A Guarda Nacional Republicana (GNR) registou, entre os dias 20 e 22 de dezembro, um total de 699 acidentes rodoviários em Portugal, resultando numa sinistralidade elevada com oito mortes, 21 feridos graves e 189 feridos ligeiros. Estes dados fazem parte da operação “Natal e Ano Novo 2024/2025”, que visa reforçar a segurança nas estradas durante o período festivo.
Do total de acidentes mortais, dois ocorreram no Algarve, colocando novamente a região em evidência devido à elevada sinistralidade. A Estrada Nacional 125 (EN125) voltou a ser cenário de tragédias. Um dos acidentes fatais registou-se em Albufeira, enquanto o outro ocorreu em Boliqueime, no concelho de Loulé. Estes episódios reforçam a notoriedade negativa da EN125, frequentemente referida como uma das estradas mais perigosas da Europa.
Ao longo dos anos, a EN125 acumulou um histórico alarmante de acidentes, muitos deles mortais. Um relatório de 2023 da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) apontou esta via como uma das cinco estradas mais mortíferas do país, responsável por 10% das vítimas de acidentes rodoviários em Portugal. Desde 2018, a EN125 registou 17 mortes, consolidando a sua reputação como uma estrada perigosa, apesar das várias intervenções realizadas.
O que torna a EN125 tão perigosa?
A EN125 atravessa todo o Algarve, sendo uma das principais artérias da região, tanto para residentes como para turistas. Este intenso fluxo de tráfego, aliado a características estruturais deficientes, contribui para a sua elevada taxa de sinistralidade. Estudos identificam múltiplos pontos negros ao longo da estrada, locais com concentração elevada de acidentes graves. Em 2017, a EN125 foi considerada a estrada mais perigosa de Portugal, com cinco destes pontos críticos identificados.
Apesar das obras de requalificação realizadas nos últimos anos, a EN125 continua a registar um elevado número de acidentes. Especialistas apontam para a falta de alternativas viáveis, como uma rede eficiente de autoestradas com portagens acessíveis, que poderia aliviar o tráfego. A forte presença de rotundas e cruzamentos mal sinalizados também é frequentemente citada como fator de risco.
Balanço nacional: dados alarmantes
Os números nacionais revelados pela GNR são igualmente preocupantes. Durante os três dias de operação, os militares fiscalizaram mais de 31.000 condutores, resultando na detenção de 231 pessoas por condução com uma taxa de álcool no sangue igual ou superior a 1,2 g/l e de outras 73 por condução sem carta. No total, foram detetadas 4.776 contraordenações rodoviárias, destacando-se 1.654 casos de excesso de velocidade, 195 por excesso de álcool, 175 por não utilização de cinto de segurança ou cadeirinha e 164 por uso indevido do telemóvel ao volante.
Entre as vítimas mortais, além dos acidentes no Algarve, foram registadas fatalidades em Barcelos (Braga), na Estrada Nacional 119 em Coruche (Santarém), no Itinerário Principal 2 em Beja e na Autoestrada 23 na saída para Benquerenças (Castelo Branco). Dois atropelamentos também resultaram em mortes, um na Rua da Ponte Pereiro, em Vila Nova de Gaia, e outro na Autoestrada 19 em Leiria.
Operação Natal e Ano Novo: prevenção e fiscalização
A Operação “Natal e Ano Novo 2024/2025” divide-se em duas fases. A primeira, iniciada a 18 de dezembro, concentra-se na sensibilização e prevenção antes das festividades. Já a segunda fase, que abrange os períodos do Natal (20 a 26 de dezembro) e Ano Novo (27 de dezembro a 2 de janeiro de 2025), dá prioridade à fiscalização e segurança. Durante este período, a GNR e a Polícia de Segurança Pública (PSP) reforçam o patrulhamento nas estradas com maior fluxo de trânsito, bem como nas zonas residenciais, comerciais e de diversão.
A operação pretende combater comportamentos de risco como o excesso de velocidade, a condução sob influência de álcool ou substâncias psicotrópicas e o uso indevido do telemóvel. A presença policial também tem como objetivo reduzir a criminalidade geral, assegurando deslocações seguras durante a época festiva.
A elevada sinistralidade no Algarve, particularmente na EN125, destaca a necessidade urgente de medidas mais eficazes. O reforço da fiscalização é importante, mas especialistas e autarcas têm defendido outras soluções, como a melhoria da infraestrutura rodoviária, maior acessibilidade às autoestradas e campanhas de sensibilização mais incisivas.
Enquanto isso, os condutores são aconselhados a redobrar a atenção nas estradas, respeitar os limites de velocidade e evitar comportamentos de risco, especialmente durante as festas de final de ano, quando o fluxo de trânsito aumenta significativamente.
A EN125 continua a ser um retrato da dualidade do Algarve: uma região de beleza natural e destinos turísticos de renome, mas onde a insegurança rodoviária mancha o panorama. O desafio de reduzir a sinistralidade permanece, exigindo um esforço conjunto de autoridades, autarquias e cidadãos.
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