“Não existe ainda qualquer evidência científica que sugira que esta sublinhagem da Delta seja mais transmissível ou coloque sequer em perigo a eficácia das vacinas. De facto, nas últimas semanas têm surgido vários exemplos da emergência de novas combinações de mutações, mas que acabam por não ter impacto epidemiológico”, segundo o investigador do INSA, em declarações à Lusa.
Em Portugal não são ainda mais do que 10 casos da nova sublinhagem AY.4.2, espalhados nas últimas semanas, e alguns deles têm ligação ao Reino Unido, onde apresenta alguma relevância epidemiológica.
O coordenador do Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 em Portugal adiantou, citando informação facultada pelas autoridades de saúde, que alguns destes casos têm “um historial de viagem ou um ‘link’ epidemiológico” ligado ao Reino Unido.
Segundo o microbiologista, “é normal” que devido ao turismo e ao fluxo de pessoas entre o Reino Unido e Portugal se continue a detetar alguns casos, mas ressalvou que é “muito cedo” para restrições de viagens ou outras medidas.
Como a sublinhagem AY.4.2 está a ter “uma expressão significativa” no Reino Unido e a crescer em frequência “semana após semana”, os investigadores do INSA tentaram perceber se estava a acontecer o mesmo em Portugal e concluíram que o panorama não é replicado no país.
“Não podemos falar de uma tendência crescente, mas sim já detetámos casos cá, tal como outros países também já detetaram, vamos estar atentos naturalmente para perceber se por acaso essa sublinhagem aumenta a sua frequência”, disse o investigador do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA.
Explicou ainda que o que se está a passar é que a comunidade científica se apercebeu, dado que a variante Delta “já há cinco, seis meses que domina o mundo inteiro”, que “é a própria Delta que está a evoluir”.
“Estamos a falar da variante Delta que aparece com uma mutação aqui, outra mutação ali, e sempre que essas diferenças sejam significativas, de forma a que o vírus seja diferente o suficiente e tenha algum impacto epidemiológico, elas são então definidas como novas sublinhagens dentro da variante Delta”, explicou, adiantando que já foram descritas 30 sublinhagens.
De acordo com o investigador, ainda não se sabe se esta nova sublinhagem aumenta a transmissibilidade, se envolve a fuga ao sistema imunitário e pode pôr em perigo de alguma forma as vacinas.
“É tudo muito, muito, muito cedo”, salientou, referindo que vai ter de se esperar “várias semanas para perceber se o impacto epidemiológico que parece estar a ter no Reino Unido tem reflexos também nos outros países ou não”.
Contudo, observou, estes “pequeninos alertas” já foram dados noutras semanas com outras “pseudovariantes” que apareceram e que depois não deram em nada.
“Acho que por agora podemos estar descontraídos, mas vamos estar naturalmente atentos ao evoluir da situação”, reiterou.
João Paulo Gomes sublinhou que “Portugal está numa situação muito boa”.
“Acima de tudo temos uma taxa de vacinação muitíssimo boa nas crianças acima dos 12 anos, coisa que não acontece na maior parte dos outros países europeus, o que faz com que isso nos dê algum conforto em termos de pressão do Serviço Nacional de Saúde e os resultados estão à vista”, observou.
Mesmo com o relaxamento das medidas e a máscara ter deixado de ser obrigatória na maior parte dos locais, não se está a verificar “uma explosão de casos”, nem um aumento significativo nos internamentos.
“Tendo em conta que temos uma ótima taxa de vacinação e que agora Portugal sugeriu a terceira dose para os grupos mais vulneráveis penso que podemos encarar o inverno, não vou dizer com tranquilidade, mas com algum otimismo porque não há razões para que as coisas corram para o mal”, declarou João Paulo Gomes.
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