, que funcionam como um autêntico convite para as moscas-da-fruta. Segundo a University of Maryland Extension, serviço de extensão universitária da Universidade de Maryland com competência reconhecida em entomologia e gestão de pragas, esses odores doces e ligeiramente ácidos são tão eficazes que bastam pequenas quantidades de resíduos, como cascas ou restos de sumo, para atrair dezenas de insetos em poucas horas.
Bananas no centro do problema
Entre as frutas comuns nas fruteiras portuguesas, a banana muito madura é uma das mais atrativas. Quando a casca escurece e a polpa amolece, intensificam-se os cheiros produzidos pelas leveduras presentes à superfície. Esse “perfume” doce e fermentado é praticamente irresistível para as moscas. Uvas abertas, pêssegos com pequenas fissuras ou pedaços de melão esquecidos seguem o mesmo caminho, tornando-se focos ideais de reprodução.
O papel invisível das leveduras
Apesar de parecer que a fruta é o alvo direto, o que realmente atrai estes insetos são os microrganismos que nela crescem. As leveduras transformam os açúcares naturais em compostos voláteis, responsáveis pelo cheiro intenso que guia as moscas-da-fruta até à fonte. É também por isso que copos de vinho, garrafas abertas ou panos húmidos com resíduos orgânicos se tornam, sem se dar conta, locais perfeitos para a sua multiplicação.
A fruteira também influencia
O local onde se guarda a fruta pode acelerar ou atrasar o problema. Quando colocada junto a janelas soalheiras, ao fogão ou a outras fontes de calor, a fruteira transforma-se numa pequena estufa que acelera o amadurecimento. Especialistas em entomologia recomendam optar por locais frescos e bem ventilados, além de separar as bananas das restantes frutas, uma vez que libertam etileno, gás que apressa o processo de maturação das vizinhas.
Pequenos gestos com grande impacto
Reduzir a presença destes insetos não exige produtos químicos. Lavar a fruteira com frequência, guardar no frigorífico as frutas mais sensíveis e remover diariamente as que já estão muito maduras são medidas eficazes. Também o simples hábito de limpar bem as bancadas e ralos, eliminando restos de sumo ou pontos húmidos, impede que as moscas encontrem locais de reprodução.
Quando já estão dentro de casa
Se a infestação estiver instalada, é importante atuar em simultâneo. Fechar bem o lixo orgânico, substituir panos e esponjas e limpar com água quente as zonas mais afetadas ajuda a quebrar o ciclo. O vinagre de maçã pode servir como armadilha natural: colocado num pequeno recipiente com uma gota de detergente, atrai e elimina as moscas que ainda circulam pelo ambiente.
O problema tende a agravar-se rapidamente porque as moscas-da-fruta têm um ciclo de vida curto e altamente reprodutivo. Cada fêmea pode pôr até cerca de 500 ovos, que em poucos dias se transformam em novos adultos. É por isso que o controlo imediato, mesmo em pequenas quantidades de fruta passada, faz diferença entre resolver o problema em dois dias ou ver a infestação repetir-se todas as semanas.
Quando a prevenção é a melhor defesa
Manter o ambiente limpo e seco é a solução mais fiável. A University of Maryland Extension sublinha que eliminar as fontes de fermentação e humidade é a medida mais eficaz para manter estas moscas longe das cozinhas. Fruteiras arejadas, frutas no ponto certo e uma rotina de limpeza regular são o suficiente para devolver a tranquilidade à bancada.
As moscas-da-fruta são mais frequentes com o tempo quente, sobretudo do fim do verão ao outono, mas é possível reduzir a sua presença. A banana demasiado madura é um dos principais chamarizes e, ao removê-la a tempo, corta-se o problema pela raiz. Mais do que uma questão de higiene, é uma forma simples de evitar que um pequeno descuido se transforme numa praga doméstica.
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