Num verão que promete ser diferente, o maestro Armando Mota, diretor artístico do festival “As Outras Noites de Albufeira”, explica ao Postal do Algarve a ousadia desta iniciativa: “Quisemos criar algo único, que desafiasse a programação cultural tradicional do Algarve”. Com cinco espetáculos que unem música erudita, dança moderna e fado sinfónico, o festival surge como uma alternativa à oferta turística habitual. “Na Europa, estes eventos são comuns. Porque não aqui?”, questiona o maestro, citando exemplos como Salzburgo ou Bregenz.
Com bilhetes a 20€ e lugares para dois mil espectadores, a aposta na acessibilidade e na qualidade é clara. “É um risco, mas necessário”, admite, referindo-se aos desafios logísticos e meteorológicos. A programação inclui nomes como António Rosado, Anabela e a Orquestra Sinfónica do Algarve, culminando com a “Carmina Burana” em setembro.
“Albufeira está a tornar-se num palco de excelência cultural”, conclui Mota, destacando o apoio do presidente José Carlos Rolo. Um projeto que, com continuidade, promete transformar o destino.
Porquê este nome “As Outras Noites de Albufeira”?
Porque o Município quer oferecer uma alternativa ao que já se faz, tanto em Albufeira como no Algarve. Algo nunca antes feito. Como o nome diz, Albufeira vai ser diferente. São outras noites. Nunca, no Algarve, no verão, alguém se atreveu a fazer um festival com música erudita e dança moderna. Nem em Lisboa.
Acha que vai ter público?
Não sabemos, mas estamos confiantes e, acima de tudo, era necessário fazer algo diferente e que distinguisse o Município, líder do turismo algarvio. Mas, como tudo, se houver continuidade, com o tempo, tenho a certeza de que irá ser uma referência no futuro.
Qual o seu papel no festival?
Eu sou o diretor artístico, e autorizo-me a dizer que sei um pouco disto. Com 60 anos de carreira como músico e 20 como programador, infelizmente, na região, tenho poucos companheiros.
“Há uma linha que se tem de começar a traçar, que separa o entretenimento da cultura”
Não acha arriscado fazer música erudita?
Não! Na Europa, à qual pertencemos, existem festivais deste género: Waldbühne em Berlim, Lago di Como em Itália, Bregenz, Salzburgo e tantos outros. As pessoas, à noite, têm de ter alguma forma de entretenimento, e nem toda a gente gosta de ir para discotecas, bares ou estar a abanar a luz do telemóvel. Há uma linha que se tem de começar a traçar, que separa o entretenimento da cultura.
Onde vão ser os cinco espetáculos?
Na Marina de Albufeira, que é um espaço muito agradável, e no dia 21 de agosto, na Praia dos Pescadores, integrado nos festejos do dia da cidade.
Acha o valor do bilhete acessível para um espetáculo destes?
Sim! Acho que 20€ (preço único) é, nos dias de hoje e para a altíssima qualidade dos espetáculos, quase um valor simbólico.
Sente que Albufeira tem vindo a apostar na cultura?
Apesar das limitações do município em termos de espaços para espetáculos, nos últimos anos, tem-se verificado um aumento exponencial de espectadores (a maioria estrangeiros) no “Algarve Classic”, que é o programa da autarquia com uma programação regular – a chamada temporada. Ultimamente, temos as salas esgotadas. É o fruto da aposta do presidente José Carlos Rolo, que começa a dar frutos. A aposta na cultura é fundamental, e o presidente há muito que interiorizou essa valência tão importante.
Um espetáculo ao ar livre é um pouco arriscado por causa do tempo, não acha?
Sim, mas é um risco que temos de correr.
Quantos espetáculos vão ser?
Cinco. Quatro na Marina de Albufeira e um na Praia dos Pescadores.
Quantos lugares vão estar disponíveis?
Dois mil.
Acham que vão ter muito público?
A divulgação é uma matéria muito complicada no Algarve. Estamos a trabalhar nisso, mas ainda vai levar tempo. No entanto, acreditamos que iremos ter muita audiência.
Quais são os artistas que vão participar?
No dia 5 de julho, temos um dos maiores pianistas portugueses, o António Rosado, com a Banda Sinfónica Portuguesa. Vão tocar Gershwin.
No dia 19 de julho, temos a apresentação da única peça portuguesa escrita que aborda as alterações climáticas. É uma história sobre as ilhas da Culatra e Armona. Vai ser o Quorum Ballet e a Orquestra Sinfónica do Algarve. Dia 16 de agosto, vamos ter um “Fado Sinfónico”, com a Anabela a cantar Amália.
No dia 21 de agosto, vamos ter um grande espetáculo com as melhores músicas de filmes, na Praia dos Pescadores. A orquestra será a Orquestra Sinfónica do Algarve.
Dia 10 de setembro, para encerrar, vamos ter a “Carmina Burana” com a Vórtice Dance Company. Um espetáculo incrível.
Desejamos-lhe muito êxito.
Muito obrigado. Ficamos todos a ganhar: o Município de Albufeira, o Algarve e o Turismo da Região. Todos juntos, iremos criar um destino de excelência.
