O professor Virgílio Machado, docente da Universidade do Algarve (UAlg), vai apresentar o seu mais recente livro, Viagem ao Reino do Algarve, no próximo dia 19 de novembro (quarta-feira), às 17:30, na Biblioteca da Universidade do Algarve, em Faro.
A sessão terá lugar no Auditório Vermelho, situado no Edifício 9 da Faculdade de Economia, no Campus de Gambelas, e contará com a presença do reitor da UAlg, Paulo Águas, do vice-reitor e diretor da UAlg Editora, Nuno Bicho, e do historiador e professor universitário Vilhena Mesquita, que fará a apresentação da obra.
O POSTAL esteve à conversa com Virgílio Machado para conhecer melhor o livro e a inspiração por detrás desta viagem pela identidade e história do Algarve.
P – O que o levou a ensaiar sobre o livro Viagem ao Reino do Algarve? Porque este título?
R – Uma viagem é sempre uma experiência. Pode ser histórica, talvez mais turística. Que objetivos tive? Acima de tudo, um reforço de estima e de autoestima pelo Algarve, em especial, aos amantes do Algarve, sejam eles algarvios ou não. Levantar de novo a memória, o esplendor, o orgulho por esta região ter tido alguma forma de especificidade, identidade ou autonomia política. Explicar o porquê dessa identidade em Reino. E porque a mesma teve uma longevidade multisecular. São tudo dúvidas, desafios, até mesmo mistérios que induzem alguém da Ciência, como eu, a tentar explicá-los. O resultado está neste livro.

