- Por João Tavares
Uma boa parte dos turistas estrangeiros que tem o Algarve como destino nesta altura do verão, e que chegue de avião ao Aeroporto de Faro, o mais certo é que mal aterre pegue no telemóvel e chame uma viatura TVDE [transporte individual e remunerado de passageiros em veículos descaracterizados a partir de plataforma eletrónica], uma vez que é um serviço prestado em muitos países estrangeiros e com grande sucesso.
O que muitos não sabem é que o motorista que os vai transportar ao resort ou ao hotel onde vão gozar um período de férias pode estar ilegal no país, ser vítima de tráfico de pessoas e estar a ser explorado, ou até mesmo estar a viver dentro do carro em condições muito pouco dignas.
O cenário é confirmado pela presidente da Associação Nacional Movimento TVDE (ANM-TVDE), que não esconde algum desconforto pela maneira como o setor está a ser regulado. Pede mais e melhor… para clientes e motoristas (são cerca de 70 mil a nível nacional).
Como é hábito nesta altura do ano, o Algarve torna-se numa região-chave para muitos setores da atividade económica: restauração, hotelaria, e o serviço TVDE não quer ficar de fora, a ponto de muitos profissionais do setor migrarem temporariamente para o sul do país.
“O Aeroporto de Faro é uma espécie de mina de ouro para os motoristas TVDE, pois quem chega ao Algarve tem de ir para o destino, seja Portimão, Vila Real de Santo António ou outro local. E há quem siga para Lisboa e depois regresse ao Algarve. São muitos quilómetros percorridos, as distâncias nunca são curtas, o que torna o negócio mais rentável”, avança Ângela Reis. Rentabilidade essa que no verão enche o sul de Portugal de motoristas TVDE.
Cerca de 30 por cento dos motoristas TVDE acabe por rumar ao Algarve
“Estimamos que cerca de 30 por cento dos motoristas que trabalha na grande Lisboa acabe por rumar ao Algarve a determinada altura do verão. Tudo o que querem é fazer muito dinheiro em pouco tempo”, avança a responsável máxima da associação, que deu mesmo um exemplo ao Postal do Algarve.
“Na zona de Lisboa, um motorista que trabalhe cinco horas faz a muito custo cerca de 70 euros, isto numa altura de grande fluxo e sem interromper o serviço. Essas mesmas cinco horas no Algarve dão para triplicar o valor”. O número crescendo de turistas e os grandes eventos algarvios acabam por ser a grande fonte de receita.
Mas essa procura pelo ‘ouro’ tem um preço. É que os profissionais não residentes no Algarve não têm, muitas vezes, onde ficar, seja pela lotação completa ou pelos preços proibitivos na oferta hoteleira. “Alguns conseguem alugar casa, outros partilham essa mesma casa, há quem fique em parques de campismo, mas há casos de pessoas a comerem e a dormirem dentro dos carros”, relata Ângela Reis. “É uma precariedade que não dignifica o setor TVDE”.
Motoristas estrangeiros também são vítimas
Um dos pontos que mais tem indignado a sociedade portuguesa é o número cada vez mais crescente de motoristas estrangeiros, grande parte deles indostânicos, que trabalham sem sequer saberem falar português. Cenário que coloca logo várias questões: Como comunicam com o passageiro estes motoristas vindos de países como a Índia, Paquistão, Nepal ou Bangladesh? Como passaram um teste final do curso de TVDE todo escrito em português? Como é que chegam a Portugal e duas semanas depois estão a trabalhar como motoristas?
“Existem vídeos na net de pessoas a serem angariadas nos seus países para virem trabalhar para Portugal. Vêm iludidas para a agricultura, restauração e agora cada vez mais para o setor da TVDE. E depois acabam por ser exploradas. Estes motoristas estrangeiros também são vítimas”, conta ao Postal do Algarve a presidente Ângela Reis, afirmando que muitos deles são bons profissionais. “Mas depois existem aqueles que têm problemas na condução, estão habituados à maneira de conduzir do país deles, que não se adequa ao nosso país. Dizem que em Portugal existem demasiadas regras”.