A transformação digital dos hábitos de consumo dos portugueses continua em aceleração, com os canais digitais a consolidarem-se como uma parte integrante do quotidiano. O mais recente estudo Consumer Sentiment Survey 2024, conduzido pela Boston Consulting Group (BCG), revela mudanças marcantes no comportamento dos consumidores, destacando o crescimento do comércio eletrónico, a adoção de redes sociais e o aumento na utilização de serviços financeiros digitais.
Compras online em alta: mais conveniência e poupança
Em 2024, 94% dos portugueses afirmam realizar compras através da internet, uma tendência impulsionada pela conveniência, variedade de oferta e pela possibilidade de comparar preços de forma prática. Segundo o estudo, 33% dos consumidores gastaram mais em compras online este ano face a 2023, com 1 em cada 3 desses inquiridos a admitir ter gastado “bastante” mais.
A principal motivação para este comportamento é a facilidade em comparar produtos, apontada por 60% dos inquiridos, seguida por melhores preços e descontos (50%). A conveniência (46%) e a maior variedade de produtos (38%) são outros fatores que levam os consumidores a preferir o comércio online ao tradicional.
“Apesar de ter sofrido um recuo no período após a pandemia de Covid-19, o comércio eletrónico tem crescido em Portugal, estabelecendo-se como uma via cómoda, fácil e atrativa para os consumidores, à semelhança do que se tem verificado a nível global”, sublinha Tiago Kullberg, Managing Director e Partner da BCG em Lisboa.
Entre as categorias mais compradas pelos portugueses destacam-se viagens, roupa e acessórios, e tecnologia, enquanto itens como mobiliário, brinquedos e bens de luxo permanecem menos populares.
Redes sociais: o palco das interações e do comércio
Para além das compras, os portugueses continuam a passar uma parte significativa do seu tempo nas redes sociais. Segundo dados da Datareportal, 54% dos portugueses gastam mais de uma hora por dia nas redes sociais, sendo a utilização mais expressiva entre os jovens adultos (73%).
As plataformas mais populares continuam a ser o YouTube (73%), Facebook (58%) e Instagram (57%), com estas duas últimas a registarem crescimento de 6 pontos percentuais face a 2023. O LinkedIn acompanha esta tendência de alta, refletindo o interesse crescente por redes sociais mais orientadas para o mundo profissional.
Curiosamente, 40% dos utilizadores planeiam reduzir o tempo que passam online, uma intenção que se mantém inalterada desde 2023, embora sem grande concretização.
Serviços financeiros digitais em ascensão
Outro reflexo da digitalização dos hábitos está no setor bancário, onde ferramentas como o MB Way atingiram uma taxa de utilização de 82%, representando um crescimento de 5 pontos percentuais face a 2023. Este valor sobe para uns expressivos 94% entre os jovens adultos.
As aplicações móveis dos bancos também continuam a ganhar adeptos, com 88% dos inquiridos a utilizá-las regularmente (+3 pp.), enquanto os websites das instituições financeiras perderam ligeiramente relevância (-2 pp.).
O impacto da Inteligência Artificial
A tecnologia, particularmente a Inteligência Artificial (IA), está a moldar o futuro do comércio eletrónico. De acordo com o estudo global da BCG The New E-Commerce Innovation Imperative for Retailers, mais de metade dos retalhistas (58%) investem em IA para melhorar a eficiência operacional, reduzir prazos e aumentar a criatividade.
A aposta em modelos de marketplace (42%) e no comércio social (39%) reflete-se diretamente nos hábitos de consumo dos portugueses. “O comércio social permite às marcas comunicar com os consumidores e reforçar a sua presença no mercado de forma eficaz”, destaca o relatório, numa altura em que redes sociais reúnem mais de cinco mil milhões de utilizadores no mundo, com tempos médios de utilização entre duas a quatro horas diárias.
Uma transformação inevitável
Com a digitalização a ditar os novos padrões de consumo, o futuro do mercado português está intrinsecamente ligado à inovação tecnológica e à adaptação dos retalhistas às preferências do consumidor. Seja através de compras online, de interações nas redes sociais ou do uso de serviços financeiros digitais, o quotidiano dos portugueses está cada vez mais moldado pela conveniência e acessibilidade oferecidas pelo mundo digital.
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