Faltam empresários na economia? O empreendedorismo ensina-se e aprende-se ou é inato? Vale a pena apostar na educação para o empreendedorismo quando o desemprego jovem é bastante elevado? Questões pertinentes que merecem uma reflexão séria, mas de preferência atenta ao futuro de tantos jovens portugueses com talento e potencial, que apenas precisam de uma oportunidade para serem bem-sucedidos.
É evidente que a minha experiência de 20 anos a trabalhar na área do Empreendedorismo, quatro dos quais como docente universitário nesse domínio, me conferem um campo de observação privilegiado e pensamento estruturado sobre o assunto. Vamos então tentar refletir sobre as questões acima assinaladas.
Primeiro, é uma evidência que faltam empresários na economia portuguesa, sobretudo empreendedores capazes de introduzir inovações nos processos produtivos e desenvolver empresas que produzam bens transacionáveis quer através de alianças estratégicas com outras empresas quer de modo próprio. Empresários que se afirmem como figura chave de desenvolvimento económico (Schumpeter, 1934), e não baseando as suas práticas em comportamentos oportunísticos e especulativos sem criação de valor para as empresas e sociedade.
Segundo, numa economia cada vez mais global e em mudança, baseada no risco e na incerteza, não se pode acreditar na visão fatalista de que o empreendedorismo é apenas inato e que numa sociedade baseada no conhecimento, a criação de empresas está destinada apenas a uma elite de indivíduos com determinados traços de personalidade. Há uma dose de inato no empreendedor, mas a boa notícia é que a disciplina do empreendedorismo pode ser aprendida como justifica Peter Drucker (1993) para quem os empreendedores são feitos, não nascem, ao afirmar: ”Muito do que se ouve sobre empreendedorismo está errado. Não é nada de mágico; não é mistério; e não tem nada a ver com genes. É uma disciplina e, como uma disciplina, pode ser aprendida”. A notícia menos boa é que há muita resistência à mudança, em consequência da evolução histórica e política do País e fortes barreiras à entrada no empreendedorismo. Mudem-se as condições estruturais e a mentalidade da maioria dos dirigentes e logo os resultados serão outros.
Terceiro, a educação para o empreendedorismo tão descurada na sociedade portuguesa apesar de algumas iniciativas louváveis de universidades e organizações não governamentais é uma aposta que tem que ser definitivamente assumida com um esforço empenhado e duradouro no tempo. Claro que tudo o que mexe com interesses corporativos instalados é difícil. Mas fica evidente a necessidade de um novo paradigma educacional, estimulante do saber-empreender e do aprender fazendo, competências nucleares para a criação de empresas autossustentáveis e independentes, decisivas para o crescimento económico, competitividade e emprego.