Organizações Não-Governamentais (ONG) portuguesas que atuam e cooperam em países lusófonos, como em África, que enfrentam desafios na educação, saúde e nutrição, apelam a uma mudança de paradigma para capacitar as comunidades locais.
Em declarações à Lusa a propósito do Dia Mundial de África, que se assinala este domingo, o presidente e fundador da ONG HumanitAVE, Tiago Costa, afirmou que tem de haver uma mudança drástica no paradigma do apoio prestado ao continente africano, com um foco essencial na educação e na capacitação para o desenvolvimento, acrescentando que, em vez da “subsidiodependência”, é fundamental fortalecer o sistema de educação e de saúde “através da formação e capacitação de técnicos locais”, contribuindo assim para uma melhoria dos sistemas dos países.
O presidente da ONG acredita que, sem esta mudança, os países menos desenvolvidos enfrentarão dificuldades ainda maiores, especialmente num mundo onde a “solidariedade em si está cada vez mais afastada das pessoas.”
Já o presidente da organização Helpo, António Metelo, alertou para “um problema gravíssimo” que África “está a defrontar e vai se defrontar (…) que são as alterações climáticas”, exemplificando com os três ciclones que passaram por Moçambique na época das chuvas e que afetaram populações, exigindo à Helpo uma resposta de emergência rápida na ajuda a estas comunidades.
Para o presidente do Instituto Marquês de Valle Flor (IMVF), Paulo Freitas, nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) persistem fragilidades institucionais, dinâmicas migratórias acentuadas e grandes desigualdades de género, adiantando que há uma crescente preocupação com a perda de atenção da Europa em relação a África, enquanto “China, Turquia, Irão e Rússia investem fortemente” no continente, ocupando espaços estratégicos.
Segundo Tiago Costa, a organização, que atua na Guiné-Bissau – um dos países mais pobres, com uma alta taxa de mortalidade infantil e com fragilidades nos sistemas -, procura conhecer as necessidades junto das comunidades locais, atuando assim como um “parceiro complementar e estratégico” em projetos definidos e liderados pelas próprias comunidades, em vez de impor soluções externas.
A sustentabilidade dos projetos da organização enfrentam desafios significativos, nomeadamente a diminuição das “linhas de financiamento para a cooperação, para o desenvolvimento e da educação para o desenvolvimento”, apontou.
Existe uma preocupante “tentativa de silenciar as organizações” que atuam no terreno e alertam para as desigualdades, declarou Tiago Costa, adiantando ser fundamental que as organizações se reinventem e adotem um trabalho estratégico complementar, aprendendo com o histórico “cemitério de projetos” na Guiné-Bissau.
António Peres Metelo destacou que, apesar de as organizações atuarem e cooperarem em África, os desafios que enfrentam têm uma maior dimensão, sendo o trabalho desenvolvido uma “parte útil para a sua resolução”.
Consciente das carências nos sistemas de ensino, a organização, que concentra a sua atuação em Moçambique e São Tomé e Príncipe, países lusófonos, investe em apoio escolar, construção de novas infraestruturas e bolsas de estudo, sendo que, em 2024, foram ajudadas 181 mil pessoas.
Paulo Freitas disse que a visão do IMVF é clara, contribuir para um continente “mais justo, saudável, instruído e próspero”, através de parcerias robustas com Governos, universidades, ‘think-tanks’ e a sociedade civil, reforçando que “o verdadeiro desenvolvimento é inclusivo e ambientalmente consciente”.
Tanto a HumanitAve como a Helpo implementam programas de acompanhamento nutricional para combater a desnutrição e reduzir a mortalidade infantil, problema que o presidente da HumanitAVE afirma ser dos mais preocupantes, com tendência a aumentar.
Paulo Freitas anunciou que o instituto, no futuro, vai apostar numa expansão estratégica das suas ações para outros países africanos, mantendo o foco nos princípios de cooperação, sustentabilidade e apropriação local.
“Onde nós estamos, queremos fazer mais, apoiar mais crianças e ter, de ano para ano, melhores resultados com todos aqueles que estão apoiados”, expressou António Metelo, anunciando que a Helpo está a tentar firmar a sua presença na Guiné-Bissau.
Questionados sobre o significado do Dia Mundial de África para o continente e para as regiões onde atuam, as organizações afirmaram que esta efeméride “tem um valor simbólico muito grande”, pois este dia significa a afirmação da identidade africana e da África independente.
“É uma oportunidade para chamar a atenção para os desafios que persistem, mas também para as oportunidades com a população em mais rápido crescimento e mais jovem do planeta”, acrescentou o presidente do IMVF.
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