Durante anos, o peixe azul tem sido recomendado como essencial para manter a saúde do coração, sobretudo graças ao seu elevado teor de ácidos gordos ómega-3. No entanto, começa a ganhar força uma nova proposta, que aponta noutra direção. O conceituado chef espanhol Ángel León, conhecido como o “Chef do Mar”, defende que o futuro da alimentação pode passar por um peixe branco muitas vezes esquecido.
O peixe que só filtra o mar
Ángel León dá a conhecer esta visão no documentário Chef’s Table, da Netflix, onde partilha a sua paixão pelo mar e pelas espécies pouco valorizadas. “É da tainha que vêm as famosas ovas de botarga”, recorda o chef espanhol, que vê neste peixe um exemplo claro de eficiência biológica e sustentabilidade.
Este peixe branco é abundante nas águas quentes do Mediterrâneo durante o verão. Segundo Ángel León, citado pelo Petitchef, é uma espécie com um comportamento ecológico notável, já que não se alimenta de outros animais marinhos, como camarões ou pequenos peixes. Em vez disso, filtra o mar com a boca aberta, tal como os mexilhões, recolhendo micro-organismos e matéria orgânica suspensa.
Crescimento rápido e custos reduzidos
A tainha é ainda um peixe com elevada capacidade de crescimento, o que reforça o seu interesse económico e ambiental, refere o Guia Pescado. “Pode ganhar três, quatro ou até cinco quilos em menos de dois anos”, afirma Ángel León, sublinhando que isso representa um aproveitamento muito eficiente dos recursos marinhos, com baixo impacto ecológico.
Para o chef do restaurante Aponiente, distinguido com três estrelas Michelin, esta é uma das espécies com maior potencial de resposta às exigências do futuro. “Acredito que este peixe, que apenas filtra o mar e produz tanta biomassa para alimentação, pode, sem dúvida, ser um dos peixes do futuro”, defende.
Um perfil nutricional promissor
Também do ponto de vista nutricional, a tainha apresenta argumentos sólidos. É rica em proteínas de elevada qualidade e em ácidos gordos ómega-3, além de conter fósforo, potássio, magnésio, selénio, ferro e várias vitaminas, como a B12, B6, D e A.
Estes nutrientes são importantes para o bom funcionamento do sistema cardiovascular, do cérebro e das defesas do organismo, o que coloca a tainha como uma alternativa válida ao peixe azul mais consumido, como a sardinha ou a cavala.
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Um mercado ainda pouco explorado
Em Portugal, onde o consumo de peixe é dos mais elevados da Europa, com cerca de 55 quilos por habitante por ano, ainda existe uma grande concentração em espécies como o bacalhau, a sardinha e o atum. Apesar da vasta costa e da riqueza dos mares, a tainha continua a ser pouco valorizada na alimentação portuguesa.
Esta tendência poderá, no entanto, começar a mudar. A diversificação do consumo de peixe tem vantagens claras, tanto para a saúde como para a sustentabilidade dos recursos marinhos. Valorizar espécies mais abundantes e menos procuradas comercialmente pode ajudar a aliviar a pressão sobre as espécies em risco e promover práticas de pesca mais equilibradas.
O apelo à sustentabilidade
Num mundo onde a procura por proteína de origem animal não para de crescer, encontrar alternativas sustentáveis torna-se cada vez mais urgente.
A tainha, pela sua forma de alimentação, rápido crescimento e valor nutricional, encaixa neste perfil de maneira natural.
Como lembra Ángel León, o importante é garantir que o peixe consumido vem de fontes responsáveis, respeitando os períodos de defeso e os métodos de captura adequados. Só assim será possível proteger os ecossistemas marinhos e garantir peixe para as gerações futuras.
Repensar o prato, respeitar o mar
A proposta do “Chef do Mar” é mais do que uma sugestão culinária. É um convite a redescobrir espécies que sempre estiveram nos nossos mares, mas que têm sido deixadas de lado. A tainha poderá mesmo representar uma nova etapa na forma como nos relacionamos com o mar e com aquilo que colocamos no prato. Um passo em frente no caminho da sustentabilidade alimentar.
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