Três dias de animação, música para todos os gostos e variadas propostas culturais marcaram a 13ª edição do Festival MED que, depois do sucesso de 2015, voltou a pautar-se por elevados níveis de adesão do público e um enorme êxito, reafirmando, mais uma vez, o destaque que este evento tem no panorama da World Music na Europa.
O mundo reuniu-se no centro histórico de Loulé para celebrar a diversidade cultural e encontro de povos, sobretudo através da música, com bandas dos cinco continentes, muitas delas premiadas internacionalmente, com seis estreias absolutas em Portugal.
Ao nível das actuações, o grande destaque vai para os Dubioza Kolektiv, banda que surge dos escombros da guerra da ex-Jugoslávia, mas que conquistou o mundo com a sua música contagiante, onde os sempre festivos sons balcânicos sobressaem de uma forma singular.
A festa fez-se no derradeiro dia do festival, com um permanente e entusiástico apelo do vocalista para a participação do público, que respondeu sempre da melhor forma. A saltar no meio da multidão, o líder da banda protagonizou um “momento único” na história do MED e que foi considerado por muitos dos espectadores como “o melhor concerto de sempre no festival”, afirma a organização.
A anteceder este espectáculo, o regresso de Tinariwen a Loulé. O rock tuareg voltou a fazer as delícias dos amantes da World Music.
Mas nesta noite, onde as estreitas ruas de Loulé foram pequenas para a verdadeira multidão que não quis faltar a esta “Meca da World Music em Portugal”, estiveram também em evidência outros artistas, entre os quais a portuguesa Capicua que, no Palco Castelo, chamou miúdos e graúdos a um concerto com uma toada rap em português. Foi também neste cenário que a moçambicana Selma Uamusse actuou para o seu público.
Já no Palco Cerca, os sons quentes de África surgiram pela voz do camaronês Blick Bassy, que encheu a plateia num concerto mais intimista. Seguiu-se o ritmo e calor da América Latina, com a chicha dos mexicanos Sonido Gallo Negro, num espectáculo instrumental com fusões entre este estilo tradicional e a inovação de alguns elementos que dão originalidade a este projecto. Uma forte componente visual “embruxou” o público que encheu o renovado Palco Cerca.
De entre os últimos concertos da noite, também na Cerca do Convento os Alo Wala deram continuidade a essa senda de inovação, com a voz da bela Shivani Ahlowalia, nascida em Chicago, nos Estados Unidos, mas de ascendência indiana, acompanhada por um músico dinamarquês e outro holandês, apresentaram uma fusão entre o bollyhood indiano, as Caraíbas, o hip-hop ou a electrónica.
Esta verdadeira máquina de dança contou também com a presença do público em palco, durante o tema “City Boy”.
Com a responsabilidade de encerrar o 13º Festival MED, Rocky Marsiano levou a fusão de clássicos da música africana com a electrónica da actualidade no “Meu Kamba Live” à Matriz, numa toada dançante a celebrar em grande final no Palco Matriz. Nenhum corpo ficou indiferente às batidas do DJ que encerrou o MED ao som de “One Love” de Bob Marley.
Da septuagenária brasileira ao protesto chileno de Ana Tijoux
No dia inaugural do Festival MED, a quinta-feira, a vitória da selecção portuguesa sobre a Polónia foi um motivo adicional para a festa. Em palco, António Zambujo expressou o orgulho nacional em Ronaldo e seus companheiros através da música. O intérprete de “O Pica do 7” regressou a Loulé passados alguns anos, com uma carreira mais consolidada e reconhecida pelo seu público.
A alegria da sonoridade de Shantel & The Bucovina Club Orkestar ajudou a esta festa portuguesa que também se fez ao ritmo dos Balcãs e contagiou o público que aguardava há anos pela presença do músico, e também DJ, alemão. Final apoteótico com dezenas de pessoas em palco a dançar o clássico “Disko Partizani”.
Aos quase 80 anos, a jovialidade artística de Dona Onete encantou, com a forte herança cultural do norte do Brasil e o seu carimbó chamegado. Apesar de sentada no seu cadeirão, o público reagia de forma oposta, levantando-se e dançando ao som dos seus temas.
