Babuch para a família – que significa menino em dialeto concani, de Goa – António Costa é secretário-geral do Partido Socialista desde 2014. Advogado e sampaísta, foi presidente da Câmara de Lisboa durante oito anos e vice-presidente do Parlamento Europeu. É primeiro-ministro desde 2015 e pode ser reeleito nas eleições legislativas de 30 de janeiro de 2022.
Uma corrida entre um burro e um Ferrari, na Calçada de Carriche, às portas de Lisboa, à hora de ponta, foi um dos momentos altos do início da carreira política. A iniciativa pretendia demonstrar os problemas de acessibilidade ao concelho. António Luís Santos da Costa era, na altura, cabeça de lista do Partido Socialista (PS) à Câmara Municipal de Loures, nas autárquicas de 1993.
“Este quotidiano não é suportável no final do século XX: chegar-se a este absurdo de um burro vencer um Ferrari”, afirmou aos jornalistas na altura.
António Costa
Não conquistou a autarquia à CDU, mas ficou como vereador, até 1995, ao mesmo tempo que exercia a função de deputado.
Político e jurista, António Costa nasceu em Lisboa, a 17 de julho de 1961. Filho do publicitário, escritor e militante do Partido Comunista Orlando da Costa e Maria Antónia Palla, jornalista e a primeira mulher a integrar a direção do Sindicato dos Jornalistas, é considerado um hábil negociador político, seguro, irrequieto, persistente e temperamental.
Alguma família paterna de António Costa é de Moçambique. Mas o avô paterno tinha origem goesa: era descendente de famílias convertidas ao catolicismo oriundas da casta mais alta da Índia.
Meio-irmão do jornalista Ricardo Costa – são filhos do mesmo pai, mas de mães diferentes -, mora em Lisboa, é casado, tem dois filhos – um rapaz e uma rapariga – e é do Benfica.
Até à liderança do Partido Socialista, em 2014, onde se mantém até hoje, desempenhou vários cargos políticos. Foi eleito deputado à Assembleia da República pela primeira vez em 1991, quando tinha 30 anos. Mas foi muito antes, quando tinha 12 anos, que decidiu ser socialista. Foi também com essa idade que, com a personagem Perry Mason, de policiais, decidiu que queria ser advogado. Aos 14, filiou-se na Juventude Socialista (JS).
O atual primeiro-ministro e secretário-geral do PS licenciou-se em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde foi dirigente associativo, e foi admitido na Ordem dos Advogados, em 1988, depois de estagiar no escritório de Jorge Sampaio. Tirou também uma pós-graduação em Estudos Europeus, na Universidade Católica de Lisboa.
O PAPEL DE JORGE SAMPAIO, GUTERRES E SÓCRATES
António Costa apoiou Jorge Sampaio para a liderança do PS contra António Guterres, em 1992. Quatro anos depois, foi seu diretor de campanha para as eleições presidenciais.
Em outubro de 1995, quando o primeiro Governo de Guterres tomou posse, Costa foi nomeado secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares. Depois, passou para ministro dos Assuntos Parlamentares no mesmo Governo, entre 1997 e 1999. Chegou a ser falado num convite para substituir António Vitorino na Defesa, mas Costa terá recusado, alegando falta de experiência.
No segundo Governo de Guterres, foi-lhe atribuída a pasta da Justiça, mas demitiu-se em 2002.
Costa esteve quase sempre ligado ao sampaísmo, distanciando-se apenas nos governos de António Guterres.
Em 2004, António Costa apoiou José Sócrates nas eleições diretas do PS, contra Manuel Alegre e João Soares. No ano seguinte, encabeçou a candidatura do partido no círculo de Leiria, nas eleições legislativas. Com a vitória do PS – que alcançou a sua primeira maioria absoluta – foi convidado para o Governo de Sócrates, tornando-se ministro de Estado e da Administração Interna, de 2005 a 2007.
Enquanto isso, Costa lidera a lista do PS nas eleições europeias, depois da morte súbita de António Sousa Franco. O partido conseguiu um dos melhores resultados: 44,53% e elegeu 12 deputados.
António Costa ruma a Bruxelas e assume a vice-presidência do Parlamento Europeu até 2005.
PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE LISBOA
António Costa chegou à liderança da Câmara Municipal de Lisboa em 2007, depois da demissão de António Carmona Rodrigues. Foi eleito com 29,54% dos votos, contra Fernando Negrão, do PSD. Em 2009 foi reeleito, com 40,22% dos votos e em 2013 com 50,91%. Dois anos depois, renunciou ao mandato, sucedendo-lhe Fernando Medina.
