O número de trabalhadores estrangeiros por conta de outrem em Portugal quase multiplicou por nove na última década, atingindo perto de meio milhão em 2023. Se, no geral, os estrangeiros representam 13,4% do total de trabalhadores, no Algarve o cenário é ainda mais expressivo: concelhos como Albufeira, Loulé e Tavira destacam-se com percentagens que ultrapassam os 30%.
Segundo o Banco de Portugal, o peso dos trabalhadores estrangeiros é particularmente elevado em setores como a agricultura, pescas, alojamento e restauração, atividades predominantes na região algarvia. Em Albufeira, por exemplo, os estrangeiros representam 36% do total de trabalhadores, enquanto em Loulé o número ronda os 32,8% e em Tavira, 33,6%. Estes números colocam estes concelhos algarvios no Top 10 entre os mais dependentes da mão de obra estrangeira em todo o país.
Aljezur e Vila do Bispo não ficam atrás
Além dos três maiores centros, outros concelhos do Algarve revelam uma significativa presença de trabalhadores estrangeiros. Em Aljezur, 34,9% da força de trabalho é composta por cidadãos de outras nacionalidades, enquanto Vila do Bispo também se destaca com 33,9%. Estes concelhos refletem o impacto direto que o turismo e as atividades relacionadas com o setor dos serviços têm na economia da região.
Agricultura e pesca: setores com maior concentração de estrangeiros
Os dados mostram que é nos setores agrícolas e das pescas que os trabalhadores estrangeiros têm maior presença. Quatro em cada dez trabalhadores nestas áreas são de nacionalidade estrangeira, com especial destaque para cidadãos indianos, nepaleses e bengalis, que preenchem vagas sazonais e permanentes no setor agrícola. Concelhos como Silves (29%), Lagoa (26,5%) e Faro (26%) refletem esta tendência de crescimento na procura de mão de obra estrangeira.
Uma tendência que veio para ficar
O relatório do Banco de Portugal destaca que o crescimento de trabalhadores estrangeiros no mercado laboral português registou duas grandes ondas: entre 2018-2019 e entre 2022-2023, com uma desaceleração durante o período da pandemia. Hoje, mais de 22% das empresas em Portugal têm trabalhadores estrangeiros, um aumento expressivo face aos 7,9% de 2014.
No Algarve, este crescimento reflete-se em todos os concelhos, onde a dependência de mão de obra estrangeira tem vindo a aumentar não só na hotelaria e restauração, mas também nas atividades de construção e administrativas.
O peso da nacionalidade e qualificação
Os trabalhadores brasileiros continuam a ser os mais numerosos no Algarve e no país, representando quase metade dos estrangeiros registados na Segurança Social. Contudo, a região tem visto um aumento significativo de trabalhadores oriundos de países como a Índia, Nepal e Bangladesh, especialmente em setores agrícolas e de construção.
Curiosamente, apesar de ganharem menos do que os trabalhadores nacionais, os estrangeiros registados em 2021 apresentavam, em média, níveis de qualificação mais elevados. No entanto, o relatório revela que essa diferença está a diminuir, à medida que os trabalhadores portugueses jovens se tornam mais qualificados.
O futuro da mão de obra no Algarve
Entre 2019 e 2023, 71% do aumento total de trabalhadores por conta de outrem em Portugal deve-se à imigração, uma tendência que, segundo o Banco de Portugal, deverá continuar nos próximos anos. No Algarve, a realidade não é diferente. Com um turismo crescente e setores como a agricultura e pescas a depender cada vez mais de mão de obra estrangeira, o futuro do mercado de trabalho da região estará fortemente influenciado por estes trabalhadores que, apesar das dificuldades salariais, têm vindo a desempenhar um papel essencial no desenvolvimento económico local.
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