A 30 de agosto de 2025, um sismo de magnitude 8,8 com epicentro ao largo da península de Kamchatka, na Rússia, reacendeu o interesse pelas ilhas Curilas, localizadas entre o extremo sul de Kamchatka e o norte do território japonês de Hokkaido, se acordo com o jornal espanhol 20minutos. Este arquipélago de mais de mil quilómetros de extensão permanece há mais de 80 anos no centro de um impasse diplomático entre a Rússia e o Japão. A disputa, que remonta ao século XIX, envolve quatro ilhas situadas no extremo sul do arquipélago, atualmente sob administração russa, mas reclamadas por Tóquio como parte do seu território.
Disputa histórica com origem nos tratados imperiais
A origem do conflito remonta ao Tratado de Shimoda, assinado em 1855, que atribuía parte das ilhas à Rússia e outra ao Japão. Posteriormente, em 1875, o Tratado de São Petersburgo viria a alterar os termos anteriores, transferindo a soberania de todas as ilhas Curilas para o Império Russo, em troca do controlo total da ilha de Sacalina pelo Japão.
A questão voltou a intensificar-se no final da Segunda Guerra Mundial. As quatro ilhas mais meridionais do arquipélago, Iturup, Kunashir, Shikotan e o grupo de ilhéus Habomai, foram ocupadas pela União Soviética após a rendição japonesa em 1945. O Japão considera que estas ilhas nunca fizeram parte da Rússia imperial e, por isso, não deviam ter sido incluídas no território soviético após o conflito.
“Segundo as suas estimativas, esta área contém reservas bastante significativas de petróleo e gás. Seriam suficientes para garantir às Curilas do Sul, durante pelo menos 15 anos, o fornecimento necessário de matérias-primas energéticas.”, dizem especialistas do Instituto de Geologia e Geofísica Marinha da Academia Russa de Ciências, citados pela mesma fonte.
Tratado de São Francisco e divergência de interpretações
No pós-guerra, o Tratado de Paz de São Francisco, assinado em 1951 entre o Japão e os Aliados, estabeleceu que o Japão renunciava aos seus direitos sobre as ilhas Curilas. Contudo, segundo a mesma fonte, a União Soviética recusou-se a assinar esse tratado, argumentando que as condições não protegiam suficientemente os seus interesses.
Tóquio interpreta esse tratado como não se aplicando às quatro ilhas meridionais, uma vez que estas não teriam pertencido à Rússia antes da guerra.
Um arquipélago de valor estratégico e natural
Além da dimensão histórica e simbólica, as ilhas Curilas detêm recursos naturais relevantes, nomeadamente jazidas minerais, reservas de petróleo e gás, e vastas zonas piscatórias. Conforme a fonte acima citada, Moscovo mostrou-se disponível em momentos pontuais para ceder apenas duas das quatro ilhas, mas as negociações permanecem sem solução.
Belezas naturais em territórios disputados
As ilhas Curilas apresentam uma geografia acidentada, com falésias, costas rochosas e vulcões ainda ativos. Entre os locais mais singulares encontra-se a cascata Ilya Muromets, na ilha de Iturup, considerada a mais alta da Rússia com 141 metros.
Nas imediações do vulcão Golovnin, o lago de Ponto exibe águas termais que atingem os 100 graus Celsius e estão saturadas de enxofre e metais pesados. Mesmo ao lado, o lago Goryachee permite banhos em águas azul-turquesa, ligadas ao lago anterior por um canal escavado por japoneses.
O arquipélago é também conhecido pela sua intensa atividade vulcânica. O vulcão Abad, o mais alto das ilhas, atinge os 2.339 metros e registou múltiplas erupções desde o século XVIII. O Sarychev, na ilha de Matua, é o mais ativo da região, tendo entrado em erupção sete vezes. Já o vulcão Tyatya, na ilha de Kunashir, é tido como um dos mais imponentes do mundo e representa um perigo para aeronaves devido à sua altitude e visibilidade limitada, sendo responsável por vários acidentes de helicóptero.
Conflito sem resolução à vista
A tensão em torno das Curilas permanece uma das principais barreiras à assinatura de um tratado de paz definitivo entre Tóquio e Moscovo, que, de acordo com o jornal 20minutos, tecnicamente continuam em estado de armistício desde 1945. A disputa é regularmente reacendida por eventos naturais ou por declarações políticas, mantendo a região num estado de vigilância diplomática constante.
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