No final das duas semanas de campanha, os objetivos do Bloco de Esquerda (BE) estavam bem traçados: manter-se como terceira força política, evitar a direita no poder e conseguir uma solução governativa à esquerda com um acordo de legislatura com o PS.
Na noite de domingo, estas metas saíram goradas – à exceção da derrota da direita – e as eleições foram um desaire para o partido de Catarina Martins que desde 2015 tinha 19 deputados e na legislatura que agora irá começar ficará apenas com cinco.
Segundo os dados provisórios, os bloquistas caem de terceira para quinta força política em percentagem de votos (se a conta for feita em deputados passam mesmo a ser o sexto partido), tendo 4,46%, 240.257 votos, quando faltam apenas apurar os resultados dos círculos da emigração.
Com cerca de metade dos votos de 2019, o BE passa a ter representação apenas em Lisboa (dois deputados), Porto (dois deputados) e Setúbal (uma deputada) – todos círculos eleitorais em que perdeu mandatos -, deixando ainda de ter eleitos por Coimbra (José Manuel Pureza está de saída do parlamento), Aveiro, Braga, Santarém, Faro e Leiria.
É preciso recuar a 2002, ou seja, há duas décadas – quando o partido tinha apenas três anos de existência -, para encontrar um resultado pior do que aquele que domingo foi expresso pelos votos (então 2,75% e 149.543 votos).
Catarina Martins subiu ao púlpito e depois de uma longa ovação dos apoiantes presentes no Capitólio, em Lisboa, não poupou nas palavras: foi um mau resultado, um dia difícil e uma derrota.
A líder do BE apontou à estratégia do PS, liderado por António Costa, “de criar uma crise artificial para ter uma maioria absoluta” – que durante a campanha bloquista chegou a ser apelidada de “delírio” – e ainda antes de esta ser confirmada, Catarina Martins já dizia que ao que tudo indicava o PS iria ter este resultado.
Segundo Catarina Martins, esta foi “uma campanha muito difícil, com uma bipolarização que como se percebeu era falsa e criou uma enorme pressão de voto útil que penalizou os partidos à esquerda”.
Outro dos motivos que levam a líder bloquista a assumir o “mau resultado” foi a votação do partido de André Ventura, o Chega, que conseguiu 12 deputados e ficou com o lugar do BE como terceira força política.
“Cada deputado racista eleito no parlamento português é um deputado racista a mais e cá estaremos para os combater todos os dias”, prometeu.
A comissão política do BE reúne-se hoje para analisar estes resultados, mas Catarina Martins já foi dizendo aos jornalistas que “nunca foi na sequência de resultados eleitorais” que os bloquistas decidiram a sua liderança, assegurando que a atual direção assume todas as responsabilidades.
Segue-se uma reflexão do partido que vê encolhido o seu grupo parlamentar, perde influência e vê frustrada a intenção de fazer um acordo de governação com o PS.
“As razões do voto no Orçamento do Estado nunca foram tática eleitoral da nossa parte. O facto de termos um mau resultado eleitoral não significa que comecemos a acreditar que o orçamento era bom. Não era, não responde às questões fundamentais do país. As razões da nossa exigência não ficam menores por causa de ser um mau resultado eleitoral”, respondeu Catarina Martins aos jornalistas, afirmando que “a democracia é assim mesmo”.