Serviços de ecossistema são as contribuições diretas e indiretas que os ecossistemas proporcionam para o bem-estar humano, e têm impacto na nossa sobrevivência e qualidade de vida. A natureza desde sempre proporcionou às populações benefícios e funções essenciais à sua sobrevivência. De uma forma simples, esta frase define o que são os Serviços do Ecossistema. Esta designação relativamente recente, surge pela necessidade de atribuir a estes serviços da natureza um valor económico, de forma a facilitar a comparação com outras atividades industriais, sobre os potenciais benefícios económicos para o mesmo território. A quantificação dos serviços do ecossistema é por isso uma importante ferramenta na gestão de território. Estes serviços, também conhecidos por serviços ambientais ou ecológicos, podem ser agrupados em serviços de aprovisionamento (ex: produção de alimento, recursos genéticos), de regulação (ex: ciclo hidrológico, sequestro e armazenamento de carbono, polinização), de suporte (ex. reciclagem de nutrientes, formação de solo) ou culturais (ex: recreio).
A aquacultura multitrófica integrada (IMTA na língua inglesa) é uma produção sustentável que engloba algumas das funções atribuídas aos serviços do ecossistema, nomeadamente produz alimento (peixes, bivalves, algas, e outros organismos), as algas (micro- e/ou macro-) do sistema fazem a reciclagem dos nutrientes, resultantes da excreção dos peixes ou de outras origens, sendo que as algas ainda utilizam o dióxido de carbono e libertam oxigénio, desempenhando uma função reguladora na qualidade da água. Para além disso nos habitats costeiros a existência de zonas húmidas de baixa profundidade proporciona alimento e descanso às aves no decorrer das suas migrações. Além disso, estas áreas são um importante espaço de lazer e recreio e melhoram a qualidade estética da paisagem.
O potencial de capitalização destes serviços proporcionados por estas áreas, a produção para consumo humano, ou para utilização em outras indústrias (ex: extractos bioactivos das algas) ou atividades de turismo ornitológico vinculados a explorações aquícolas sustentáveis, consiste numa importante ferramenta para a gestão destas áreas. Pode ainda viabilizar a re-habilitação e valorização de áreas artificializadas degradadas nas Áreas Protegidas da região do Alentejo, Algarve e Andaluzia, promovendo a conservação da sua biodiversidade.
Compreender como as atividades económicas, como a aquacultura e a salicultura, localizadas em território da Rede Natura 2000, contribuem para os serviços do ecossistema é um dos objectivos do projecto AQUA&AMBI II. A quantificação dos fluxos de carbono, a avaliação da biodiversidade, sobretudo da avifauna, e, a avaliação de outros aspectos do capital natural, são algumas das medidas para quantificar o potencial destas áreas para os serviços do ecossistema.
A dinâmica de carbono num sistema é algo extremamente complexo de quantificar, pelas inúmeras interacções entre os vários componentes do sistema. Uma forma de avaliar a contribuição de diferentes atividades económicas é medir os fluxos dos gases de estufa, como o carbono e o metano, entre vários componentes do sistema. As equipas espanholas da Universiade de Cádiz (UCA) e do Instituto de Ciências Marinas de Andalucia-Consejo Superior de Investigacion Cientifica (ICMA-CSIC), têm desenvolvido acções para determinar os balanços físicos de carbono ao longo das diferentes estações do ano, em algumas atividades económicas da Baía de Cádiz. Nomeadamente, numa salicultura artesanal, numa salicultura industrial, numa aquacultura extensiva melhorada e num reservatório de uma salina. Em Portugal, a metodologia foi adaptada pela equipa do IPMA, em conjunto com a equipa do grupo ALGAE do CCMAR. Para este território, pretendeu-se quantificar os fluxos de gases de estufa em tanques de terra da EPPO com diferentes regimes de produção em aquacultura, nomeadamente o habitual sistema de policultivo (várias espécies de peixes) e o sistema de cultivo multitrófico integrado (diferentes espécies: peixes, ostras, algas, etc.), ao longo das diferentes estações do ano.
Com este estudo pretende-se obter informação que permita realçar o potencial que as atividades económicas sustentáveis em território da Rede Natura 2000 têm no futuro, como forma de gerar uma economia de serviços (neste caso centrada em serviços de carbono), nas populações naturais de peixes, crustáceos e bivalves e nos usos recreativos associados ao turismo ornitológico. Para além disso pretende-se com este estudo demonstrar que atividades produtivas sustentáveis podem coexistir em áreas protegidas, contribuindo e respeitando a biodiversidade.
- Links relacionados:
- https://www.aquaambi-poctep.eu/
- https://www.ipma.pt/pt/pescas/eppo/
- https://www.ccmar.ualg.pt/tags/algae