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Nasceu em Faro, em 1979, mas reside em Vila Real de Santo António desde 2005, onde trabalha, actualmente como Coordenador da Divisão de Cultura e Património Histórico da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António.
Tem pós-graduação em História do Algarve e é licenciado em Património Cultural, pela Universidade do Algarve, sendo autor de vários trabalhos de investigação já publicados sobre variados temas relacionados com o património cultural algarvio.
Colabora frequentemente em alguns jornais com artigos de opinião, crónicas, ensaios.
Publicou os livros de poesia:
- ‘Os nossos dias seguido de Os lugares antigos’, pela Ed. 4 Águas (2009)
- ’Poemário prostibular’, ed. de autor. (2012)
- ‘O tempo por entre as fendas’, Ed.4 Águas (2013)
- ‘Vertigem’, Ed. 4 Águas (2015)
A sua poesia pode encontrar-se ainda nas antologias: ‘Algarve: 12 poetas a sul do séc.XXI’; ‘Os dias do Amor’; ‘Alquimia de la tierra – Antología heterogénea de poesia, prosa poética y microrrelato’; ‘Sizígia’.
Como é o teu quotidiano como poeta, como entra a poesia na tua vida?
Não existe uma fronteira entre o eu poético e o eu do quotidiano. A poesia acontece a toda a hora, em qualquer lugar. A poesia existe em todas as coisas; tão depressa sou um ser burocrático, quanto um ser sensível/emocional, atento às coisas fundamentais do mundo. Nunca deixo de pensar e de descontextualizar e/ou de inverter a ordem das coisas. A poesia – e a arte, em geral – passa muito por aí: por trocar a ordem das coisas, virá-las ao contrário, senti-las de todas as formas possíveis.
Como disse, a ‘magia poética’ acontece a qualquer hora, em qualquer lugar, em qualquer contexto. Não há horas para as coisas e para a vida se revelar, temos é de estar atentos. O facto de qualquer coisa ser, digamos – existir – ou acontecer já acarreta em si uma dose de poesia enorme. A vida é em si mesma um mistério enorme.
Revela-nos autores, livros, poemas que consideres relevantes para ti.

Tenho dois autores essenciais: Jorge de Sousa Braga e Raymond Carver. O primeiro escreve com poucas palavras. O segundo conta histórias carregadas de poesia. O meu poema favorito é um poema de duas linhas: “quanto mais me dispo, menos nu me sinto”. É um poema filosófico, é uma escolha de vida, é um lema que me ajuda nas escolhas que faço e na minha maneira de ser e de escrever, visto que também me orienta em termos literários e na minha própria maneira de escrever: não faz sentido dizer muito quando se pode dizer pouco, qualquer coisa como: quando mais um poema se despe, mais autêntico ele se torna.
Algo que possas dizer que te inspira a escrever?
Muito do que me inspira a escrever nem sequer vem do mundo literário. O mundo musical, por exemplo, inspira-me imenso. No fundo, era o que o outro dizia: isto anda tudo ligado.
Já ninguém usa caneta e papel, quanto mais máquina de escrever, que material usas para escrever, como é o processo material da tua escrita?
Não tenho processo de escrita. Uso papel, caneta, computador, telemóvel, e tudo o que tiver à mão. Sim, tudo é válido para registar.
E o lugar desde onde se escreve…
Os lugares são extremamente importantes. O John Berger exprime muito bem isso num livro que me marcou imenso “Aqui nos encontramos” – o primeiro conto do livro, que por sinal até se passa em Lisboa, é absolutamente revelador. Na minha escrita, os meus lugares, o meu território, o meu Algarve, é fundamental.
Quando (dia, hora, estação do ano) mais escreves ?

Não tenho ‘momentos’ para escrever. Escrevo quando e onde tem de ser: à noite, a meio de uma reunião, entre despachos, numa toalha de restaurante, na página cinco de um livro, no bloco de notas do telemóvel…
Escrevo muito sobre qualquer coisa – ou tendo por base qualquer coisa: uma notícia de jornal, uma ideia de um livro, uma deixa popular, um aforismo. acredito imenso na ideia de que nada se inventa, tudo se transforma.
Tens participado como autor e como organizador em eventos literários como ‘Poesia na Rua’, Sinónimos de Leitura’ e ‘Palavra Ibérica’…
São três das iniciativas mais relevantes na região, em termos de promoção literária. Com muito pouco conseguem fazer muito: sobretudo promover os autores e as relações entre eles. São – e pretendem ser – sobretudo momentos de partilha.
De um modo geral como analisas a actividade cultural a nível local, nos nossos dias, a que tens estado ligado profissionalmente…
Gosto imenso do que faço, mas acho muito difícil trabalhar-se no/ com o meio cultural. Há demasiados egos, pouca formação pessoal e profissional, decisores muito pouco habilitados, aposta-se pouco na formação (técnica, de públicos), são demasiados os arrivistas, apoiados pelo poder político, convencidos que não é necessária experiência nem escolaridade na área. Estamos mal, portanto. Mas vai-se fazendo o que se pode.
Que livro de poesia estás a ler ou leste recentemente?
Comprei (finalmente) e reli o livro do Lawrence Ferlinghetti: ‘A Poesia como arte insurgente’. Estou também a meio de ‘O céu que nos protege’, de Paul Bowles.
Um poema de Miguel Godinho
dou por mim
a olhar
para o poema
como quem
olha para a vida:
à espera que
qualquer coisa
aconteça