Quarenta e dois anos de história fazem da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) uma das mais antigas e prestigiadas estruturas representativas do Ensino Superior em Portugal e, sobretudo, uma voz ativa na defesa da saúde dos portugueses, incluindo a manutenção de um Sistema Nacional de Saúde forte, justo e humano.
Foi com essa consciência que a ANEM, que celebra este mês o seu aniversário, decidiu auscultar os estudantes. O resultado é um relatório que revela as principais preocupações de quem, dentro de poucos anos, trabalhará no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
As áreas mais destacadas são Saúde e formação médica, mas também igualdade, inclusão e ação social. O retrato é claro: os futuros médicos estão preocupados não só com o seu percurso académico, mas com o próprio modelo de sistema em que irão exercer.
Na Saúde, as queixas concentram-se na sobrecarga horária, baixa qualidade de vida, remuneração insuficiente, falta de literacia em saúde e dificuldades de acesso ao internato médico. Na formação médica, o diagnóstico inclui excesso de estudantes, escassez de tutores, sobrecarga nos estágios clínicos, reduzida oferta de simulação e desigualdades entre escolas médicas.
Na ação social, sobressaem problemas muito concretos: alojamento, custos associados à realização da Prova Nacional de Acesso, ausência de apoio psicológico e tempos de espera longos na saúde mental, bem como dificuldades de transporte e alimentação durante os estágios.
Por fim, no domínio da igualdade e inclusão, os estudantes apontam lacunas na formação para lidar com comunidades LGBTQIAP+, migrantes ou refugiadas, situações de deficiência, violência de género e assédio.
Mais do que uma lista de críticas, este relatório é um sinal de maturidade cívica. Mostra uma geração que não se limita a exigir melhores condições, mas que pensa a Medicina de forma abrangente.
Os resultados desta auscultação constituem, por isso, uma chamada de atenção para a necessidade de políticas públicas que assegurem a sustentabilidade da formação médica, a equidade territorial no acesso aos cuidados e às oportunidades, o apoio efetivo à saúde mental e às condições sociais dos estudantes e, acima de tudo, a valorização da profissão médica e a dignidade do seu exercício no SNS.
É também com este olhar voltado para o futuro que a ANEM apresenta o seu novo lema – A Construir o Futuro da Medicina em Portugal –, que reflete a essência da Federação e a sua visão de futuro. Mais do que um slogan, é uma declaração de missão: a de sermos uma voz qualificada, próxima das Escolas Médicas, dos docentes e dos parceiros institucionais, sempre em defesa de um SNS mais justo, acessível e sustentável.
Ser estudante de Medicina em Portugal é, hoje, um ato de esperança, mas também de resiliência. Esperança num futuro em que possamos cuidar melhor das pessoas. Resiliência perante uma formação cada vez mais exigente, um sistema de saúde em sobrecarga e um país que ainda não garante condições suficientemente dignas a quem escolhe dedicar a vida ao serviço dos outros.
Quarenta e dois anos depois, a ANEM continua a acreditar que representar estudantes é também representar o futuro da saúde em Portugal. Porque o futuro da Medicina depende também da forma como cuidamos de quem está a aprender a cuidar.
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