Questionada pela Lusa sobre as críticas da Associação Pró Barrocal Algarvio (PROBAAL), que acusou as entidades envolvidas no projeto, como a Câmara de Tavira, de “falta de transparência”, a Iberdrola garantiu estar a trabalhar “no mais estrito cumprimento do caderno de encargos apresentado pelo Estado português”, depois de ganhar um leilão para a área em causa em 2020.
A empresa energética adiantou ainda que o projeto da central solar “encontra-se em fase de elaboração de estudo de impacte ambiental” e será sujeito a uma “caracterização completa da situação atual da área onde se localiza”, que “abrangerá diferentes fatores ambientais – biofísicos, sociais e culturais”.
“Assenta ainda em estudos de base detalhados, que suportam também o projeto, e que permitem ter um conhecimento detalhado da área, com o objetivo de consubstanciar os impactes associados. Entre estes fatores estão geologia e solos, recursos hídricos, biodiversidade, paisagem, património cultural e socioeconomia”, acrescentou a empresa.
A Iberdrola fez estes esclarecimentos após ter sido confrontada pela Lusa com as críticas da PROBAAL, que acusou as entidades envolvidas no projeto, como a Câmara de Tavira, de “falta de transparência” e de estarem a colocar em causa uma área de Reserva Ecológica Nacional (REN), onde se encontra também um dos principais aquíferos do sotavento (este) do Algarve.
Sofia Palmeiro, da PROBAAL, disse à Lusa que a associação “compreende a importância das energias renováveis para Portugal e o futuro do planeta”, mas apelou para que “estas não sejam implementadas a qualquer custo” e em áreas onde os valores ambientais possam ficar comprometidos.
Ainda segundo a responsável, o projeto só poderia avançar numa área de REN se fosse “provada a utilidade pública”, condição que a PROBAAL assegura “não se aplicar” neste caso, porque iria desmatar uma extensa área onde existem “azinheiras, espécie arbórea protegida”, retirar as pedras do terreno e colocar em causa a sustentabilidade do aquífero.
“Como é que vamos construir um parque solar deste tamanho, destruirmos aqui 180 hectares de vegetação, com um sistema organizado e perfeito para a recolha de água que se infiltra e vai abastecer o aquífero”, questionou Sofia Palmeiro, frisando que a execução destes trabalhos impediria a “infiltração lenta” da água, originaria “inundações” em superfície e “a perda deste bem escasso para o mar”.
A porta-voz da PROBAAL criticou ainda a “falta de transparência” com que se tem deparado nos pedidos de informação que tem feito às entidades oficiais sobre a matéria e apelou a todos os envolvidos para que optem por áreas onde o impacto deste tipo de projetos seja menor e não afete áreas classificadas ou fontes de água subterrânea.
“Não é a destruir 180 hectares de massa verde de uma REN, em cima de um aquífero, que se vai corresponder às ideias e aos objetivos da mitigação das alterações climáticas, da poupança de energia e por aí fora. Isto é completamente um tiro nos pés”, argumentou.
Ainda de acordo com a Iberdrola, “os estudos específicos de base em desenvolvimento tomarão todo o tempo necessário para garantir que o projeto é devidamente desenhado” e tem em conta “o máximo de medidas de minimização dos impactes ambientais, medidas de compensação e gestão ambiental”.
A Lusa também questionou a Câmara de Tavira sobre o projeto e as críticas da associação, mas não obteve resposta.