A Infraestruturas de Portugal (IP) disse hoje à Lusa que havia alternativa para a estrada que ameaça a coleção de 1.000 fruteiras do Centro de Experimentação Agrária de Tavira, mas a Câmara decidiu optar pelo traçado agora previsto.
O diretor regional de Agricultura e das Pescas do Algarve, Pedro Monteiro, lamentou ter sido confrontado quando tomou posse, em dezembro de 2018, com dois “factos consumados”: a construção da estrada e “só existir aquele trajeto”, apresentado como “a única alternativa”.
A nova estrada, cuja construção visa compensar o fecho da passagem de nível que ainda existe junto à estação ferroviária de Tavira, “atravessa toda a estação agrária” e vai “afetar coleções” onde estão reunidas cerca de 1.000 variedades de fruteiras tradicionais do Algarve, alertou aquele responsável.
Pedro Monteiro disse à agência Lusa que a estrada está “na fase de análise por parte da entidade competente para esse efeito – a APA [Agência Portuguesa do Ambiente] -, dos contributos recebidos na consulta pública do estudo de impacte ambiental da intervenção [de eletrificação] de toda da linha ferroviária do Algarve” e vai “atravessar precisamente o Centro de Experimentação Agrária (CEA) de Tavira”.
Questionada pela Lusa, fonte da Infraestruturas de Portugal (IP) adiantou que a estrada se integra nas “intervenções de eletrificação da linha do Algarve entre Faro e Vila Real de Santo António” e está relacionada com “a reconversão a peões da passagem de nível de Tavira”, tendo a autarquia optado por uma das duas soluções propostas.
“Uma das soluções (A) estudada, previa que o restabelecimento sul iria ocupar um caminho privado (do CEA) existente entre o hipermercado e as instalações da Direção Regional de Agricultura e Pescas – Centro de Experimentação e terminando junto da rotunda do Largo da Estação”, precisou.
A segunda “solução (B) apresentada, e que teve o acordo da Câmara Municipal de Tavira, desenvolve-se em alinhamento reto até à rotunda da Rua Dr. Fausto Cansado ocupando terrenos da Direção Regional de Agricultura e Pescas (DRAP)”, contrapôs.
“Perante estas soluções apresentadas pela IP, que foram objeto de reuniões com a Câmara de Tavira, esta pronunciou-se pela solução (B), por ser a que melhor se adequava ao Planeamento e Gestão Urbanística do município. Neste enquadramento propôs, ainda, vários melhoramentos, nomeadamente ao nível dos passeios e faixas cicláveis”, justificou a IP.
Questionada pela Lusa acerca do traçado escolhido e da possibilidade de afetar o repositório de fruteiras algarvias, a Câmara de Tavira referiu que a estrada se integra no projeto de eletrificação da linha do Algarve, remetendo eventuais questões para a IP, responsável do projeto.
A autarquia referiu ainda que tem “potenciado a divulgação” da coleção de fruteiras “através de visitas guiadas no âmbito da Feira da Dieta Mediterrânica, em colaboração com a DRAP do Algarve, e que “desconhece que a obra possa colocar em questão e prejudicar o trabalho realizado” no centro.
Segundo a IP, após a escolha da autarquia, tanto a Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, como a DRAP do Algarve e o CEA de Tavira asseguraram que o traçado rodoviário não afetaria “de modo algum, as coleções e o repositório de espécies autóctones” existentes no centro, mas agora o diretor regional teme o impacto que a via pode ter no futuro daquela estrutura.
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