A região do Algarve destaca-se por se encontrar junto ao mar e, apesar da beleza das praias, a proximidade ao Atlântico também tem algumas consequências negativas. É que a força do mar pode danificar algumas infraestruturas e é precisamente o que está a acontecer com o forte que é considerado um Imóvel de Interesse Público.
O Forte da Ponta da Bandeira, em Lagos, encontra-se atualmente numa situação que está a deixar a autarquia ‘preocupada’. Um dos monumentos mais emblemáticos da cidade apresenta sinais visíveis de degradação. A estrutura, que outrora protegia a cidade de invasões marítimas, sofre agora com a força do mar e a falta de manutenção. A situação agrava-se com o passar do tempo e a inação das entidades competentes. O alerta é dado por locais e especialistas em património.
Degradação visível a partir do mar
Quem observa o forte a partir do lado sul, virado ao mar, depara-se com um cenário de degradação. A fachada revela danos crescentes, nomeadamente uma enorme abertura causada pela erosão. “É quase impossível conceber que um monumento de referência seja tratado desta maneira”, escreve o Algarve Marafado. O mar, ao longo dos anos, escavou uma greta até transformá-la numa verdadeira caverna. No seu interior, cabem agora várias pessoas.
Muro lateral em risco de desabamento
O muro de ligação ao forte também inspira cuidados, apresentando um visível desequilíbrio estrutural. As previsões meteorológicas e as marés fortes das próximas semanas levantam receios de um possível colapso. Especialistas temem que, sem obras urgentes, parte do muro possa ruir a qualquer momento. A preocupação já chegou ao parlamento, que em março aprovou um documento que recomendava intervenção urgente. No entanto, essa recomendação ainda não teve efeitos práticos.
A Ministra da Cultura ainda não anunciou qualquer ação concreta para conter a degradação. Diante da ausência de resposta estatal, a Câmara de Lagos prepara uma ação local. Segundo apurou a comunicação social, poderá haver obras já em maio ou junho. Até lá, o monumento continua a deteriorar-se.
Câmara promete intervenção provisória
A intervenção municipal deverá centrar-se na recolocação de pedras deslocadas pelo mar. Não se trata de uma obra de reabilitação total, mas sim de uma medida para evitar danos maiores. Esta resposta de emergência visa preservar temporariamente o que ainda resta do monumento. A autarquia lamenta não ter competências plenas para obras de maior envergadura. Ainda assim, acredita que qualquer ação é melhor do que o silêncio das entidades centrais.
Origem histórica e localização estratégica
O Forte da Ponta da Bandeira, também conhecido por Forte do Pau da Bandeira ou Forte do Registo, foi construído entre 1680 e 1690. A sua missão era defender o cais de Lagos e os flancos da muralha da cidade. A sua localização estratégica, junto ao Cais da Solaria, permitia vigiar o mar e controlar as entradas. Ao longo dos séculos, o forte manteve-se como um símbolo de resistência. A sua importância histórica é reconhecida em todo o país.
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O edifício está classificado como Imóvel de Interesse Público, o que lhe confere um estatuto legal de proteção. Ainda assim, essa classificação não tem impedido o avanço da erosão e a negligência da conservação. A sua visibilidade junto ao mar tornou-o num ponto de visita obrigatória para turistas. Os visitantes deparam-se agora com enormes buracos nas muralhas. Estes sinais de degradação são hoje parte da imagem do monumento.
Arquitetura militar de referência nacional
A imponência arquitetónica do forte e a paisagem envolvente continuam a atrair curiosos. A entrada faz-se por uma ponte levadiça sobre um fosso, o que acentua o seu carácter histórico. Considerado um dos melhores exemplares da arquitetura militar do século XVII, o forte destaca-se pela sua preservação. A sua construção foi uma das últimas defesas erguidas em Lagos. Durante anos, resistiu ao tempo, mas agora vê-se ameaçado por novas forças.
No interior, destaca-se uma pequena capela dedicada a Santa Bárbara, com um conjunto de azulejos do século XVIII. Esta capela é um dos elementos que mais fascina os visitantes. O espaço foi alvo de restauros nos anos 60, que lhe devolveram parte da glória original. Desde então, tem sido utilizado para exposições e outras atividades culturais.
O forte também ganha vida durante o Banho 29, uma das festas mais tradicionais de Lagos. Esta celebração popular ocorre todos os anos a 29 de agosto, com milhares de pessoas a banharem-se à meia-noite. A festa, que remonta a tempos antigos, é hoje acompanhada por espetáculos musicais e gastronomia regional. O Forte da Ponta da Bandeira torna-se palco e testemunha da alegria comunitária. Este evento reforça o valor simbólico e social do monumento.
Utilização cultural e turística atual
Com as várias utilizações ao longo do ano, o espaço continua a desempenhar um papel na vida cultural da cidade. A degradação atual levanta, por isso, preocupações não apenas patrimoniais, mas também sociais. A perda de uma parte do forte comprometeria eventos como o Banho 29. A autarquia teme que, sem intervenção célere, o monumento possa perder a sua funcionalidade. Lagos arrisca-se a ver um dos seus ex-libris danificado de forma irreversível.
Vista privilegiada sobre o mar
Do alto das muralhas avista-se o mar, o casario de Lagos e a linha costeira a perder de vista. É essa paisagem que faz muitos visitantes regressarem ano após ano. Mas a beleza natural não esconde o estado crítico da estrutura. A imagem de postal está ameaçada por um abandono cada vez mais visível.
Esforços locais face ao silêncio do Estado
Neste momento, o que resta é esperar pelas intervenções prometidas pela Câmara de Lagos. O município está consciente da responsabilidade histórica que recai sobre os seus ombros. Embora limitado na sua capacidade, tenta colmatar a ausência de ações concretas por parte do governo. O Forte da Ponta da Bandeira continua de pé, embora não se saiba por quanto tempo. A resposta poderá depender das próximas marés e das decisões políticas.
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