O Centro de Artes Performativas do Algarve (CAPa) em Faro, vai ser palco da apresentação da performance “Rasante” por Joana Levi.
A partir de um olhar sobre processos de migração e extinção de aves, Joana Levi concebe “Rasante”, uma performance que se desenrola como uma fábula meditada ou uma meditação fabulada, colocando em jogo perspectivas e conflitos interespécies.
Neste jogo, o sedimento das fronteiras hierárquicas estabelecidas entre “Humano” e “Animal” aparece como máquina replicadora de relações coloniais, racionalistas, supremacistas que não cessam de entulhar e aterrar o presente do futuro.
“Rasante”, que estreou no Festival Alkantara 20’, é uma das criações comissionadas pelo projeto Terra Batida – uma rede de pessoas, práticas e saberes em disputa com formas de violência ecológica e políticas de abandono.
Os bilhetes têm o preço de seis euros (cinco euros para estudantes e maiores de 65). As reservas podem ser feitas através dos números de telefone 918 703 415 e 289 828 784.
Sobre a Terra Batida
Terra Batida é uma plataforma que mobiliza saberes e fazeres em torno da violência ecológica em diferentes contextos territoriais, coordenada por Rita Natálio. O conhecimento singular e local de conflitos socioambientais, aliado à ação em rede, convocam resistência aos abusos extrativos e também pedem cuidado: para especular e fabular, para construir visões e vidências sensoriais entre mundos exauridos e exaustos.
Ao longo de 2020, com coordenação de Natálio e Marta Lança, Terra Batida enredou intervenientes das áreas da dança, cinema, performance e artes visuais com investigadores, cooperativas e ativistas nas regiões de Ourique, Castro Verde, Montemor-o-Novo, Aveiro, Ílhavo e Gafanha da Nazaré, somando contributos de várias linguagens e urgências.
Na região alentejana, discutiu-se desertificação, agricultura superintensiva e a concomitante extração de trabalho migrante, assim como minas desativadas e tóxicas, mares de estufas litorais, a falta de água e de gente, a conservação de espécies, formas de resistência comunitária e a leitura da paisagem segundo o seu povoamento; na região de Aveiro, problematizou-se a erosão acelerada da linha costeira, o tráfego portuário, a subida do nível dos mares e o desaparecimento da ria, garante da biodiversidade e da captação de carbono.
Em novembro de 2020, parte deste processo foi partilhado no Teatro Municipal São Luiz, durante o Festival Alkantara, num pequenos ciclo com augúrios e propostas de Ana Rita Teodoro, Joana Levi, Maria Lúcia Cruz Correia, Marta Lança, Rita Natálio, Sílvia das Fadas e Vera Mantero, conversas, laboratórios e um número especial do Jornal MAPA.
Em 2021, Rita Natálio organizou uma residência de pesquisa em Lisboa com foco na cidade e nos trânsitos em diferentes escalas (centro/periferia, rural/urbano, nacional/internacional, passado/futuro, local/global).
A edição de 2021, contou com a presença da coreógrafa Ana Pi e do artista visual Irineu Destourelles, e o desenvolvimento de propostas já iniciadas em 2020 por Maria Lúcia Cruz Correia & Margarida Mendes, e Ana Rita Teodoro & Alina Ruiz Folini.
Em 2022, a Terra Batida lança a Escola Refloresta Livre, um programa de 3 dias tendo em vista a partilha de investigações sobre desflorestação e monocultura, estratégias e práticas de regeneração. Num tom de encontro e círculo de estudos, a Escola Refloresta Livre conta com o arquiteto Paulo Tavares que intervém em diferentes contextos florestais sul americanos com iniciativas que questionam o campo das “naturezas visuais” e dos direitos não-humanos; Helen Torres e Zoy Anastassakis que farão uma abordagem a ferramentas da ficção especulativa, práticas de leitura e escrita, e teorias da antropologia multiespécie; Paulo Pimenta de Castro coautor do livro “Portugal em Chamas – Como Resgatar as Florestas” (2018) e o projeto À Escuta, iniciativa desenvolvida no Parque Natural da Serra da Estrela e sua envolvente por Joana Sá, Luís J Martins, Corinna Lawrenz e Nik Völker. Terá ainda lugar uma formação online com Geni Núñez, ativista indígena e psicóloga que tem inspirado reflexões instigantes sobre as relações entre reflorestação e não-monogamia, e que guiará a jornada “Reflorestamentos afetivos: pistas para descolonização”.