Do continente africano, passaram também pelo Palco Cerca duas estreias absolutas em Portugal: o grande embaixador da música da Guiné-Conacri, Moh! Kouyaté, que ofereceu uma boa dose de blues temperados com sonoridades de África, e da República Democrática do Congo, Mbongwana Star, que apresentaram o seu premiado álbum de estreia.
Já no Castelo, Isaura deu o mote para o início do festival e provou porque é considerada por muitos como uma das grandes promessas da música nacional. Da Rússia para Loulé, os Otava Yo trouxeram um espectáculo pleno de energia, onde não faltaram as danças dos cossacos entre o público, enquanto o DJ Chico Correa trouxe um cheirinho da tradição musical da Amazónia e dos seus instrumentos, remisturada com os inovadores sons da electrónica, reproduzindo toda a ambiência do “pulmão do mundo”.
Quanto ao segundo dia, sexta-feira, os milhares de visitantes espalharam-se pelas ruas, ruelas, becos e largos do casco medieval da cidade para um convívio feito de música, gastronomia, artesanato, exposições ou animação de rua que surpreendeu a cada passo quem andou pela zona histórica de Loulé.
Nesta noite a World Music esteve representada pelos vários artistas que subiram aos oito palcos instalados no recinto. O MED teve mais uma vez o mérito de reunir na mesma noite e no mesmo palco, a fadista Aldina Duarte, com seu fado na forma mais pura, as sonoridades do Sahara com a voz encantada de Hindi Zahra ou o brasileiro Emicida que elevou bem alto a bandeira do rap como forma de identidade, de orgulho na sua cor, nas suas origens, num espectáculo verdadeiramente estrondoso que levou o público a cantar em coro temas como “Hoje Cedo” e “Passarinho”.
Na Matriz, a cantora e MC chilena trouxe consigo o espírito combativo, interventivo e emocional do hip-hop latino-americano, enquanto que o reggae em francês de Danakil não teve qualquer pudor em apresentar “Non Je Ne Regrette Rien” de Edith Piaf em versão reggae. A sua estreia em Portugal deixou marcas no público do MED, que dançou durante toda a actuação.
Em mais uma noite de casa cheia, a sexta-feira contou no Palco Castelo com dois projectos nacionais distintos – Marafona, com uma releitura da música tradicional portuguesa, assumindo declaradamente a sua “portugalidade”, e a união perfeita entre a electrónica e os instrumentos tradicionais portugueses de Fandango.
A título de balanço, o presidente da Câmara de Loulé, Vítor Aleixo, reafirmou o sucesso de mais uma edição deste evento que atraiu milhares de visitantes à zona histórica da cidade.
“Relativamente ao ano passado, em que assistimos a uma edição fabulosa que elevou bastante a fasquia, tínhamos as expectativas altas e conseguimos alcançar os objectivos. Tivemos uma casa cheia de público, concertos que ficarão para sempre na mente de quem aqui esteve, proporcionando experiências únicas”, considerou o autarca. Relativamente à economia local, para o responsável municipal “este evento arrastou, mais uma vez, milhares de visitantes que durante estes dias deram uma dinâmica muito importante à restauração, ao comércio e às unidades hoteleiras não só da cidade como também do Concelho“.
A componente turística deste evento ficou também marcada pela presença da Secretária de Estado com a pasta do Turismo, Ana Godinho, no dia inaugural do evento. No ano em que o MED passou a integrar o Programa Portuguese Summer Festivals, financiado pelo Turismo de Portugal, esta responsável enalteceu este evento e o papel que tem tido ao longo dos anos na promoção do turismo do nosso país e da região algarvia além-fronteiras.
Oficialmente o Festival MED encerrou na noite de domingo, com o Open Day, de entrada livre, onde ainda houve espaço para a música mas em que a gastronomia do mundo foi a grande protagonista. Em 2017, o MED regressa ao coração histórico da cidade de Loulé, e promete “muitas surpresas”, garante a organização.