Em cinco anos de clandestinidade, aquele casal de artistas plásticos tornou-se especialista na falsificação de documentos para outros camaradas clandestinos.
Por volta de 1960, José Dias Coelho e Margarida Tengarrinha, receberam uma nova missão, tão secreta quanto as outras, mas fundamental para o futuro do PCP: a preservação, em fotogramas, tipo microfilme, de um dos tesouros do partido — uma parte do arquivo da organização clandestina.
Num pequeno estúdio fotográfico, cumpriram a tarefa até José Dias Coelho ser assassinado a tiro pela PIDE em dezembro de 1961 (“O Pintor Morreu”, havia de cantar Zeca Afonso).
Hoje, sabe-se que um desses ‘microfilmes’, que esteve escondido até ao 25 de Abril se deteriorou. O outro estará nos arquivos do PCP. Mas “nunca ninguém viu o que eles microfilmaram”, diz ao Expresso o historiador João Madeira. Ninguém fora do partido.
O arquivo secreto do PCP, com notas de reuniões, relatórios da clandestinidade, parte do espólio desaparecido da PIDE, e um manancial de objetos, é o Santo Graal dos investigadores do comunismo português, cujo partido está a comemorar os 100 anos desde o dia 6 de março.
É tão secreto, guardado por uma casta de dirigentes históricos (como atualmente será Domingos Abrantes), que nem os especialistas arriscam certezas quanto à sua localização — estará na Quinta da Atalaia? — e são raros os que já tiveram acesso alargado, mesmo os militantes académicos.
Exatamente a propósito das comemorações do século do PCP, um grupo de cinco historiadores vai divulgar um abaixo-assinado, cujos termos foram combinados ao longo desta semana, a pedir ao PCP para definir regras de consulta da documentação: a ideia surgiu num debate virtual promovido no sábado passado pela Fundação Mário Soares, moderado pela historiadora Fernanda Rolo, com a participação de José Pacheco Pereira, Fernando Rosas, João Madeira e João Arsénio Nunes (que é militante do PCP).
Contactado pelo Expresso, o PCP não comenta por ainda não ter conhecimento da carta.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso