A transição para a mobilidade elétrica está em marcha, com cada vez mais condutores portugueses a aderirem aos carros elétricos e híbridos plug-in. No entanto, a infraestrutura pública e privada ainda está longe de ser ideal, obrigando muitos a improvisar soluções para carregar os veículos. Mas até que ponto práticas como carregar o carro elétrico à porta de casa podem levar a multas? A resposta é: depende.
O caso: multado por carregar em casa
O caso foi partilhado pelo site Leak e retrata a experiência de um condutor que utiliza diariamente o carregamento doméstico para o seu VW Golf GTE PHEV, um híbrido plug-in com uma bateria de 12kWh. Para garantir os cerca de 40 a 50 quilómetros de autonomia elétrica, o veículo era estacionado em cima do passeio à porta de casa, permitindo passar o cabo do carregador por baixo do portão.
Foi exatamente isso que aconteceu com um condutor que estacionava o carro em cima do passeio à porta de casa para passar o cabo do carregador por baixo do portão. Durante três anos, esta prática de carregar o carro elétrico à porta de casa não foi alvo de penalizações, até ao momento em que recebeu uma multa por estacionamento irregular. “Sim, tenho de meter o carro em cima do passeio, e isso é obviamente contra as regras, sendo exatamente por isso que não posso contestar a multa. Porém, posso contestar o bom senso da mesma.”
O que diz a lei?
De acordo com o Código da Estrada, estacionar em cima do passeio é proibido, exceto em casos expressamente autorizados. A regra tem como objetivo proteger os peões e garantir o livre acesso às vias públicas.
Ainda que a prática de carregar um veículo elétrico seja cada vez mais comum, não existe atualmente uma legislação específica que contemple situações como a descrita. Assim, a fiscalização recai sobre as normas gerais de estacionamento, que, neste caso, não permitem obstruções no passeio, mesmo que a via disponha de alternativas para os peões.
A multa aplicada – 30 euros, dos quais 21 euros revertem para a câmara municipal – reflete esta infração. Apesar de o condutor ter explicado a situação e a prática ter sido tolerada por agentes anteriormente, este caso como carregar o carro elétrico à porta de casa mostra que as regras são claras e deixam pouca margem para interpretação.
O dilema da infraestrutura insuficiente
Este caso evidencia um problema maior: a falta de infraestrutura para suportar a transição para a mobilidade elétrica. A maioria dos proprietários de veículos elétricos ou híbridos plug-in carrega os seus automóveis em casa ou no trabalho, mas para muitos, especialmente em zonas urbanas ou residenciais sem garagens, esta opção não é viável.
Sem alternativas adequadas, os condutores acabam por recorrer a soluções improvisadas, como estacionar no passeio para carregar os veículos. Estas práticas, embora compreensíveis, entram frequentemente em conflito com a legislação e colocam os utilizadores em situações difíceis.
O futuro da mobilidade elétrica
Para que a adoção dos carros elétricos continue a crescer, é essencial que o Estado e os municípios invistam em infraestrutura pública de carregamento acessível e que as normas sejam adaptadas à realidade. Tal poderia incluir:
- Pontos de carregamento na via pública, próximos das áreas residenciais.
- Legislação específica que contemple o carregamento doméstico em áreas públicas, com regras claras para proteger peões e condutores.
- Incentivos para a instalação de postos de carregamento em condomínios e zonas partilhadas.
Até que essas mudanças ocorram, os condutores de veículos elétricos enfrentam um desafio: equilibrar o cumprimento das normas com a necessidade de carregar os seus carros de forma acessível e eficiente.
Enquanto a infraestrutura não acompanha o ritmo da transição energética, situações como esta continuarão a ser um ponto de discórdia. Por um lado, é fundamental respeitar as regras de trânsito e os direitos dos peões. Por outro, é urgente encontrar soluções que incentivem a adoção de veículos elétricos sem penalizar os seus utilizadores.
O caso deste condutor é um exemplo de como a falta de planeamento pode transformar uma escolha sustentável num obstáculo. Para já, a melhor solução pode passar por recorrer aos postos de carregamento públicos ou instalar infraestruturas privadas em locais autorizados, enquanto se aguarda por uma evolução no sistema que torne a mobilidade elétrica mais prática e inclusiva.
Práticas como carregar o carro elétrico à porta de casa são comuns, mas exigem atenção às regras para evitar multas. É fundamental que o Governo e as autarquias criem soluções acessíveis e inclusivas para garantir que a mobilidade elétrica seja verdadeiramente viável para todos os cidadãos.
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