Uma carta anónima foi enviada para várias entidades da saúde a denunciar a existência de queixas relativas ao cirurgião que foi nomeado pela Ordem para coordenar a Comissão Independente que investiga suspeitas de má prática no Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro avança o DN.
Segundo a mesma fonte, o bastonário confirmou ter recebido o documento e revela que o reencaminhou para o Conselho Disciplinar para averiguação. Considera, no entanto, que a informação constante não afeta a idoneidade do trabalho da comissão. O médico em causa diz “nada ter a declarar”.
Joaquim Abreu de Sousa, diretor do Serviço de Cirurgia do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, foi nomeado pela Ordem dos Médicos para ser coordenador da Comissão Independente para investigar as suspeitas de má prática em 11 casos no Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro, pouco tempo depois, chegava à Ordem uma carta anónima onde era referido que essa nomeação era “um verdadeiro escândalo”, porque “este médico não reúne as mais elementares condições do ponto de vista ético e moral para a função”.
A carta foi à Ordem dos Médicos, mas também ao Ministério da Saúde e à Procuradoria-Geral da República (PGR). O DN também teve acesso e refere que a carta começa por dizer que Joaquim Abreu de Sousa é “amigo pessoal do diretor do Serviço de Cirurgia do Hospital de Faro (o profissional em causa nesta investigação), com quem tem um protocolo para formação de internos de cirurgia” e que sobre ele pendem várias queixas em várias entidades da Saúde e da Justiça.
“É estranho aparecer uma carta anónima no meio de um processo que é de enorme complexidade e para o qual é necessário tranquilidade e isenção para o avaliar aprofundadamente. Portanto, haver uma denúncia anónima deste tipo, só posso pensar que é uma forma de pressão para tentar interferir neste processo”, refere o bastonário.
A carta questiona se o bastonário desconhecia que o cirurgião do IPO do Porto já “foi alvo de inúmeras queixas” junto da Ordem dos Médicos, da Inspeção Geral das Atividades de Saúde (IGAS), Entidade Reguladora da Saúde e do MP, inclusive por “má prática”, da qual terá resultado “danos graves” para os “pacientes”.
Alerta ainda para uma queixa que terá dado entrada contra o cirurgião do IPO do Porto por desvio de doentes para a atividade em clínica privada.
“Parece V. Exa. desconhecer que, desde setembro de 2021, e com o conhecimento de todas as entidades citadas, incluindo Ordem dos Médicos e Conselho de Administração do hospital onde exerce, está a decorrer um novo processo no Ministério Público contra o Dr. Joaquim Abreu de Sousa, por queixa de desvio de doentes para a sua atividade em clínica privada”, o que constitui “grave abuso de poder”.
A estas questões junta-se ainda outra denúncia: a de que este cirurgião fomenta no próprio serviço uma “cultura de trabalho tóxica, de perseguição e de relação de assédio moral agravado e constante misoginia”.
O DN contactou a PGR, mas a resposta que obteve dos serviços foi a de que, após, “efetuadas pesquisas com os elementos fornecidos, no DIAP do Porto, o sistema informático não devolveu resultados positivos, não tendo, assim, sido possível localizar qualquer inquérito”.
A IGAS foi também questionada sobre todas as queixas referenciadas na carta enviada à Ordem e que quem a enviou diz “desconhecerem-se quaisquer resultados”. Mas após várias insistências por email, o DN não conseguiu obter qualquer resposta da IGAS. O bastonário Carlos Cortes disse desconhecer se há processos a decorrer nos Conselhos Disciplinares sobre o médico em causa, explicando que cada região – Norte, Centro e Sul – tem o seu Conselho Disciplinar e que estes “funcionam de forma completamente independentes, e sem qualquer intervenção de outros órgãos ou do bastonário”.
Sobre o caso da denúncia sobre o Hospital de Faro, Carlos Cortes afirma que quer um tratamento irrepreensível por parte da Ordem dos Médicos e que lhe incomoda “esta tentativa de criar instabilidade num processo em que a Ordem [dos médicos] tem três organismos a trabalhar nele. Quero que a Ordem seja irrepreensível a avaliar e a interferir”.