Portugal é um país relativamente pequeno mas esconde muitas diferenças. E os resultados eleitorais espelham-nas bem. As realidades locais sentem-se na hora de fazer as contas aos votos. Seja por causa do nível de vida, da demografia, do desemprego ou da relevância de apoios como o rendimento social de inserção (RSI) que foi, várias vezes, tema de debate na campanha eleitoral.
Para avaliar a influência destes diferentes fatores, o Expresso fez as contas aos resultados por grupos de concelhos em função de variáveis sócio-económicas. Para encontrar desvios face ao resultado nacional e, ao mesmo tempo, detetar eventuais relações com as propostas e o discurso dos partidos.
Ricos versus pobres
O Partido Socialista foi o grande vencedor da noite eleitoral e também o é quando se olha para os concelhos mais pobres ou mais ricos do país. Mas, nem por isso, deixa de haver diferenças. Na média dos dez mais ricos – Lisboa, Porto, Oeiras ou São João da Madeira são alguns exemplos – o PS teve 40,37% dos votos. Ficou ligeiramente abaixo do resultado nacional (41,68%). O mesmo aconteceu ao PSD que se ficou por 27,49%, cerca de três décimas aquém do valor nacional. Saem também a ganhar face à votação global a Iniciativa Liberal (6,72%), o Bloco de Esquerda (5,56%) e a CDU (5,04%). Perde o Chega.
IL teve melhor resultado onde há mais poder de compra
Quando se olha para os dez concelhos mais pobres do país, com base no índice de poder de compra do Instituto Nacional de Estatística, o PS continua frente até com maior votação (44,08%), o PSD tem melhor resultado (38,8% se incluirmos a coligação PSD/CDS na Madeira que entra nestas contas) e encolhem muito dos partidos que ocupam as posições seguintes (Chega incluído). Nestes dez concelhos de menor poder de compra encontram-se, por exemplo, Tabuaço, Celorico de Basto ou Ponta do Sol.
O que preferem os jovens e os mais velhos?
Há também diferenças significativas entre as votações dos concelhos mais jovens e dos mais envelhecidos. Usando na comparação os índices de dependência de jovens (número de pessoas até aos 14 anos por 100 pessoas em idade ativa) e de idosos (número de pessoas com mais de 65 anos por 100 pessoas em idade ativa). Claro que os jovens até aos 14 anos não votam, mas esta estatística é um indicador importante sobre a estrutura etária do concelho.
Livre teve melhor resultado onde há mais população mais jovem
PS e PSD tem votações muito maiores nos concelhos mais dependentes dos idosos – onde se incluem, por exemplo, Alcoutim, Vinhais ou Idanha-a-Nova – enquanto Chega, IL ou Bloco de Esquerda tem melhores resultados nos concelhos mais jovens, como são os casos de Lisboa, Ribeira Grande, Odivelas ou Amadora. Também os partidos mais pequenos como o Livre (ver gráfico em cima) ou o PAN ganham nos concelhos mais jovens.
Concelhos com mais RSI e subsídio de desemprego
O Rendimento Social de Inserção e outras prestações sociais foram tema de campanha. Muito por força do Chega que, em alguns casos, conseguiu arrastar outros partidos para a discussão. Quando se olha para os resultados quem tem maior percentagem de pessoas a receber RSI ou subsídio de desemprego, notam-se algumas diferenças em relação à votação nacional. O PS está ligeiramente acima nos primeiros e um pouco abaixo nos segundos. Já o PSD (somando os votos da coligação com CDS e PPM nos Açores) está praticamente alinhado com o resultado global no caso do RSI mas fica muito aquém nos concelhos com mais subsídio de desemprego.
Resultado do Chega e municípios com mais beneficiários de RSI
No caso do Chega, nota-se uma subida dos valores – acima de 10% e 11%, respetivamente – embora não se possa concluir, sem mais informação, que haja uma relação de causalidade entre as duas coisas.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL