Situado entre Tavira e Castro Marim, o concelho de Vila Real de Santo António estende-se ao longo de uma faixa litoral marcada pela serenidade das águas e pela proximidade do estuário do Guadiana. É neste território de transição, entre a ria e o oceano, que se encontra um areal isolado que, embora já tenha sido considerado uma das praias mais bonitas do mundo, deixou de o ser no sentido técnico e funcional.
A menção internacional remonta a 2015, quando a edição da revista Traveler elegeu a chamada Praia de Cacela Velha como uma das 15 melhores do mundo, colocando-a ao lado de destinos como as Maldivas ou Bora Bora.
Um areal em constante mutação
O que resta hoje é um banco de areia temporário, condicionado pelas marés e pela dinâmica do cordão dunar da Ria Formosa. Localizado no extremo nascente da Ilha de Cabanas, junto à barra de Cacela, este areal depende da configuração geográfica do momento, sendo comum que a paisagem se altere ao longo do ano.
De acordo com o portal Visit Algarve, o acesso só é possível por barco, a partir do cais do Sítio da Fábrica, a cerca de 1,5 quilómetros de Cacela Velha.
O percurso atravessa o canal da ria até a um areal que, embora continue a ser procurado por banhistas, não possui qualquer apoio nem está oficialmente classificado como praia vigiada.
Sem estatuto balnear nem vigilância
Hoje, o local não reúne as condições mínimas exigidas a uma praia. Não existe vigilância, não há concessão balnear, nem estruturas de apoio. O acesso depende das marés e das embarcações locais, e os riscos para quem desconhece o terreno são reais.
A ausência de estatuto balnear oficial torna o uso balnear possível, mas desaconselhado a quem não esteja familiarizado com a zona. Chamar-lhe “praia” é, tecnicamente, incorrecto, ainda que a designação persista para alguns.
Cacela Velha: a aldeia no alto da arriba
A aldeia histórica de Cacela Velha continua a ser um dos pontos mais visitados do sotavento algarvio. Com vista panorâmica sobre a ria, ruas estreitas e uma arquitectura que preserva o traçado tradicional, é um exemplo da resistência cultural da região à pressão urbanística.
Segundo o Público, a freguesia de Vila Nova de Cacela tem vindo a captar visitantes interessados num Algarve mais sereno e menos intervencionado, mas o dito “areal de Cacela Velha” já não é a praia idílica que aparece nas fotografias antigas ou nas menções internacionais.
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Uma distinção que não resiste ao tempo
Apesar da distinção atribuída pela Traveler, a evolução natural do sistema lagunar e a falta de ordenamento balnear retiraram-lhe o estatuto de praia. O reconhecimento continua a ser usado em folhetos turísticos e redes sociais, mas não corresponde à realidade de quem visita o local hoje.
O que ali existe é um cenário paisagístico marcante, com águas calmas e fundo arenoso, mas sem as condições mínimas de segurança ou infraestrutura que permitam classificá-lo como praia. De acordo com a legislação nacional, não se trata de uma zona balnear vigiada.
Recomendações para quem visita
Quem quiser visitar o local deve fazê-lo com precaução e responsabilidade. É fundamental verificar os horários da maré, garantir transporte fluvial adequado e levar tudo o que for necessário: água, sombra, proteção solar e atenção redobrada.
A ausência de estruturas exige autonomia total. E, como alertam residentes locais, o areal pode desaparecer parcialmente com a subida da maré, criando situações de risco para quem não conhece bem o terreno.
Um lugar bonito, mas que não deve ser romantizado
A imagem cristalizada de uma praia paradisíaca já não corresponde à configuração actual. O local continua a ter valor paisagístico e histórico, mas deixou de ser uma praia funcional ou segura para uso balnear generalizado.
A classificação de “uma das melhores praias do mundo” marcou um momento na sua história, mas hoje, quem visita Cacela Velha deve fazê-lo com a consciência de que está a explorar um areal temporário e instável, e não uma praia tradicional.