P – O livro é uma retrospetiva histórica ou toca aspetos da contemporaneidade?
R – Os dois. Porque a geografia ajuda a explicá-los enquanto continuidade histórica. E o património, seja ele natural ou construído pelo Homem, também. É importante considerar que as razões que estiveram na base desta porção de território ter sido um Reino também estão na base do Algarve ter sido a primeira região turística de Portugal no século XX. Em ambos os casos, alavancaram-se especificidades institucionais e formas de desenvolvimento próprias que ligaram o Algarve ao mundo e lhe permitiram constituir-se como identidade.
P – Que conclusão ou conclusões chegou? O Algarve foi mesmo um Reino? Ou algo meramente nominativo? Simbólico?
R – Os cientistas, os que se interessaram pelo Algarve, sejam da área económica, política, histórica, sentiram sempre dificuldade em tratar essa questão. Essencialmente, por falta de fontes escritas, documentos ou outro tipo de provas de reconstituição histórica. Começo por abordar a expressão “Reino” e concluir pela sua contextualização, enquanto construção política medieval cristã. São diferentes das “taifas”, conhecidas formas de chefatura árabe peninsular nos séculos XI-XIII. Inserir as duas formas de organização política à mesma luz, com as mesmas ferramentas e óculos de investigação conduz a forte enviesamento. Há que recorrer a uma leitura mais geral e transversal europeia e mediterrânica naqueles séculos e concluir por grande fragmentação política europeia, com as cidades-estado italianas a Sul e a Liga Hanseática a Norte e o desmembramento do Califado de Córdova. Conhecemos com exatidão as causas dessa fragmentação e da coesão interna das novas unidades políticas e só precisamos de as transpor para o Algarve. O livro explica as razões de força dessa autonomia. O Reino do Algarve, após domínio cristão, seria uma construção a deixar ao cuidado dos reis de Portugal.
Razões de força e permanência histórica
P – São essas razões de força que explicam a manutenção do Reino do Algarve até ao século XX?
R – Sem dúvida. Pelo poder combinado da geografia e da história ao longo dos séculos. O Reino do Algarve faz parte da explicação da manutenção de Portugal como Estado independente ao longo da sua história política. O Algarve como antecâmara, arco de acesso, fímbria do Mediterrâneo, nas palavras do saudoso geógrafo Orlando Ribeiro, permitiu o fluxo e refluxo na ligação de Portugal entre aquele mar e o Atlântico e bem assim a expansão para África, Brasil e Oriente. Os Algarves de Além-Mar fazem parte de um ideário político alternativo à designação de Império que os sucessivos reis de Portugal nunca quiseram adotar. As razões estão explicadas no livro.
P – Quem convidou para prefaciar a obra e porquê.
R – A obra tem o prefácio de José Ribeiro e Castro, Presidente da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. Estudioso e publicador de obras e textos sobre História de Portugal. Como eu, também Licenciado em Direito. As escolhas e vontades são simbólicas. Pretende-se exaltar a história política do Reino do Algarve como parte integrante, de pleno direito, prestígio e dignidade da história política de Portugal. Conexionar as partes com o todo. Explicar Portugal não como uma fusão, mas uma junção de culturas, atlânticas e mediterrânicas. A heráldica da bandeira nacional ajuda a essa compreensão. É defendido, na linha dos mais prestigiados estudiosos, que o Reino do Algarve está representado pelos sete castelos em orla e bordadura às armas de Portugal. O livro explora os seus significados simbólicos para o Reino do Algarve.
Um prolongamento natural de “Portugal Geopolítico”
P – Este é um trabalho que vem na linha do anterior livro “Portugal Geopolítico-História de uma Identidade” Há pontos de contacto?
R – Sim. Todos os pontos de contacto possíveis. Geopolítica, História, Território, Identidade, Geografia. O Reino do Algarve é o mais prestigiado estudo de caso geopolítico da História de Portugal. Convido os leitores à leitura dos dois livros para perceberem a articulação, a sequência e a integração dos dois Reinos na identidade geopolítica portuguesa. O livro está acessível em https://www.atlanticbooks.pt/portugal-geopoli-tico-histo-ria-de-uma-identidade.
P – Como poderão os leitores adquirir este livro?
R – Convidando os leitores a estarem presentes nas apresentações em Faro, no dia 19 de novembro às 17.30 no Auditório da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve e também no seu Polo de Portimão às 18.00 do dia 10 de dezembro. Se sobrarem exemplares (a edição é limitada) poderão mais tarde adquirir pelo site da Universidade do Algarve Editora em https://www.ualg.pt/ualg-editora-0 ou simplesmente através de um pedido por correio eletrónico para [email protected].
P – Porque deverá um amante do Algarve comprar o livro Viagem ao Reino do Algarve?
R – Faço um convite a um potencial interessado e futuro estimado leitor. Que percorra os sete castelos do Reino do Algarve projetados na bandeira nacional. Aos castelos das 5 cidades históricas do Algarve, junte Sagres e Castro Marim. Uma vez neles, dirija o seu olhar com uma bússola para os 4 pontos cardeais de orientação. Procure pautas, similitudes, homologias e perceberá porque o Algarve foi Reino. A identidade será projetada na sua biblioteca pessoal. Ficará depositário de uma memória política digna e prestigiante que levou Portugal a reconhecer a importância do Algarve de Aquém-Mar e de projeção internacional nos Algarves de Além-Mar. É uma obra que lhe vai aportar orgulho, memória e património de valor universal.

Viagem ao Reino do Algarve
Figura 5 do livro
Mapa de Carlos de Grandprés (1729-1736) encomendado pelo rei D. João V

Explicação: As origens do Reyno do Algarve. Rios, ribeiras, estuários, rias, caudais de água, recortes abrigados de costa marítima. O fim do arco mediterrânico antes do sentido perpendicular do Atlântico. Montanhas próximas com madeira para embarcações de navios e água potável. Pesca e sal. Séculos XI-XIII. Estabilidade climática. Agricultura e remonetarização da economia. Inserção num espaço periférico de descentralização política e militar após o desmembramento do Califado de Córdova. As taifas do Algarve e sua abertura política e comercial. Autonomia política como realidade de rede proporcionada pela geografia.
Figura 1 do livro
Os sete castelos do Reino do Algarve nas armas de Portugal