A taxa aeroportuária, isenções para o Benfica, o trânsito e as cheias em Lisboa e algumas declarações marcaram a liderança à frente da maior autarquia do país.
O socialista anunciou uma taxa aeroportuária para turistas, numa altura em que a Câmara precisava de aumentar as receitas para equilibrar as contas. A taxa, que acabou por ser assumida pela ANA – Aeroportos de Portugal, foi criticada pela oposição e por outras autarquias.
As mudanças no trânsito na Avenida da Liberdade e na rotunda do Marquês de Pombal, em 2012, também foram criticadas devido ao caos no trânsito e aos sentidos diferentes em cada troço das laterais da avenida. Além disso, Costa deparou-se com cheias na zona da Baixa Pombalina, Alcântara e zona ribeirinha.
Numa cerimónia de comemoração do Ano Novo Chinês, o autarca disse que Portugal estava muito diferente de 2011, quando Portugal pediu o resgate financeiro:
“(…) a verdade é que os investidores chineses disseram ‘presente’, vieram, e deram um grande contributo para que Portugal pudesse estar na situação em que está hoje, bastante diferente daquela em que estava há quatro anos”. A declaração foi aplaudida pela direita por Costa reconhecer o valor do Governo em funções. No entanto, o socialista disse depois que não se expressou da melhor forma.
António Costa
Quanto ao Benfica, a câmara apresentou uma proposta para isentar o clube do pagamento de uma taxa e de compensações no valor de cerca de 2 milhões de euros, o que levantou algumas dúvidas. Costa acabou por levantar a proposta, depois de trocas de acusações.
António Costa e Rui Rio caminharam lado a lado durante alguns anos. Costa era presidente da Câmara de Lisboa (de 2007 a 2015) e Rio do Porto (de 2001 a 2013). Defenderam, entre outros, o municipalismo, a descentralização e o reforço dos poderes das autarquias. Mas impedir que o PS chegasse à maioria absoluta era importante para o PSD, apostando em algumas fragilidades do Governo. Mais tarde, enquanto líder da oposição, ser apelidado de “cata-vento” pelo socialista levou Rio a assumir uma ruptura na “amizade”.
“Um cata-vento, ao menos, tem pontos cardeais, o Dr. Rui Rio não tem ”, disse em crítica ao PSD.
António Costa
DA LIDERANÇA DO PARTIDO SOCIALISTA À GERINGONÇA
Em 2014, anunciou que ia disputar a liderança do Partido Socialista com António José Seguro. Foi apoiado pelas principais figuras socialistas da altura – Mário Soares e Jorge Sampaio -, mas enfrentou um período de conflito com os apoiantes de Seguro. Costa venceu com mais de 67% dos votos, o que fez com que Seguro se demitisse do cargo de secretário-geral.
Assim, António Costa foi candidato sem oposição nas eleições diretas para o cargo de secretário-geral do PS, reunindo 96% dos votos. No discurso de vitória, disse que era tempo do PS “se concentrar naquilo que é essencial: Portugal e os portugueses”.
Nas legislativas de 2015, Costa passou a ser o candidato do PS ao cargo de primeiro-ministro e venceu as eleições. O derrotado era Pedro Passos Coelho, do PSD, primeiro-ministro desde 2011.
O Governo tomou posse, mas uma moção de rejeição ao programa de Costa foi aprovada, o que obrigou à queda do Governo. Um mês e meio depois, foi indigitado pelo Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que ouviu os partidos com representação parlamentar.
António Costa conseguiu formar Governo com a conhecida “Geringonça”, nome dado pelo então líder do CDS Paulo Portas de forma depreciativa. O executivo socialista conseguiu governar durante quatro anos com um acordo com os principais partidos à esquerda: PCP, Verdes e Bloco de Esquerda.
Em 2019, quatro anos depois, o Partido Socialista ganhou a maioria relativa, mas já não consegue um apoio que garanta a aprovação dos orçamentos. Foi o início do fim da “Geringonça”.
CONDECORAÇÕES
O líder do Partido Socialista foi condecorado em Portugal com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. No estrangeiro, foi distinguido na Noruega, Estónia, Lituânia, Chile, Malta, Polónia, Brasil, Japão, Polónia, Espanha, Grécia e Luxemburgo.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL