Chegámos ao final de agosto e como já é tradicional nesta última semana de agosto os jornais e as televisões inundam-se de notícias, reportagens, diretos e declamações sobre o Ensino Superior. Num momento de regozijo e profundas alterações na vida de mais de 50 mil jovens devemos também fiscalizar a ação governativa, aliás, é exatamente nesta quinzena que se pode e deve avaliar a prestação do Governo na área do Ensino Superior que, infelizmente, não passa do mísero assistencialismo e sem qualquer visão de futuro.
O Ensino Superior, especialmente no Algarve, pode e deve ser o motor da região, ano após ano falamos da diversificação da economia no Algarve, no entanto, continuamos sem qualquer tipo de visão, sem uma estratégia e sem qualquer pingo de vontade política. A grande oportunidade para uma maior autonomia regional reside no Ensino Superior, mas essa também não interessa aos que hoje lideram os destinos do Algarve e do nosso País.
“A verdadeira questão será quantos conseguirão ficar no Algarve durante o curso e quantos destes futuros jovens qualificados iremos conseguir reter na nossa região”
Foi noticiado esta semana que a Universidade do Algarve teve uma taxa de colocação superior à média nacional na 1ª fase, se por um lado esta notícia prestigia não só a Instituição como também a sua Comunidade Académica e toda a região, a verdadeira questão será quantos conseguirão ficar no Algarve durante o curso e quantos destes futuros jovens qualificados iremos conseguir reter na nossa região. Nesta questão do apoio quer à frequência tem de se reconhecer à Associação Académica da Universidade do Algarve pelo seu trabalho complementar às bolsas sociais e pelo número significativo de jovens que consegue apoiar, no entanto, aquela que é a maior dificuldade para os estudantes é e continuará a ser o Alojamento e esse continua sem resposta. No Plano Nacional para o Alojamento no Ensino Superior, em 2018, previa-se um total de 30 mil camas após a sua execução o que significam mais 15 mil camas do que as existentes. O Governo prometeu na mesma altura 12 mil novas camas até 2022 e nada aconteceu. O ano passado, António Costa prometeu 26 mil até 2026 e esta semana a Ministra prometeu 15 mil novas camas até 2026. Ora vamos em 5 anos apenas de promessa em promessa, de um ano para o outro desaparecem 11 mil camas e no site do PNAES podemos ler “15 mil camas intervencionadas até 2026” e não novas camas. Resumindo, em 2023 continuamos com as mesmas 15 mil camas de 2018 e não se vê qualquer solução para o problema. A JSD Algarve enviou, à cerca de 2 meses, uma carta à Senhora Ministra da Ciência e do Ensino Superior alertando para esta situação e questionando quantas camas estavam protocoladas para apoiar os estudantes no ano letivo 2023/2024 e até aos dias de hoje ficámos sem resposta. Soube-se por um Secretário de Estado que as Pousadas da Juventude de Faro e Portimão iriam ter quartos dedicados a Estudantes Universitários, mas quantos? Chegam? Quantos ficam de fora?
A Senhora Ministra veio também dizer esta semana que passaria a existir uma verba superior nas bolsas para colmatar estas falhas, mas que não soube explicar nem quando, nem como e quem seria abrangido, o importante é que havia verba. O valor anunciado cobre facilmente o custo de 7 a 9 mil camas, no entanto, valores adjudicados e em obra não se podem cativar já os valores em “bolsas” podem nunca sair dos cofres do Estado. Continua, assim, o governo a seguir uma política do “atirar areia para os olhos” neste caso “dinheiro para os olhos”. Pura política sem consequência e quem perde somos todos nós.
Noutro espectro, o desenvolvimento do Ensino Superior e o seu impacto na região são demasiado ínfimos neste momento. Dispomos de diversas infraestruturas no Algarve que podem e devem ser utilizadas para fins académicos de forma a rentabilizar as próprias infraestruturas e proporcionar uma verdadeira diversificação da economia pela deslocalização de profissionais e empresas dos centros metropolitanos. Ora vejamos, o Aeroporto de Faro e o Autódromo de Portimão dispõem de um potencial enorme para o desenvolvimento de vários polos de diversos tipos de engenharias, ciências e design, o “Centro Hospitalar Universitário do Algarve” pode ser totalmente convertido em Universidade de Ciências da Saúde abrangendo todas as áreas das tecnologias de diagnóstico até à medicina e com um centro inteiramente dedicado à investigação garantindo assim que os Farenses mantêm um serviço de assistência hospitalar na sua cidade e ao mesmo tempo promovendo a qualificação e a fixação de mais profissionais de saúde especializados no futuro Hospital Central do Algarve, o Porto de Cruzeiros de Portimão pode tão bem ser complementado com um polo universitário dedicado à Náuticas e às Ciências do Mar, o Centro de Competências para a Dieta Mediterrânica em Tavira pode também ele ser um polo universitário dedicado à Agronomia, Alimentação e ao Ambiente, entre tantos outros exemplos que poderia aqui trazer.
O Ensino Superior pode e deve ser o Motor para o desenvolvimento regional do Algarve, haja vontade política para isso.
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