Explicação: Os sete castelos como símbolo do Reino do Algarve nas armas de Portugal. O prestígio para Portugal com a conquista do Reino do Algarve. O Tratado de Badajoz de 1267 como acontecimento geopolítico único na História de Portugal O significado de orla, periferia, bordadura, fronteira essencial que o Reino do Algarve constituiu para Portugal e seus significados. Força, Fortaleza, Fé associados à expansão para Sul. A escolha do número sete como número sagrado da totalidade cristã que o Reino de Portugal emprestou ao Reino do Algarve após Manuel I. Séculos XV e XVI- Algarves de Além-Mar.
Figura 8 do livro
A cruz de Portugal e o Castelo de Silves

O castelo e a cruz de Portugal que Manuel I entregou a Silves, aquando da sua visita à cidade em 1499. Um marco do Reino de Portugal no Reino do Algarve. Silves, primeira capital, inspiradora das cartas de foral para as restantes urbes do Reino do Algarve. A configuração urbana muçulmana da cidade, única em Portugal, como retrato do modelo de governação indireta que o Reino de Portugal iria consagrar para o Reino do Algarve e que se manteve durante vários séculos.
Figura 11 do livro
O primeiro brasão de armas do Reino do Algarve
(Arco Triunfal do Imperador Maximiliano- 1513)

Tendo como iconógrafo o pintor Dürer. As cores azul e dourado refletem a importância do mar e hidrologia do Algarve e o ouro, riqueza do Norte de África. A expansão portuguesa aí já decorria com fé e força militar. A dimensão axial e esquartelada do escudo de armas do Reino do Algarve, colocando em simetria reis cristãos e chefes muçulmanos como única na representação imperial. O respeito pela ancestralidade árabe do Reino do Algarve como fórmula estratégica e simbólica da expansão imperial do Reino de Portugal. Séculos XV e XVI- Algarves de Além-Mar.
Figura 14 do livro
Baluartes e portas de Lagos
sobre planta de 1618 de Alexandre Massai)

Lagos é a cidade império da expansão portuguesa nos séculos XV a XVII nos Algarves de Além-Mar. Fortes, fortalezas, fortins, muralhas e portas são o património de hoje da antiga estrutura militar do Reino do Algarve. A explicação dos significados das portas (ex: Portugal, Dízima, Castelo, Paiol) reconstitui a explicação do Reino do Algarve como estrutura especial de governo de armas, única no quadro peninsular. Acompanhada de preocupações tributárias (Dizima) ou comerciais (Cais) existia um Almoxarifado do Algarve. O domínio filipino nos séculos XVI e XVII e reforço militar face às ameaças crescentes do Império Otomano. O Reino dos Algarves manteve seus brasões de armas autónomos nos vários Reinos de Espanha.
Figura 28 do livro
Vila Real de Santo António (vista aérea)

A micro-baixa Pombalina do Reino do Algarve. Uma Vila Real de Portugal no Algarve. Século XVIII. Afirmação do planeamento racional, ordenado e simétrico do urbanismo. O traçado das ruas na combinação dos reinos de Portugal e do Algarve. A colocação junto à fronteira com Espanha, como fachada exposta de uma territorialidade e soberania portuguesas, de vigilância atenta nas fronteiras. Tavira como capital do governo de armas do Reino do Algarve e que terminaria com a vitória liberal na guerra civil oitocentista.
Figura 29 do livro
O Promontório de Sagres
(Explicação simbólica final do livro)

Sagres é um imaginário oceânico de Portugal. Situado no reino do Algarve enquanto promontório sagrado (sacrum, para Sagres) é o melhor símbolo para a exaltação do Algarve como monumento natural único. De Reino projetado no mar (de Aquém e Além). Guardando segredos e mistérios profundos. Convocando a sua majestosidade para explorar todos os limites longínquos, orlas exteriores e bordaduras que simbolizam o Algarve como fronteira permanentemente reelaborada, reconstruída e reinventada no mar. Em África, no Brasil, no Oriente, quem sabe, onde tenha sido construído o maior feito da História de Portugal para o Mundo: os Descobrimentos! É ali, em Sagres, que são simbolizados. Que alegria para o Reino do Algarve!
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