A arruada do Chega em Portimão arrancou com uma interpelação de Manuela, auxiliar de ação médica e cristã, que recordou a André Ventura a doutrina católica do perdão.
Manuela, que não quis dar o último nome, com ‘t-shirt’ e bandeira do Chega, interpelou André Ventura logo à chegada, para o relembrar das suas declarações nos debates das presidenciais de 2021, em que disse que “não faria mal” cortar a mão a alguns ladrões.
“Fiquei muito triste” quando Ventura disse isso, notou Manuela, dirigindo-se ao presidente do Chega – de católica para católico -, recordando uma parábola da Bíblia em que Jesus Cristo cura a orelha de um homem que o ia capturar, e que tinha sido cortada pela espada do discípulo Pedro.
“Jesus Cristo deu-nos duas vias – a da direita e a da esquerda – o homem é livre para poder decidir”, frisou, fazendo alusão ao bem e ao mal.
Na resposta, André Ventura disse que “há uma bandidagem em Portugal que tem que ter mão pesada da justiça”, frisando que a ideia de cortar a mão “é uma imagem”.
“Não acha que essas pessoas são recuperáveis?”, questionou Manuela.
“Imaginem que violam a sua filha ou a sua mãe e que a matam depois. Acha justo que ao fim de sete anos [a moldura penal para homicídio qualificado é entre 12 e 25 anos] estejam cá fora? Nós não achamos e por isso é que defendemos a prisão perpétua revista de 25 em 25 anos”, disse Ventura, despedindo-se rapidamente de Manuela e arrancando a arruada em direção à Praça 1.º de Maio.
Aos jornalistas, Manuela, que não ficou satisfeita com a resposta do líder do Chega, referiu que tinha a ‘t-shirt’ e a bandeira do partido porque lhe apetecia e afirmou que não vai votar no Chega.
Antes, tinha encetado um diálogo com o presidente da distrital de Faro do Chega, João Graça, que começou por falar da saúde na região, mostrando descrença de que aquele partido consiga cumprir as promessas.
Durante a conversa, João Graça disse que “nem todos os números são verdadeiros” relacionados com a covid-19, com Manuela a contrariá-lo e a dizer-lhe que esteve “entre a vida e a morte”.
Meia dúzia de militantes, ao aperceberem-se que a comunicação social estava a ouvir as críticas de Manuela, criticaram os jornalistas, aos gritos.
“Estes gajos, este pessoal, recebe todo dinheiro do Governo”, acusou um, com parte da comitiva do Chega a tentar dissuadir os militantes.
ENTRE A PROMESSA DE VOTO E A RECUSA DE PANFLETOS DO PARTIDO EM PORTIMÃO
Pelo curto trajeto da arruada, de 650 metros, que durou menos de meia hora, Ventura foi cumprimentado lojistas e transeuntes pelo centro de Portimão, com vários a prometerem-lhe o voto e a desejarem-lhe “muita força”, mas também houve quem recusasse panfletos ou canetas do partido, como foi o caso de Susana, que apelidou Ventura de “Salazar em ponto pequeno”.
Já no final do trajeto e antes de discursar, um homem brasileiro, cumprimentou-o: “Força! Você é o Bolsonaro de Portugal!”.
Ventura, ao reparar que a Lusa assistia à interação, disse, gracejando: “Não escreva isso. Estou tramado”.
No discurso, perante algumas dezenas de apoiantes, Ventura voltou a alguns temas recorrentes da sua campanha, nomeadamente a promessa de acabar com todas as portagens em Portugal.
Ao mesmo tempo, criticou a forma como PS lidou com a pandemia e com o apoio às empresas mais afetadas, considerando que a covid-19 teve um “especial impacto no Algarve”, assim como a não resolução dos problemas de saúde desta região do país.
“Ao Governo PS, não interessa nada o Algarve. É por isso que anda a esconder-se e não vai à rua” na região, acusou André Ventura.
O líder do Chega voltou, como é hábito nos seus discursos, a falar do combate à corrupção, comprometendo-se, já no primeiro ano da próxima legislatura a propor o aumento da duplicação das penas por crimes de corrupção.
“Talvez assim comecem a fazer menos [crimes]”, disse.