Uma investigação do jornal francês Le Parisien trouxe à tona uma prática que, embora conhecida no meio da restauração, raramente é falada abertamente. A denúncia surge com base em testemunhos de empregados e profissionais do setor que admitem ter servido um vinho diferente dos indicado na carta, muitas vezes por orientação direta dos responsáveis dos estabelecimentos.
O método passa por uma substituição discreta: o cliente pede um vinho específico a copo e é-lhe servido outro, de qualidade inferior e preço mais baixo. A troca raramente é detetada, sobretudo porque os copos já chegam à mesa cheios, impossibilitando o consumidor de confirmar a garrafa original.
Uma prática silenciosa, mas generalizada
De acordo com o Le Parisien, esta forma de engano é mais comum do que se pensa, em especial em zonas turísticas ou durante períodos de maior afluência, como o verão. A publicação francesa refere que esta prática visa aumentar as margens de lucro, sem necessidade de alterar os preços da carta.
Segundo o jornalista Mathieu Hennequin, que assina a investigação, vários empregados relataram ter sido instruídos a seguir este procedimento. A escolha do vinho servido é feita de forma a enganar o paladar do cliente menos experiente, mantendo uma aparência de normalidade.
Vinho servido sem que se veja a garrafa
Um dos aspetos que permite o sucesso da manobra é a forma como os vinhos são apresentados. Em muitos restaurantes, especialmente quando se trata de doses individuais, o vinho já vem servido no copo. Esta prática, aparentemente inofensiva, impede qualquer verificação visual por parte do consumidor.
Escreve o jornal que a troca pode ocorrer mesmo quando os vinhos têm origem na mesma região ou partilham a designação de castas semelhantes, o que dificulta a deteção da fraude.
Happy hour com misturas improváveis
Uma profissional do setor com mais de 30 anos de experiência na restauração parisiense admitiu ao Le Parisien que, durante as promoções de final de tarde, como o happy hour, é comum recorrer à mistura de restos de garrafas diferentes na mesma jarra, com o intuito de evitar desperdícios.
Segundo a mesma fonte, esta prática é justificada, internamente, como uma medida de gestão de stock, mas não é devidamente comunicada aos clientes, que julgam estar a consumir um vinho específico.
Recomendamos: ‘Truque’ para hortas caseiras: esta é a planta que deve cultivar ao pé dos tomateiros para que estes cresçam mais rápido
O impacto na confiança dos consumidores
A revelação reacendeu o debate sobre a transparência no setor da restauração. Organizações de defesa do consumidor já alertaram para a necessidade de maior fiscalização e educação dos clientes. Pedir uma garrafa fechada e acompanhar o serviço pode ser, segundo especialistas, uma das formas mais eficazes de evitar situações deste género.
Escreve o Le Parisien que, embora esta prática não seja legal, é difícil de provar, o que torna a sua correção mais complexa.
Como reduzir o risco de ser enganado
Para evitar surpresas, os profissionais aconselham a optar, sempre que possível, pela garrafa, mesmo que seja partilhada ou consumida em várias etapas. Desta forma, o cliente pode verificar o rótulo e acompanhar o serviço desde a abertura até ao copo.
Outra recomendação passa por observar se o vinho é servido diretamente à mesa e se a garrafa permanece visível durante a refeição. Em caso de dúvida, não hesite em perguntar ao empregado qual a referência concreta do vinho servido.
Um problema transversal, mas pouco fiscalizado
Segundo vários relatos reunidos pelo Le Parisien, esta prática não se limita a estabelecimentos de gama baixa. Alguns restaurantes com aspirações gastronómicas recorrem à mesma técnica, especialmente em situações de elevado fluxo de clientes ou em eventos com consumo avultado de bebidas alcoólicas.
A ausência de regulamentação clara sobre o serviço de vinho a copo dificulta a intervenção das autoridades e deixa o consumidor numa posição vulnerável.
Confiar no paladar, ou na transparência do restaurante
Embora seja possível detetar certas diferenças organolépticas entre vinhos de gamas distintas, a maioria dos consumidores não dispõe da experiência ou da memória sensorial necessária para o fazer com segurança. O que resta, na prática, é a confiança no estabelecimento e nos seus profissionais.
A denúncia lançada pelo jornal francês poderá contribuir para uma maior sensibilização sobre esta prática, encorajando clientes e reguladores a exigir mais clareza no serviço de vinho, sobretudo quando o que está em causa é pagar mais por algo que, afinal, não se está a consumir.